Seis

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— 15 minutos, pessoal!

Fecho os olhos ao ouvir um dos organizadores do show desta noite anunciar o tempo para a entrada da banda. O festival de pop-rock no qual vamos nos apresentar começou ontem e, como em todos os dias, há apresentações de grupos locais antes da atração principal.

Olho de relance para o espelho, notando um lado do meu rosto mais vermelho e inchado do que o outro. Ontem, de acordo com o que Luti e minha irmã me narraram, fui cantar com o pessoal que estava fazendo o som no barzinho onde estávamos e despenquei do pequeno palco. Provavelmente tropecei em algo, mas eles insistem em dizer que eu estava bêbado demais para me sustentar em pé.

Claro que não foi isso! E o fato de eu não lembrar com clareza se dá somente por eu ter batido a cabeça na mesa em frente ao palco, o que me deixou confuso e com esse hematoma no rosto.

Dentro do ônibus no qual viajamos para shows em cidades próximas a São Paulo, Luti veio conversar comigo sobre a reabilitação mais uma vez. Eu não preciso disso, eu sei! Posso até exagerar de vez em quando, mas consigo ficar sem a bebida, e um alcóolico, não.

Esta noite estou sóbrio, vou me apresentar na minha melhor forma, fazer o meu trabalho e voltar para casa. Se eu sentir vontade de beber algo, o farei, mas longe do público e, principalmente, da imprensa. O episódio de ontem não foi noticiado, mas eu soube pelo nosso assessor de imprensa que vídeos foram veiculados no Twitter.

Não dá para eu sair ileso mesmo das coisas que acontecem ao meu redor ou comigo. Todo mundo hoje em dia tem um celular com câmera e uma conta em rede social, então, é difícil não ser vigiado.

Meu telefone vibra em cima da mesa onde estão as coisas do cabeleireiro, e vejo uma mensagem do meu advogado. Imediatamente peço ao Jô para me dar um tempo para falar com o doutor Freitas, e ele desliga o secador e para de arrepiar meus cabelos, como sempre uso quando estou no palco.

Nós estamos esperando a sentença sobre meu pedido de guarda, que iria sair ainda esta semana, mas até o momento não tivemos notícias.

Ligo para ele, que atende ao primeiro toque.

— Cadu! Estou interrompendo? — pergunta preocupado.

— Não, não. Ainda tenho alguns minutos antes de entrar no palco. Alguma notícia?

— Eu não sabia que você estaria trabalhando hoje. Amanhã a gente se fala, então.

— Não, Aluísio, fala agora! — Levanto-me e vou para o final da sala. — Saiu a decisão, não foi?

Ele bufa, e eu cerro o punho com força, imaginando que a sentença não foi favorável ao meu pedido.

— O juiz negou o pedido, Cadu. — Eu me agacho no canto da sala. — A motivação se dá, claro, pelo melhor interesse da menor. Segundo ele, Amanda já está adaptada à vida com os avós, uma vez que nunca morou com você ou conheceu outra casa. Além disso, as notícias envolvendo você pesaram muito na decisão dele, pois não conseguiu ter certeza da sua estabilidade para garantir a segurança de uma criança.

Dois Corações [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora