O amor transmitido pelo olhar de uma pessoa com Down é capaz de derrubar qualquer preconceito.
Instituto visão
Depois de tantas coisas que passamos para chegar até aqui, Téo e eu achamos que seria bom poder aproveitar e comemorar o primeiro ano de Joaquim. Alugamos uma pequena casa mais afastada da cidade, pelas bandas de Jacuípe bem próximo a praia. Escolhemos comemorar a festa com o tema circo. Então palhaços, bailarinas e homens vestidos de domadores com grandes animais de pelúcia podiam ser vista por toda a casa.
As crianças pareciam estar se divertindo muito com as palhaçadas dos homens coloridos contando piadinhas, e os truques dos mágicos. As meninas queriam a todo custo fazer desenhos de animais no rosto, então não foi difícil encontrar pelo menos vinte borboletas na festa.
O bolo em formato de uma enorme cabeça de palhaço chamava atenção, da mesma forma que o pula-pula, e a piscina de bolinhas. Téo não poupou esforços.
"Quero que essa festa seja um enorme agradecimento por nosso filho, por ele estar se recuperando bem, e por nossa família".
Foi o que me respondeu quando questionei se ele não estava exagerando.
Em parte eu o entendia.
Desde que Joaquim saiu daquele hospital, tudo que faço é agradecer pelo milagre que tivemos. De acordo com os médicos, alguns minutos a mais e teria sido impossível salvar sua vida.
Mas queria comemorar de uma forma diferente. Queria Téo, minha família e a dele. Os amigos mais próximos, muita comida boa. Joaquim não se recordaria dessa festa, mas sentiria que estava rodeado de amor.
Em uma festa desse tamanho as pessoas queriam apenas comer e ir embora. Certamente ainda sairiam falando de meu filho.
Téo não poupou. Basicamente convidou todos os nossos amigos, conhecidos e até pessoas que possivelmente ainda conheceria. Convidei algumas das mães que fazem terapia comigo e todos pareciam muito contentes com aquele momento.
Bom, nem todos.
Ainda era possível perceber olhares diferenciados. Olhares de pena.
Eu odiava isso.
Joaquim não precisava da pena de ninguém. Uma chance era tudo que seria necessário para que ele conquistasse o coração das pessoas. Mas uma coisa que tenho aprendido, é que ninguém gosta daquilo que foge dos padrões.
Ninguém gosta dos DIFERENTES.
As pessoas não costumam admitir isso. Muito pelo contrário, elas diziam que não se importavam, mas, lá no fundo, estava todo o preconceito. O mesmo preconceito que tive um dia. Era possível ver isso em suas atitudes, em seus olhares. Algumas pessoas demostravam um medo de meu filho que eu não conseguia entender.
Como alguém podia ter medo de Joaquim com aqueles olhos cheios de amor?
Aos poucos Joaquim deixou de ser diferente para mim, e passou a ser igual.
Uma pessoa.
Era isso que ele era. Eu, que sempre acreditei que meu filho não passava de uma aberração, percebi que somos iguais.
Temos um coração, sentimentos, vontades, alma...
E Joaquim tem uma alma linda.
— Vem, mãe — Téo chamou dona Janice, minha sogra — Vem tirar uma foto com seu neto.
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Diferente
Non-FictionSoraia tinha a vida perfeita. O amor de infância, casamento dos sonhos, a melhor família, a inveja das amigas e para completar teria o bebê perfeito para atingir o ápice de sua felicidade. O que ela não esperava era receber uma notícia que destruiri...