O coração acelerado, as mãos suando, pés inquietos. Parecia que eu estava passando pelo primeiro encontro novamente. Mas, dessa vez é tudo mais complicado.
Já eram quase oito horas, Brendon ainda estava comigo. O resto dos caras foram embora horas atrás, depois de estarem parcialmente curados da ressaca.
Brendon estava tentando me acalmar, me convencer de que ia ser uma conversa normal e que eu não teria que me preocupar, eu só teria que me lembrar do porquê as coisas estão assim.
Em outras palavras, tenho que me lembrar que ele não quer se casar e que não quer ter filhos. E isso é o que eu mais quero. Não posso recomeçar nessa relação que não tem futuro.
A campainha tocou, olhei ansioso pro Brendon que apenas fez um gesto para que eu me manter-se calmo.
Era só isso que eu tinha que fazer, me manter calmo. Fácil. Não é como se eu estivesse me reencontrando com meu ex namorado de oito anos, por quem eu sou perdidamente apaixonado.
Agora eu estou tudo, menos calmo.
Abri a porta depois de respirar fundo, e quando eu o vi, perdi meu fôlego.
O cabelo dele estava jogado para um lado, não estava usando chapéu como de costume, então eu podia ver o cabelo ruivo mais claramente. Os olhos, aquelas pérolas azuis que sempre me deixaram hipnotizado. Os lábios, suavemente avermelhados, em contraste com a palidez de sua pele.
Ele estava mais lindo do que nunca, e meu coração mais acelerado do que nunca.
"Oi"- ele sorriu sem jeito, e eu estava imóvel, sem expressão nenhuma. Felizmente, antes que o silêncio ficasse estranho, Brendon se manifestou.
"Pete, vou indo embora"- avisou enquanto pegava seu casaco-"Qualquer coisa me liga"- me deu um abraço rápido e passou reto por Patrick, sem nem mesmo trocar um olhar.
Brendon e eu éramos amigos de infância, e por incrível que pareça, mantivemos contato por todo esse tempo. E desde que eu conheci Patrick, ele se sentia substituído. Então, os dois nunca tiveram muita afinidade. Obviamente, quando nós terminamos, Brendon comprou o meu lado da história.
"Ele me odeia"- Patrick disse se virando para ver Brendon que entrava no carro, e saía da garagem. Apenas dei de ombros, e peguei minha jaqueta.
"Vamos"- foi tudo o que eu consegui dizer. Todas as outras coisas estavam travadas na minha garganta.
Ele me guiou até o carro, que estava estacionado do outro lado da rua. Era um sedan prata, e eu não pude evitar, mas notar que aquele não era o carro antigo dele.
"Carro novo?"- perguntei, parando para vê-lo melhor. Patrick riu, e concordou com a cabeça.
Quando entrei no veículo, ficou claro que era novo, o cheiro entregava. O banco era de couro, extremamente confortável. Eu realmente me senti no céu.
"Eu tive que comprar outro depois que o meu decidiu morrer"-
Apenas assenti e fechei os olhos em seguida, lutando pra conter meu nervosismo. O carro ligou e arrancou em seguida.
O restaurante estava lotado, como de costume. Mas, Patrick sendo o cara planejado que era, tinha feito uma reserva.
Fizemos todo o percurso em silêncio, acho que ele também não sabia o que dizer pra quebrar o gelo. Sentamos na mesa, e eu folheei o cardápio. Eu já sabia o que iria pedir, mas estava disfarçando. Patrick percebeu, já que sempre peço a mesma coisa quando venho nesse restaurante.
"Boa noite, casal"- o garçom cumprimentou, deixando o clima ainda mais desconfortável entre nós dois-"Já sabem o que vão pedir?"- nos perguntou, e antes que eu pudesse abrir a boca, ele respondeu por mim.
"Ele vai querer o macarrão penne com molho carbonara. Eu vou querer o hambúrguer vegetariano, com salada de acompanhamento"- Patrick disse para o garçom, que anotava no papel o nosso pedido-"E pra beber, vamos querer duas heinekens long neck"-
Oito anos, não é à toa que ele sabe decor o que eu quero. Quando me lembro de todas as vezes que viemos aqui, meu estômago embrulha. Foi nesse mesmo restaurante que ele me pediu em namoro.
O garçom se retirou, deixando nós dois sozinhos. Patrick tomava um gole de água toda vez que parecia que ia dizer algo. O silêncio já estava começando a me irritar, mas ele disse algo antes que eu pudesse reclamar.
"Sabe..."- começou-"Essas semanas sem você tem sido as semanas mais difíceis da minha vida"- disse, pude sentir a sinceridade em sua voz e partiu meu coração. Eu só quis abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mas não podia-"Eu sinto sua falta, Pete. Todo dia é uma tortura levantar da cama, pois eu sei que você não vai estar ali pra me dar um beijo de bom dia. E toda noite é longa e eu tenho insônia, porque você não está ali pra me dar um beijo de boa noite"- ele encarava a mesa, e eu podia ver os olhos dele se enchendo de lágrimas. Em toda a minha vida com ele, nunca o tinha visto chorar-"Eu te amo"- olhou nos meus olhos, tentando arrancar alguma reação de mim.
"Eu também te amo, Trick"- doeu chamá-lo assim, doeu dizer o apelido que eu inventei no nosso segundo encontro.
Me lembro de quando ele reclamou que odiava que chamassem ele de 'Pat', então eu sugeri 'Trick' e ele adorou, mas só eu podia chamar ele assim. Toda vez que outra pessoa chamava ele por isso, ele ignorava, e era engraçado.
"E eu sinto muito a sua falta"- confessei, e peguei na sua mão. Elas estavam macias, e por um tempo, nós apenas ficamos de mãos dadas.
Me inclinei sobre a mesa, e apoiei a cabeça em nossas mãos. Eu podia sentir o choro começar a vir, porque eu sabia o que eu teria que dizer em seguida. E quando eu segurei a mão dele, senti um círculo em volta de seu dedo. Ele ainda estava usando a aliança.
"Mas..."- tentei começar, mas as lágrimas me interromperam. Antes que eu notasse, estava soluçando. Ele soltou da minha mão, apenas pra sentar do meu lado e me abraçar. E o deixei, deixei ele me confortar.
Quando eu olhei pra cima, vi que ele também chorava, de olhos fechados. Pobre anjo, não consigo acreditar que eu o fiz chorar.
Continuei abraçado com ele por um tempo e observando suas feições. Até que ele abriu os olhos, e me viu. Passou a mão no meu cabelo, e colou nossas testas. Fechei meus olhos, e eu podia sentir sua respiração perigosamente próxima da minha.
"Eu não quero te deixar"- ele sussurrou baixinho pra mim.
E surpresa, eu também não queria deixá-lo.
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Down The Hill
General FictionNós éramos tudo que todos queriam. Nós tínhamos toda a intimidade. Nós tínhamos todo o carinho. Nós tínhamos todo o amor. Mas, tudo foi ladeira abaixo.