Capítulo 10

756 81 29
                                    


Poderíamos definir a Síndrome de Down como uma forma singular e determinada geneticamente, de ser e estar num mundo, o qual chamamos de "normal" sendo que temos muito que aprender.

A pessoa com Síndrome de Down é um beneficio para todos, porque apontam e promove valores que fazem a sociedade mais digna de chamar-se humana.

Sua exclusão será nosso fracasso.

(Autor desconhecido)


Depois do primeiro ano de Joaquim, parecia que o tempo estava passando mais rápido. Quando menos esperamos ele começou a ficar de pé de segurando na mobília. Andávamos ansiosos e com uma camera sempre na mão para não perder o registo dos primeiros passos.

A barriga de Paty estava alta, e Samuel parecia ser um rapaz muito saudável. Estava ajudando minha irmã a dobrar as roupas que lavamos ontem. Algumas das roupinhas de Joaquim passaram para o primo. Téo e Luís estavam assistindo um jogo na TV, Joaquim estava com eles enquanto eu e minha irmã conversávamos e dobrávamos as roupinhas.

— Só mais três meses. — minha irmã falou alisando a barriga — Não vejo a hora de poder pega-lo em meus braços.

— É a melhor sensação do mundo. — afirmei olhando meu filho.

— É tão bom ver como você mudou em relação ao Joaquim — comentou dobrando uma camisa amarela.

— Na verdade, irmã — olhei para a sala onde nossos maridos e meu filho estavam — Joaquim mudou tudo. É como se eu tivesse vivido todos esses anos em uma escuridão sem fim, mas eu estava tão acostumada a isso que não percebia. Hoje eu sei onde estava, e só sei disso, porque Joaquim é a luz.

Minha irmã sorriu suspirando.

— Espero ser para Samuel metade da mãe que você para Joaquim — comentou erguendo a camisa do vitória que seu marido havia comprado e recebendo uma careta em troca.

— Não posso permitir que meu sobrinho use uma camisa de time que só serve para pano de chão. — brinquei. Paty sorriu rolando os olhos. — Você será uma mãe ainda melhor, Paty. — afirmei a minha irmã que alargou o sorriso ainda mais.

Dobramos todas as roupas, e Paty me levou para ver algumas das novas compras que fez para nosso pequeno Samuel. O quarto era um sonho. As paredes azuis, e pequenos balões flutuando pela parede. O mosqueteiro assim como o de Joaquim, prendia no teto descendo ao redor do berço. Pequenos nichos redondos enfeitavam o quarto com ursos, e muitos livros infantis.

— Está tudo tão lindo! — comentei com minha irmã enquanto ela guardava as roupinhas no guarda roupa branco com vazados na parte central. Os painéis de acrílico davam um toque especial a peça — Samuel, tenho certeza, tem muita sorte por ter vocês como pais.

Conversamos por algum tempo sobre suas expectativas, medos. Sobre como o Luís estava se comportando nessa nova fase pai da vida dele e como Samuel, que ainda nem havia chegado, estava mudando com suas vidas, e com sua definição de amor que conheciam.

Eu entendia sobre isso.

Quando soube da minha gravidez eu o amei mais que tudo, mas pensar sobre isso me deprimia. Eu ainda não havia me perdoado por tudo que fiz e falei sobre Joaquim, e vendo minha irmã e sua felicidade, queria poder voltar no tempo para fazer tudo diferente.

Fui arrancada de meus devaneios quando Téo me chamou em um grito. Depois do problema no coração de Joaquim, qualquer coisa me levava a pensar em uma tragédia, então corri em um pulo para sala.

DiferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora