Uma Criança com Síndrome de Down é incrivelmente vinda ao mundo diretamente a mando de Deus, pois ela é o mais puro e sincero amor.
Monaline Pinheiro .
Ao entrar no quarto dele me envergonhava completamente.
Os delicados ursos que compramos para Erick agora repousavam rasgados e espalhados pelo chão, o mosqueteiro que descia do teto dando a impressão que meu filho dormiria em um berço digno de príncipe, agora estava despedaçado. Os lápis de pintar espalhados pelo chão, assim como o pequeno balde azul onde eles estavam anteriormente.
As paredes que foram azuis, hoje possuíam marcas de hidrocor pretos por toda a sua extensão.
Todos os artefatos de decoração que haviam sido comprados com esmero para o quarto de nosso pequeno príncipe estavam completamente destruídos.
Me arrependia daquilo.
"Havíamos acabado de chegar do hospital.
Ver minha casa era definitivamente reconfortante. Depois de tantos dias naquele quarto branco ver um pouco de cor, e sentir o cheiro de comida caseira me fazia sentir um pouco melhor.
Mamãe vinha atrás com o pequeno monstrinho nos braços. Infelizmente meu plano de deixa-lo lá não deu muito certo, e mamãe ainda me chamou de desnaturada.
Ele havia dormido, o que era uma benção. O som estridente de seu choro me deixava enervada.
— Que bom ver vocês! — Minha irmã que havia ficado em casa para deixar tudo limpo e um bom alimento pronto para quando chegássemos me abraçou com força.
— É bom estar em casa — Murmurei jogando minha bolsa sobre o sofá.
— Me deixe ver o mais novo dono do meu coração. — Patrícia se afastou indo ao encontro de mamãe. Téo entrou em casa nesse momento deixando a azul no sofá ao lado de minha bolsa.
— Fale baixo, — mamãe advertiu — ele dormiu a pouco, e não gostaria que acordasse agora.
— Essa criança grita mais que meus ouvidos conseguem suportar — Murmurei desanimada.
Três pares de olhos se voltaram contra mim julgando-me como louca desalmada. De acordo com eles, e com seus julgamentos tolos eu não teria chance no purgatório. Meu lugar era claramente no andar debaixo.
— Não fale assim dele, Soraia — minha irmã reclamou com um olhar duro para mim.
— Desculpa se meus sentimentos a magoam. Mas não posso deixar de falar a verdade — retruquei. Téo balançou a cabeça em negativa saindo da sala para a cozinha sem falar nada. Ás vezes chego a acreditar que ele pensa como eu, mas era fraco demais para admitir.
— É tão bom estar com a família reunida. — mamãe expressou irônica — Vou coloca-lo no berço — Concluiu.
Levei alguns segundos para processar o que ela havia dito.
— Que berço? — perguntei quando mamãe havia dado alguns passos em direção ao corredor.
— O dele. — respondeu como se fosse a coisa mais obvia — Prefere que ele fique em sua cama?
— Prefiro que ele volte para aquela porcaria de hospital de onde veio! — gritei — Essa coisa não vai entrar no quarto de meu filho — falei mais alto ao me aproximar de mamãe.
— Soraia, você não está em seu juízo perfeito. — constatou — Ele é seu filho.
— Não mamãe! Essa coisa NUNCA vai ser meu filho. Meu perfeito Erick era meu filho. — minha garganta começou a travar por conta das lágrimas estranguladas. Parecia que não podia respirar — Era pra tudo ser diferente! — gritei enquanto Paty tentava se aproximar, mas eu não queria aquilo. Não queria mais broncas e incompreensão.
Eu precisava que alguém me entendesse.
Corri ao quarto de Erick e me tranquei lá. Permaneci encostada na porta ouvido as batidas de minha irmã enquanto lágrimas e soluços ecoavam do mais fundo de meu ser.
Observei o quarto digno de um príncipe que agora queriam que ele habitasse. Essa ideia era inconcebível. Agarrei o quadro com o nome de meu filho, meu lindo Erick e me joguei no bicama cinza que compramos para que mamãe e Paty dormissem quando fossem me ajudar com o Erick.
Nada mais fazia sentido.
Tudo estava errado.
Quando foi que as coisas passaram a ser tão complicadas? Tão difíceis... Onde eu errei para merecer essa cruz?
Meus olhos passaram novamente ao redor e fui tomada por algo que não sei explicar. Sem pensar atirei tudo ao chão, puxei o mosqueteiro com força para que ele desprendesse o teto, e entre lágrimas rasgava o pedaço de tecido recheado de minúsculos furos.
Podia ouvir Téo, Patrícia e mamãe me pedindo para abrir a porta ou arrombariam, mas continuei. Risquei as paredes com lápis pretos e trêmula deixei registrado meu sentimento mais profundo por ele.
Quando por fim conseguiram abrir a porta eu estava no chão, jogada aos prantos.
— Eu nunca vou conseguir amá-lo — repetia enquanto os braços de um Téo horrorizado me rodeavam. Patrícia, mamãe e Nando, que pelo visto havia chegado a pouco, mantinham um olhar perplexo sobre a obra da minha fúria. Paty fechou a porta após alguns instantes para nos dar privacidade.
Não sei como aconteceu, mas meus olhos pesaram e me senti flutuando.
— Não vou conseguir sem ela. — ouvi a voz de meu marido em um sussurro.
— Ela vai cair em si. — mamãe respondeu sussurrando também — Só posso acreditar que sim."
Meus olhos encheram de lágrimas com a recordação. Parecia que uma vida, não apenas alguns meses haviam se passado.
Muitos sentimentos estão completamente diferentes dos que sentia nessa época. O antigo quarto de Erick, futuro quarto de Joaquim, estava fechado desde então. Ontem eu e Téo concordamos que o quarto deveria ser reformado.
Joaquim tem dormido conosco desde que veio para casa, e chegamos á conclusão de que agora era hora dele ter o seu cantinho.
Seu lugar em nossas vidas.
Em minha vida.
Ei, amores!
A So está ficando uma fofinha, né?
Agora vai começar uma nova fase na vida dela e quero ver o que vocês vão achar desse novo momento.
Como será o processo de adaptação com o Joaquim agora?
Estou ansiosa pra mostrara a vocês como Diferente está ficando. Espero que gostem!
Mas me contem, até agora o que estão achando? Já sabem que eu amo interação, né?
Mil beijos, Ray.
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Diferente
Non-FictionSoraia tinha a vida perfeita. O amor de infância, casamento dos sonhos, a melhor família, a inveja das amigas e para completar teria o bebê perfeito para atingir o ápice de sua felicidade. O que ela não esperava era receber uma notícia que destruiri...