Se você ri de uma criança diferente, ela vai rir com você
Porque a inocência dela ultrapassa sua ignorância.
Sapos e Princesas
A bandagem pulmonar consistia em apertar a artéria pulmonar para dificultar a passagem de sangue para o pulmão. A ideia era proteger o pulmão da pressão que o coração de meu filho era capaz de gerar.
Estranho que desde a primeira vez que eu o chamei de filho, eu não conseguia mais parar.
Eu havia entendido. Joaquim era meu filho, ele tinha o meu coração. Não existiam formas de não se render aos seus amáveis olhos escuros.
Joaquim estava no berço enquanto minha irmã brincava com ele e eu os assistia do bicama em seu quarto.
Desde que voltamos para casa, na semana passada Paty vinha nos ver todos os dias. Mamãe tinha uma viagem de férias programada com papai, mas quis desistir para me ajudar com Joaquim. Todos temiam que eu voltasse á fase da rejeição. O que ninguém parecia entender é que ver meu filho tão fragilizado contribuiu bastante para que eu me esforçasse para ser uma mãe melhor para Joaquim, então garanti que ficaríamos bem e a muito contra gosto ela aceitou ir.
Patrícia permaneceu mais um tempo parada ao lado do berço de Joaquim antes de dividir o bicama comigo me obrigando a ficar espremida entre ela e a parede, porque, segundo ela, era espaçosa demais.
Minha irmã ficou calada por mais de um minuto, o que não era normal para ela. Logo, soube que alguma coisa não estava tão bem assim.
— O que aconteceu? — perguntei mirando o teto. Ela fazia a mesma coisa.
— Estou orgulhosa de você, sabia? — desconversou. Fiquei feliz com sua observação, mas conheço Paty bem o suficiente para saber que ela queria desviar o foco da conversa para algum outro lugar.
— Também estou. — respondi sincera — Agora realmente acho que vamos sobreviver.
Paty se movimentou uma vez, e mais outra em menos de um minuto. Minha irmã era sim uma pessoa agitada, mas nada a deixava tão nervosa quanto a ansiedade, e se ela não expressasse logo seus pensamentos não teríamos paz tão cedo.
— Conta logo, irmã — pedi torcendo para que ela não me enrolasse. Se a paz e a calma voltassem a se estabelecer dentro dela, o mundo exterior também voltaria a ter tranquilidade.
— Como é... Ser mãe? Quer dizer, eu sou tia do Joaquim e sempre estou aqui, vejo sua interação com ele, mas o que você acha que muda em uma mulher depois que ela se torna mãe?
Era uma pergunta curiosa. Nos oito meses de Joaquim, essa nunca havia sido uma preocupação de Paty. Mas uma questão que também me pegou de surpresa. Não era algo que eu conseguiria descrever.
— É difícil colocar isso em palavras, Paty. — sentei espremida no pouco espaço que minha irmã deixou para mim — Uma vez falaram uma coisa que não saiu da minha cabeça, mas hoje eu vejo que é dessa forma. É um pedaço de seu coração que agora tem vida própria — Suspirei encarando minhas mãos envergonhada. — Eu sei que tive meus problemas com meu filho no inicio, mas depois, é um amor sem medidas. Eu faria qualquer coisa por ele.
Paty deu um sorriso condescendente comigo pousando sua mão em meu joelho dobrado sobre o pouco espaço que tínhamos.
— Mas hoje tudo mudou. Não precisa se envergonhar — ela sorriu para mim.
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Diferente
ספרות לא בדיוניתSoraia tinha a vida perfeita. O amor de infância, casamento dos sonhos, a melhor família, a inveja das amigas e para completar teria o bebê perfeito para atingir o ápice de sua felicidade. O que ela não esperava era receber uma notícia que destruiri...