Não importava o quanto pedia dona Sueli ainda não mudava a ideia de eu ir para a festa, e me apresenta para toda a alcatéia. Depois de discutir, ela deixou uma bandeja com comida ao lado da minha cama e foi embora me deixando sozinha naquele quarto.Não sei o porquê dela deixar aquela comida ali, se eu já tinha perdido a fome faz tempo. Eu não queria continuar a pensar mais sobre a festa, porém, se tornava impossível de ignorar quando o nervosismo estava quase me matando por dentro. Só de imaginar em estar no meio de tantas pessoas que não paravam de olhar ou criticar sinto vontade de procurar um buraco e me esconder dentro dele para sempre.
O principal motivo para estar assim, foi quando descobri que terei que me transformar na frente de todos, porque irei representar a força do alfa. Eu ainda lembro muito bem como as pessoas da escola ficaram quando me transformei enquanto lutava com a Catarina, aquela loira oxigenada. Eu ainda sinto aqueles olhares de choque e medo quando tentavam me invitar quando eu aproximava. E mesmo que eu não ligasse para isso, ainda não quero ser julgado como filha de bruxa novamente.
Infelizmente, não foi a única vez que fui julgado. Lembro muito bem quando eu morava no orfanato, a Madre Rose e Madre Maria me chamavam de monstro ou demônio, já na escola que eu estudava, eu era a estranha. O engraçado, era que aqui onde todos eram lobisomens, ainda me olhavam estranho e me chamavam com alguns apelidos ruins.
Droga. Eu não sabia que era tão difícil estar em um lugar em que eu possa ficar sem ser criticada. Mas não dá para eu mudar quem eu sou, e mesmo que desse, eu ainda não mudaria o meu jeito. Não tem problema se sou aceita ou não por eles, sou eu que devo aceitar a mim mesmo.
Ana...
A voz da Malu ecoou na minha cabeça o que me surpreendeu.
Malu?
Estou aqui Ana! _Me respondeu parecendo feliz.
Finalmente pude falar com você. Senti tanta saudade...
Até que fim fiquei feliz e aliviada com a presença da Malu. Sem ela, que foi a minha parceira por anos, pensei que não poderia mais seguir em frente.
Eu sei, eu senti a mesma coisa. Mas eu não podia fazer nada por causa o bloqueio.
Eu não entendo Malu, se o bloqueio que era apenas para conter o seu poder e a sua presença, como você não conseguia mais se comunicar comigo, se a anos já fazia isso?
Eu não sei direito, mas parece que o despertar do meu poder, não pode apenas prejudicar os outros, como também a mim mesma. Sabe aquele sonho que você teve Ana?
Da parte que você quase me devora viva?
Só de relembrar daquele sonho já me deixava cheia de calafrios.
Sim, aquele não era eu, mas o meu poder que tomou forma de mim. Ana, aquilo era tão forte que eu não sabia como controlar, parecia que ele que me controlava. Eu tive medo...
Eu também. Eu respondi temerosa.
--Ana? _ a dona Sueli apareceu novamente na porta e se aproximou até na minha cama. Com a sua chegada eu tive que encerrar a minha conversa com a Malu. Sueli sentou-se ao meu lado, olhou para a comida que nem eu tinha tocado e suspirou.
--Desculpa, eu estava sem fome. _ falei antes mesmo de ela começar a falar, e agora que eu estava mais calma, fiquei arrependida por deixar a comida de lado.