A noite estava chegando no fim, e por incrível que pareça, depois de todo aquele choro, nós nos divertimos um pouco.
Acredito que ambos esquecemos por um momento, esquecemos que estávamos separados e esquecemos que estávamos tristes por isso.
Ainda estava cedo quando saímos do restaurante, então decidimos ir no cinema. Escolhemos um filme qualquer, já que as opções não eram muito atrativas. E eu também estava com muito sono, provavelmente não iria prestar atenção no filme, só concordei pra passar mais tempo com ele.
Patrick sempre foi um crítico ativo durante os filmes, mas desta vez, ele estava quieto. Os olhos focados na grande tela, uma expressão branca em seu rosto, indecifrável. Os óculos refletiam a tela, e eu me peguei vendo o filme por ali algumas vezes, até que decidi fechar os olhos.
O filme rodava, eu podia ouvir as conversas e a trilha sonora de fundo enquanto relaxava meus olhos.
Meu coração disparou quando eu senti Patrick entrelaçar nossas mãos, pude sentir seu olhar em mim. Eu tentei permanecer calmo, como se meu ex não estivesse ali, segurando minha mão.
Em seguida, um peso caiu sobre meu ombro, e eu abri meus olhos, apenas para vê-lo com a cabeça apoiada e de olhos fechados.
A minha ação foi quase como um instinto e eu nem sequer pensei antes de fazê-la. Eu soltei minha mão da dele e coloquei meu braço em volta do pescoço dele, o puxando para perto.
Patrick se aconchegou ainda mais sob meus braços, segurou minha mão e começou a acariciá-la. Enquanto isso, eu passava minha outra mão na cabeça dele, e brincava com os fios ruivos.
Tudo estava tão certo, aquilo era tão certo. Nós dois éramos perfeitos um para o outro, era exatamente o que era pra ser. Só eu e ele, nos amando e sendo o típico casal clichê de sempre.
Nós ficamos na mesma posição até o fim do filme, e eu sei disso porque acordei com Patrick saindo debaixo dos meus braços enquanto as luzes acendiam.
"Ótimo filme ein"- eu disse meio sonolento, e pude ouvi-lo rir baixo e suavemente, e esse som me deixou com o peito apertado.
De alguma forma ou de outra, eu sabia que essa era a última vez que iria ouvir essa risada que eu tanto amo.
Esse pensamento me deixou imediatamente triste, e ele percebeu isso, e depois me olhou com uma expressão igualmente chateada.
"Me desculpe"- disse para mim, e não precisou especificar, pois eu sabia exatamente do que ele estava falando.
Ele se desculpou por pegar na minha mão, e se aconchegar sob meus braços. E acima de tudo, se desculpou por gostar tanto de fazer aquilo.
Não respondi, e fizemos o caminho até o estacionamento, onde entramos no carro dele e ele me levou até em casa.
Era por volta de duas horas da manhã quando Patrick embicou na porta da minha garagem. Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que eu me manifestei.
"Obrigado pelo jantar e pelo filme"- agradeci, com um sorriso forçado-"Eu me diverti muito"- o assegurei, mas ele não sorriu de volta e isso me preocupou.
Ele encostou a cabeça no volante e fechou os olhos firmemente, assim como ele sempre fazia para se impedir de chorar. Mas, então respirou fundo e me olhou.
"Como isso vai terminar, Peter?"- perguntou, um nó de formando na minha garganta conforme tentava pensar numa resposta-"Como podemos terminar algo tão bom?"-
Me senti à beira do choro, não queria voltar a encarar a dolorosa realidade.
"N-nós..."- comecei gaguejando-"Nós queremos coisas diferente Patrick"- tentei permanecer forte, como Brendon havia me dito para ficar.
"Eu sinto tanto a sua falta"- me disse, então estendendo o braço e pegando na minha mão-"Ninguém nunca vai se comparar a você, Pete. Não posso..."- engoliu o choro, mas foi incapacitado de prosseguir.
Eu o abracei, meu coração doía, tudo doía.
Senti seus lábios molhados e quentes contra minha bochecha, meu corpo inteiro tremeu sentindo o contato. Ele seguiu dando vários beijos descendo até minha boca.
Patrick se afastou um pouco, para olhar dentro dos meus olhos. Aquelas duas pérolas azuis, duas obras de Van Gogh, me olhando intensamente.
"Eu não..."- disse e fui para longe de seus braços-"Vai ser mais difícil ainda"- justifiquei, e ele protestou.
"Não pode ser mais difícil do que encarar o vazio que eu sinto ao acordar toda manhã e não te ver dormindo ao meu lado"- argumento-"Não é mais difícil do que ter que passar o dia sem um beijo seu"-ele já chorava nesse ponto-"Não será mais difícil do que viver sabendo que não estamos juntos"-
Eu mantive a calma, e me mantive forte. Limpei as lágrimas que escorriam incessantemente dos olhos do meu ex namorado.
"A saudade que eu sinto, é tão grande e dolorosa, que parece que meu peito vai explodir"- confessou, e eu voltei a conforta-lo.
Ele não sabia, mas ouvir aquilo estava me matando. E ouvir aquilo sem poder dizer o mesmo, sem poder dizer que eu o amo e que o quero de volta, é inacreditavelmente doloroso.
"Eu te amo, Patrick Stump"- seus lábios se curvaram em um sorriso curto
"Eu também te amo, Pete Wentz"- respondeu.
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Down The Hill
General FictionNós éramos tudo que todos queriam. Nós tínhamos toda a intimidade. Nós tínhamos todo o carinho. Nós tínhamos todo o amor. Mas, tudo foi ladeira abaixo.