Capítulo 3 - Headspace

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Baekhyun POV

Vítima. Eu sempre odiei essa palavra mais do que odiava minha própria vida. Criado onde fui criado, e levado por circunstâncias as mãos de homens que até o próprio inferno teria medo, nunca pude conhecer algo além de dor e sofrimento, e todo o amor que provei até hoje tinha por trás de suas cores suaves o doce brilho do veneno da mentira.

Uma vez, quando eu tinha 7 anos de idade e ainda acreditava que haviam finais felizes para garotos como eu, lembro de brincar com minha mãe e dizer que meu maior sonho era que um dia vivesse em uma casa tão grande que ela poderia me deixar sozinho brincando sem se preocupar que eu fosse a rua e alguma pessoa ruim me encontrasse.

No outro ano, quando ela morreu e meu pai me vendeu como uma dívida de jogo, eu me toquei que sonhos não existiam e, finais felizes, menos ainda.

"Por favor se vire" uma das enfermeiras pediu enquanto a outra disparava o flash de novo e de novo contra meu corpo desnudo. Obedecendo a ordem ao passo que uma outra se aproximava com uma régua e a pressionava contra algumas feridas que eu tinha em destaque a tantos roxos para que a da máquina registrasse. "7 centímetros, okay..." a da câmera murmurou enquanto mexia em algo na câmera. Eu continuava de cabeça baixa fingindo que estava alheio a tudo aquilo, pois podia sentir o estigma de vítima perseguindo a cada flash e olhar que as mulheres trocavam.

Se eu fosse uma mulher, isso seria "compreensível" em suas mentes machistas e fechadas, mas se um garoto era estu... abusado... ele havia pedido por isso, era um maldito homossexual ou seja lá como elas deveriam estar falando nesse momento.

Ficamos naquele show de horrores onde eu era o espécime estudado, até que finalmente as mulheres se afastaram e a mais velha entre elas me chamou para ir até uma sala "particular". Meu estômago se contorceu apenas com a menção da palavra, mas a segui sem pensar muito, afinal sabia que se refletisse por mais alguns segundos, as chances de eu sair correndo ou entrar em pânico eram muito altas.

Quando chegamos a um pequeno consultório e eu avistei os apoiadores de pernas, meu estômago se contorceu de mil formas diferentes, pois mesmo que não soubesse a utilidade desse equipamento para fins médicos, já havia visto o que ele realizava em atos sexuais e minhas entranhas ardiam apenas relembrando isso.

"Precisamos fazer um teste para estupro, você aceita nos deixar realizar o exame?" foi a pergunta.

Eu queria gritar não, queria gritar por socorro, queria fazer qualquer coisa que me afastasse daquele lugar que me lembrava tanto do terror que eu enfrentara quando pequeno, mas vendo a pena estampada na cara da mulher ao notar meu medo, e as vozes no meu interior que gritavam que eu seria um fraco por aos 25 anos estar tão assustado com uma sala minúscula e uma idosa que a muito tempo perdera sua força para algo fora falar mal dos outros.

Respirando fundo, acenei, sem emitir nenhuma palavra e deitei naquela maca enquanto quase arrancava meu lábio com tamanha a força que empregava para segurar o pânico que crescia em mim junto a sequência infindável de imagens que os últimos dias traziam de volta à vida.

Eu não devia estar naquela casa, nunca deveria ter sido mandado para lá. Como brinquedo favorito de um dos líderes, por anos eu apenas "satisfiz" alguns desejos sórdidos dele e garanti que ficava fora do caminho quando seus ataques de fúria vinham. Agi bem por tantos anos, que perdi a conta dos dias que passavam fora de lá, parei de me importar com o que rolavam nas poucas vezes, porque vendo as conversas que eles tinham sobre garotos vendidos, eu certamente havia tido um final melhor que a maioria deles...

Até aquela semana...

(...)

Horas se passaram antes que eu pudesse finalmente voltar ao meu quarto. Faziam mais de 16 horas, ou assim pensava eu, desde que a polícia havia chegado no prédio e aquele detetive tinha me achado...

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