Capítulo 6

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"Nada é mais deficiente que o preconceito, nem mais eficiente que o amor. "

Val Marques



— Ei, garotão. — Falei apertando a barriga de seu mordedor em forma de cachorro.

Joaquim balançou as mãos eufórico ao ouvir o som feito pelo brinquedo, e eu repeti o gesto.

— Pega — incentivei apertando a barriga do brinquedo mais uma vez.

Joaquim amava quando deitávamos no chão para brincar, e acho que por isso ele exibiu a boca banguela.

Não podia acreditar no que estava vendo.

Foi como tocar um pedacinho do céu ver o seu primeiro sorriso, uma emoção indescritível. Joaquim havia dado o seu primeiro sorriso para mim. Para mim!

Ele sempre me olhava daquela mesma forma, e ainda gostava da minha presença, eu não conseguia acreditar que seus olhos não me julgavam, acusavam de ser louca, ou me culpavam pelo abandono ao qual eu o submeti.

Patrícia costuma dizer que ele se apegou a mim de tanto que conversei com ele ainda em minha barriga. E eu me sentia péssima já que havia rejeitado Joaquim de uma forma tão vergonhosa.

Corri para registrar esse feito no caderno do bebê que Nando havia me dado meses atrás.

Joaquim, felizmente, não é dessas crianças que trocam o dia pela noite, muito pelo contrário, dorme satisfatoriamente bem, e se no começo tinha problemas com seu choro, hoje ele quase não chora, é um bom garoto.

E cada dia eu me encantava um pouco mais com ele.

— O rosto dele é tão estranho — sussurrou com Carol assim que dei as costas para buscar uma fralda

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— O rosto dele é tão estranho — sussurrou com Carol assim que dei as costas para buscar uma fralda.

— Ouvi dizer que antigamente crianças assim era consideradas filhos do demônio. Queimavam eles e as mães... — Amanda comentou ainda em tom de voz baixo.

— Coitada da So! Sempre foi uma pessoa tão boa.

— Eu acho que ela devia tentar outro filho, vai que dê mais sorte e venha uma criança de verdade...

Suspirei exasperada.

Não era a primeira vez que ouvi aquele tipo de comentário. Desde que eu e Téo decidimos que os familiares e amigos deveriam ter contato com Joaquim tem sido assim. Algumas posturas tem me surpreendido, e a quantidade de histórias de alguém que conhece alguém que também teve um bebê com necessidades especiais me parece maior que eu podia imaginar.

Quando soube de como os portadores da Síndrome eram tratados antigamente, meu coração apertou tanto que eu achei que não pudesse mais respirar.

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