Aquele com o término

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"Eu não quero me casar, Pete"-
Então, era isso. O motivo das brigas constantes nos últimos dois meses. Nós nunca tínhamos tido uma discussão sequer, em oito anos de namoro e doze de amizade. Mas, agora parecia que o bate-boca tinha virado rotina. E para um casal que nem sonhava em levantar a voz um com o outro, os gritos se tornaram bem altos.
"Você não quer..."- as poucas palavras que eu consegui pronunciar saíram como um sussurro, não completei a frase, pois a dor que estava apertando meu peito não permitiu.
Aquilo não era mais uma briga.
Sabendo disso, tomei meu tempo para capturar as feições dele, tentando procurar algo que me dissesse o oposto de suas palavras.
Os lindos olhos azuis do meu namorado estavam vazios, aquela linda obra de arte que parecia ter sido pintada pelo próprio Van Gogh, tão vazia quanto meu coração naquele momento.
Sua pele pálida, da cor da lua, mergulhada em uma expressão triste. Na verdade, observando melhor, talvez ele estivesse com dó de mim.
O cabelo ruivo estava levemente bagunçado, pois pouco antes de eu chegar do trabalho, ele cochilava no sofá.
E apesar de tudo, eu olhava para ele e me via perdidamente apaixonado. Eu nunca quis ninguém além dele.
Ah, Patrick, por que foi fazer isso comigo?
"Eu não quero me casar. Não depois da Elisa"- falou, isso me deixou frustrado.
"Vocês tinham dezoito anos de idade! Eram crianças, e ela era uma vadia"- xinguei gritando, e ele manteve a calma, como sempre.
"Sempre achei que a primeira vez que eu casasse ia ser pra sempre, não posso fazer isso comigo de novo"- se explicou-"Nós moramos juntos, querido. Isso não é o suficiente pra você?"- me perguntou, e eu soube imediatamente a resposta. Mas, decidi refletir sobre ela um pouco.
Durante toda a minha vida, eu sonhei com o momento em que iria encontrar o homem certo pra mim. E com meus vinte e quatro anos, Patrick surgiu na minha vida. Me lembro como se fosse ontem.
Eu estava puto da vida por ter que passar a tarde com um jornalista no meu encalço, puxando meu saco. Mas, assim que o vi, com aquela fedora na cabeça, eu soube que não ia ser nem um pouco assim. Ele se aproximou de mim e perguntou timidamente sobre a minha formação, e então começou a fazer perguntas. Ao invés de respondê-las normalmente, comecei a flertar com ele, e eu gostei do jeito como ele corava quando eu o elogiava.
Sinto muita falta disso, de quando nossa paixão estava borbulhando. Quando éramos jovens e apaixonados. Ultimamente, esse amor parece ter evaporado, e tudo o que fazemos é discutir sobre a mesma coisa.
Eu quero casar, quero ter uma grande festa com flores e a marcha nupcial, quero ter um marido, quero filhos, eu quero um casamento. E Patrick, não.
"Eu estou com 36 anos de idade"- respirei fundo e segurei o choro-"Não posso perder outros oito anos com alguém que não quer as mesmas coisas que eu"- ele me olhou, sem esperanças.
"Você realmente acha que perdeu oito anos, Peter?"- me perguntou, parecendo magoado. Não tanto quanto eu, mas ainda sim.
Ele estava tentando me fazer sentir culpado, por ter outro sonho. Mas, eu não posso evitar querer o que eu quero.
"Nos últimos quatro anos"- tomei coragem para confessar, as lágrimas já não podiam mais ser contidas-"Esperei por um pedido"- ele enterrou a cabeça em suas mãos, se lamentando por não ter percebido antes.
"Pensei que queríamos a mesma coisa, você nunca comentou nada disso antes"- ele justificava, como se aquilo fosse fazer doer menos em mim.
"Nunca comentei nada?"- o olhei indignado-"Patrick, você em algum momento presta atenção em mim?"- perguntei retoricamente-"Todas as vezes que passávamos em frente a joalheria e eu parava na sessão de anéis de noivado, ou quando eu brincava com nossos afilhados e te olhava com brilho nos olhos"- eu disse, como se fosse a coisa mais óbvia de se reparar.
Ele olhou pra mim, com um olhar triste, eu o podia ver se afundando na própria mágoa. Assim como eu, Patrick sabia que não tinha mais volta.
"Você realmente não quer casar comigo?"- perguntei uma última vez, aquele fio de esperança ainda segurava firme.
"Eu não vou mudar de ideia"- afirmou.
Era isso. Era o fim.
O meu mundo desabou, e eu soube naquele momento que ninguém nunca chegaria aos pés de Patrick. Eu não seria capaz de amar nenhuma outra pessoa tão calorosamente quanto eu o amava. E eu poderia casar com qualquer um, que o sentimento vazio seria o mesmo. Ele nunca seria Patrick Martin Vaughn Stump.
"Nem eu"-

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