Capítulo 16

1.9K 188 14
                                    

- Eu posso explicar - disse, a voz estava trêmula.
- Explica - ela disse, sua expressão era de choque, mas senti raiva em sua voz.
Fiquei em silêncio, o que eu diria? Nunca fui pega, como explicar algo que eu mesma não entendo?
- Vai falar ou não Mia?
- Olha eu... Eu faço isso as vezes... Mas eu tô bem e... Não é nada demais...
- Não é nada demais? Mia isso é uma doença! - ela definitivamente estava com raiva.
Abaixei a cabeça, não podia negar que isso era uma doença, mas isso ia me fazer magra não? Porque eu me sentiria mal com isso afinal?
- Não vai dizer nada?
- E o que eu diria?
- Sei lá, que vai parar, que se arrepende, que não gosta do que faz talvez?
- Mas eu não me arrependo, isso vai me fazer magra!
- Mia você não é gorda!
- Tem uma porra de um espelho na minha frente que diz o contrário!
- Mia você não é gorda, quando foi a última vez que se pensou? Não vê o que realmente é? É mais magra que eu...
- Você está louca...
- Não eu não estou! - ela se aproximou de mim e me arrastou para perto do espelho, apertou meu rosto me obrigando a me ver - Olha pra você Mia, da uma boa olhada, você vê gordura ai? Eu não vejo.
- Sim eu vejo, eu vejo a minha cara redonda, vejo minha bunda gigante, vejo tudo o que não queria!
- Mia... O seu corpo é totalmente normal, você tá vendo algo... Algo que talvez já tenha sido, mas que não é mais... E mesmo se fosse, você é tão linda do jeito que está...
- Está mentindo...
Ela me abraçou.
- Nunca mentiria pra você Mia, por favor pare com isso, busque ajuda...
- Eu não preciso de ajuda...
- Sim Mia você precisa... Você é linda e precisa enxergar isso.
Quis chorar, agora eu choro? Não! Não iria ceder, era minha vida, eu farei o que quiser com ela, quis gritar como uma criança que faz birra, me vi ficar de pálida, vermelha, então me ajoelhei no chão, quase que me sentando, não ouvia mais nada ao redor, fosse Lua ou uma descarga, simplesmente estava tudo bagunçado na minha cabeça, e antes que eu pudesse perceber, senti ela me abraçando, ajoelhada ao meu lado, relaxei a cabeça em seus seios, pouco a pouco eu estava conseguindo recobrar a consciência.
- Estou contigo, em todas as situações, em todos os momentos, eu amo você Mia, estou do seu lado. - ela sussurrou em meu ouvido e beijou minha testa.

****
Em uma semana comecei a comer um pouco mais, duas refeições, pequenas, mas duas por dia, claro que apenas por que Lua estava me obrigando, ficava grudada comigo após comermos para garantir que eu não iria vomitar, cada garfada era um sacrifício, cada vez que eu colocava comida na boca sentia ânsia, eu estava finalmente pensando em como pedir ela em namoro, os preparativos iam bem, só precisava convencê-la a ir a casa de praia comigo no fim de semana.
Meu telefone começou a tocar, me desviando dos pensamentos em meus planos.
- Alô?
- Mia.
- Que foi Johnny?
- Vou passar aí está semana pra te buscar.
- Para?
- Sua terapia.
- Eu já disse que não vou, eu não preciso!
- Mia eu não estou te dando escolha, você vai a terapia, e isso vai te fazer bem, é um grupo, só vai ter gente da sua idade.
- Quando?
- Amanhã.
- Okay, vou ir um dia, apenas um dia!
- Okay.
Desliguei o telefone, não acredito que estou topando isso, mas o que fazer? Eu não queria pensar sobre o que aconteceu, não queria nada me lembrando, mas talvez fosse bom encontrar alguém que tenha passado por algo semelhante.
- Tá ocupada? - Ouvi Luna falar.
- Não, por que?
- Quero sua ajuda.
- O que tenho que fazer.
- Vou a uma festa de debutante esse sábado, minha amigas não são muito sinceras, quero saber qual vestido vai ficar melhor em mim, pode me ajudar?
- Quer minha opinião?
- Exato.
- Isso é uma coisa tão...
- Gay... Eu sei, me ajuda vai? Por favor.
- Tá legal, tá legal, coloca o primeiro.
- Obrigada - ela se animou toda e entrou no banheiro.
- Sabe, não que eu queira ver, mas não precisa ter medo de se vestir na minha frente tá? - falei em tom zombeteiro.
- Não ligo que seja lésbica sua tonta, eu nunca me troco na frente das pessoas - Ela falou do banheiro.
- Vergonha?
Ela colocou a parte de cima do corpo pra fora do banheiro, estava de sutiã, haviam algumas cicatrizes em seu corpo, além das de cortes, é uma no ombro me chamou a atenção.
- O que foi isso?
- Meu Pai matou minha mãe, e ele não ia parar nela.
- Isso foi...?
- Uma facada, ele errou, depois uma amiga minha de escola entrou e acertou a cabeça dele com o abajur.
Ela colocou o corpo novamente dentro do banheiro
- Sinto muito - disse.
- Tudo bem, passado é passado né?
Ela saiu com um vestido azul, era curto com a um corte na perna que subia até a coxa, bom para dançar, estava um pouco largo, não dava tanto valor a seu corpo.
- Da uma voltinha - falei.
Ela sorriu e deu uma volta, pegou o outro vestido e foi para o banheiro, saiu minutos depois com um vestido marsala, curto e mais cheio na parte debaixo, porém a parte de cima era justa, o decote ficou muito melhor, ela estava muito mais bonita, os detalhes pretos fariam ela chamar toda a atenção da festa.
- Esse com certeza, mil vezes, ficou um mulherão da porraaaaaaa. - falei.
Ela deu um gritinho fino e pulou encima de mim me abraçando.
- Obrigada, obrigada, obrigada, minhas amigas tinha escolhido o azul.
- Elas não queriam que você chamasse mais atenção que elas, porque aquele ali não valorizou seu corpo em nada, já esse... Esta incrível.
- Muito obrigada.
- Amanhã começo a ir a terapia.
- Vai ir mesmo?
- Sim, vai ser tipo as reuniões do A.A.
- Você deveria ir nessas também. - ela riu.
- Cala a boca - joguei um travesseiro nela.

****

- Está pronta? - Meu Pai perguntou abrindo a porta do carro.
Dei de ombros, então me sentei no banco.
- Quer um lanche?
- Tanto faz.
- Vou levar isso como um sim. - Johnny falou.
Paramos no McDonald's, ele comprou um lanche e em seguida me deixou na porta do lugar.
- Volto em uma hora. - ele disse.
- Beleza.
Entrei, coloquei uma batata na boca, faz tanto tempo que não como coisas assim.
Na recepção disse meu nome, ela me levou a uma sala onde havia um circulo de pessoas, meninos e meninas, todos pareciam ter a minha idade, e um adulto, devia ter uns quarenta anos, olhei em volta, o que a Alice estava fazendo ali?

Oi oi pessoal
Mais um capítulo
Espero que tenham gostado
Se gostaram votem, comentem
E até o próximo
Bjs

As teorias de MiaOnde histórias criam vida. Descubra agora