Capítulo 1. Vida Perfeita

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"Eu vos digo: é preciso às vezes ter um pouco de caos dentro de si para poder dar a luz uma estrela dançante."

Friedrich Nietzsche

— Oi — o menino de olhos castanhos falou timidamente. Mexeu nos óculos e sorriu um pouco — tudo bem se eu sentar ao seu lado?

— Pode sentar — respondi baixinho chegando um pouco para o lado.

Não acreditava que ele estava mesmo falando comigo. Já sabia seu nome, claro! Gente nova na escola os boatos correm rapidinho. Todo mundo estava falando sobre como ele era bonito, e como tinha o sorriso mais incrível de todos os meninos da escola.

Eu não podia discordar.

Quando as meninas começaram a falar sobre ele, achei bobagem. Fala sério, tanta agonia por causa de alguém que nós nem conhecemos. Ele é quem devia se esforçar para nos conquistar e não o contrário.

Mas a medida que as horas avançavam eu passei a analisar o garoto com mais cuidado. Ele fazia uma coisa engraçada com o rosto quando estava concentrado, e sorria quando chegava a resposta de um calculo antes mesmo que a professora terminasse de explicar. Ás vezes ele também passava a mão pelos cabelos castanhos escuros quando ficava nervoso.

Isso foi tudo que deu pra notar entre a nossa primeira e terceira aula.

Traduzindo: antes do intervalo eu descobri que estava apaixonada pelo garoto novo da escola, assim como todas as outras meninas. Detestei aquilo.

Fui lanchar sozinha, fui para os fundos do colégio e fiquei em um banquinho de concreto que havia lá. Não queria ficar ouvindo as meninas falando sobre o cara novo que apareceu.

Saco!

Agora ele estava aqui, sentado ao meu lado me deixando nervosa. Eu tinha certeza que não era certo estar tão nervosa daquele jeito.

— Você não gosta de comer no refeitório? — perguntou abrindo um embrulho onde seu lanche estava. Eu comia um hambúrguer que tinha acabado de comprar no refeitório.

— Gosto, mas hoje eu estava com vontade de ficar sozinha.

O garoto começou a tossir repentinamente e, para não deixa-lo morrer, dei algumas batidas em suas costas. Aos poucos ele foi se recuperando.

— Desculpa — falou começando a juntar suas coisas — estou te atrapalhando, não é? Vou procurar outro lugar para...

— Espera — segurei seu braço quando ele estava levantando — tudo bem, pode ficar — sorri.

Téo pareceu um pouco em dúvida, mas acabou colocando as coisas de volta no lugar.

— Eu só queria ficar um pouco longe daquela confusão... É um saco ser o garoto novo — confessou depois de alguns minutos de silêncio.

— Tudo bem, pode ficar aqui sempre que quiser. As pessoas não costumam vir para cá. — contei.

— Você vai voltar outras vezes? — corou logo em seguida.

— Posso vir se você — coloquei uma mecha dos fios loiros que havia se soltado da maria chiquinha que fiz pela manhã.

— Eu ia gostar bastante se você viesse — ajeitou os óculos — talvez pudéssemos ser bons amigos.

Assenti.

Eu voltei no dia seguinte, e no seguinte e em todos os outros durante quase quatro meses. Patrícia, minha irmã, ficava implicando comigo falando que eu tinha um namorado.

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