Sheep in a wolf's clothing

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Segundo Rei POV

Escritores são como deuses em um mundo onde nem todos os humanos são permitidos a alcançar, pois muitas vezes, se tornam tão dependentes de seus sentidos básicos que esquecem o primordial que deu origem a eles. A imaginação.

Mantida por tantos anos sob um manto de infantilidade e inutilidade, esse bem tão precioso da raça humana foi jogado ao relento pelos seres que com o tempo envelheceram e assim pereceu por anos, até que em um belo dia, algum ser dotado de extrema inteligência a avistou, e ao invés de imitar seus iguais jogando o pobre dom a mais anos de estagnação, se apropriou dele e fez um uso próprio para si, criando o que hoje denominamos "escrita".

Diferentemente dos meus "irmãos", aos quais não possuo nem mesmo o direito de chamar assim, sempre fui apaixonado por livros e a magia que as palavras podiam criar em torno de um simples parágrafo, as vezes até mesmo de uma simples palavra. Fosse em histórias fantasiosas ou teorias meticulosas, a leitura foi um hábito que sempre cultivei desde pequeno, e talvez por causa disso, me tornei condenado a maldição de sonhar voos maiores do que minha realidade permitia.

E talvez por isso, esteja tão condenado a cair tão rápido deste frágil castelo de cartas que me aprisionei dentro.

Assim já dizia H. P. Lovecraft "Nem a morte, nem a fatalidade, nem a ansiedade, podem causar o insuportável desespero que resulta de perder a própria identidade." E afinal de contas, quem sou eu?

Muitos diriam um deus, outros viriam a afirmar que tal prerrogativa pertence apenas aos seres do inferno, mas no final do dia, todos iriam entrar em consenso sobre uma única coisa a qual tinham certeza, eu em tese sou humano. Ou ao menos já fui um dia.

Sabe, a ideia de humanidade e bondade andam tão intrinsecamente conectadas quanto a validação da inocência de um homem que sai de seu lar armado e sem querer assassina seu rival na rua, após um "inofensivo" acesso de raiva.

As pessoas gostam de se prender a ilusão de que todos são bons e que os monstros se escondem sob as sombras, e as vezes podem até estar certos, mas se viver uma vida dupla me ensinou algo, é que até mesmo o mais puro e inocente dos homens tem um lado obscuro ao qual ele mantém longe das pessoas, e que em seus dias mais loucos deseja abominações que nem o próprio Lovecraft conhecido por sua aficção por aberrações ousaria descrever.

Seríamos nós a definição do que um dia a bíblia apelidou de demônios?

Talvez sim, talvez não. Creio que mesmo que deus tenha existido algum dia, ele desistiu de nós a mais tempo do que os supostos apóstolos anunciaram sua presença. Ou você realmente acredita que dentre tantos bilhões de galáxias, uma suposta divindade gastaria seu tempo com seres que profanam qualquer boa intenção que ele um dia teve? Óbvio que não, nem eu mesmo ficaria aqui se tivesse alguma opção além disso.

(...)

Mas enfim, chega de desculpas ou enrolações desnecessárias, pois por mais que eu queira explicar minhas razões, dúvido que de todas as traições envolvidas nessa história a minha será a escolhida para receber o seu perdão, ou o de qualquer um, inclusive meu.

Acho que nesse momento o que ronda em torno da mente de todos vocês são suposições das mais variadas sobre minha identidade. Alguns tolos apostam no inocente Yixing que apareceu do nada e com seus gestos doces ganhou o coração do belo detetive, já outros mais intrigados com a falta de protagonismo do Hacker da equipe, se questionam na calada da noite se ele não poderia ser o segundo rei do império mais falido do mundo... Como se entrar nesse inferno fosse um passo simples que qualquer um pudesse tomar.

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⏰ Última atualização: Sep 09, 2018 ⏰

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