Capítulo 5

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(...)A maior dificuldade é o preconceito que ela sofre desde que nasceu. O pai e todos da família a abandonaram... Crio sozinha".

(Gleice Miranda, mãe de portadora da SD)

Pode-se dizer que é cansativo realizar algumas atividades com o bebê todos os dias, sem falar que sempre temos mil médicos. Vamos ao fonoaudiólogo, e eu faço terapia uma vez por semana em um dos locais que o bebê faz tratamento. Ele também participa de algumas sessões de fisioterapia, enfim, minha agenda é sempre cheia.

Estava me adaptando a essa nova rotina.

O consultório estava cheio quando cheguei. Haviam muitas outras mulheres com seus filhos. Crianças como o Joaquim das mais variadas idades. Sentei espremida entre uma mulher de camisa laranja e a parede de pequenos pisos brancos

— Quanto tempo ele tem? — a mulher perguntou logo que me acomodei melhor a cadeira.

— Quase três meses. — respondi educada encarando o pequeno bebê em seu colo — E ele? — quis saber apontando com o rosto para seu filho.

— Seis meses. — ela brincou com os pequenos dedos do bebê — Ele é o Leonardo.

A mulher sorriu para mim.

Ele era maior que Joaquim, mas não parecia tão desenvolvido se levar em consideração as crianças normais.

— Joaquim. — suspirei encarando a parede branca em nossa frente.

— Sou Edna — A mulher sorriu novamente.

— Soraia, prazer — retribuí o sorriso tentando ser simpática, mas não estava afim de conversa. Milhares de perguntas se formavam em minha cabeça todos os dias quanto aos cuidados que deveria ter com Joaquim e se daria conta de tudo.

Eu estava sempre angustiada e com medo.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Pensei na melhor forma de abordar a mulher e perguntar as mil coisas que passavam em minha cabeça quando encontrava uma mãe, que como eu, tinha uma criança diferente.

Eu tinha esperança que alguém pudesse me dar uma luz.

— Como foi pra você, sabe... A notícia? — Perguntei ansiosa demais quando não consegui mais conter a curiosidade. Ás palavras saíram antes que eu pudesse segurar.

Os lábios dela curvaram-se um pouco para cima.

— Assim que você chegou aqui, soube que me perguntaria isso — respondeu tranquilamente enquanto brincava distraída com os dedos de seu pequeno filho.

— Por quê? — questionei.

— Já estive em seu lugar. — franzi o cenho para ela sem compreender o que queria dizer — Uma mãe novata de uma criança que ainda não sabe bem como funciona.

Ela sorriu numa demonstração de cumplicidade.

— Exatamente. — suspirei esperando pela resposta ao meu questionamento.

— Me disseram que meu filho era diferente. — começou com um olhar nostálgico, como se não estivesse mais ali, mas em algum outro lugar. Um lugar onde não gostaria de estar — Que ele não seria capaz de aprender, demoraria de andar, falar, sentar, sorrir... Destruíram meus sonhos naquela maternidade. Meu sonho de ser mãe.

Eu entendia bem aquele sentimento. Pousei minha mão sobre a sua.

— Mas o pior, — ela continuou — o pai dele sumiu. — Balançou a cabeça em negativa — Um dia estava lá, e no dia seguinte simplesmente suas roupas haviam sumido. Ele evaporou. Virou fumaça.

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