Dois

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Estar em São Paulo, longe da minha família pela primeira vez, foi empolgante quando cheguei aqui há mais de um ano. Tudo era novidade, e eu me sentia, enfim, adulta. Buscar um local para morar que fosse perto da faculdade e barato o suficiente para que eu pudesse pagar com as economias que tinha e com o dinheiro que minha avó Maridalva me dava – a contragosto dos meus pais – não foi fácil, mas divertido.

Tudo era divertido!

Por fim eu estava na capital paulista, estudando o que eu sempre amara e em uma das universidades públicas mais conceituadas do país. Ia poder fazer amigos, encontrar um bom emprego e, quem sabe, achar um amor. Nem dei muita atenção ao fato de que meu dinheiro dava apenas para pagar uma república onde eu teria que dividir um quarto com uma desconhecida; achei emocionante.

E foi... por dois meses! Meus companheiros de república – 12, no total – eram pessoas legais, mas a maioria deles gostava mais de organizar festas do que de, efetivamente, descansar ou estudar em casa. Comecei a ter dificuldade na faculdade, pois, apesar de tocar instrumentos desde quando me entendia por gente, eu não sabia muita teoria e precisava estudar muito. Então, ficava na faculdade até altas horas da noite, estudando, e só ia para a república dormir.

Um pouco antes de o semestre terminar, minha colega de quarto, Tiana, e mais dois amigos dela resolveram alugar um apartamento pequeno. O valor não mudaria muito do que eu pagava na época, e eu realmente fizera amizade com a Tiana, por isso decidi segui-la. O apartamento em que moramos agora é um pouco mais distante da Escola de Comunicação e Artes do que a antiga república, mas a paz e a tranquilidade são enormes. Meus colegas são demais, embora bem diferentes entre si.

Tiana, a que divide o quarto comigo, é estudante de audiovisual, já o Marlon e a Helô fazem artes cênicas. Todos temos praticamente o mesmo horário e andamos juntos os 3km até a ECA. Eu já estou no terceiro semestre de licenciatura em música e pensei que conseguiria – como o fazia em minha cidade – dar algumas aulas particulares e, assim, conseguir me manter, mas percebi que a capital é bem diferente do interior nesse quesito. Depois de tentativas frustradas, concorrendo com pessoas já formadas, acabei indo trabalhar junto com o Marlon em um pub na Vila Madalena.

E é aqui que estou neste momento, sentindo-me desanimada e cansada, às 4h da manhã, depois de ficar em pé, fazer milhares de drinques e aguentar alguns clientes abusados desde às 8h da noite. Eu ganho um salário de comércio, mas as gorjetas me fazem sorrir e ficar aqui apesar de tudo, pois dobram esse valor todos os meses, além de eu ter feito amizade com o pessoal.

O pub é um local badalado, frequentado por todo tipo de pessoas, desde estudantes ferrados a artistas e empresários. Tem uma música bacana, que varia de acordo com o dia da semana e tem petiscos ganhadores de prêmios. A proprietária, Duda Hill, herdou o bar do pai e o transformou no point do momento, mas, apesar disso, não sai da cozinha e trabalha mais do que nós, os atendentes, garçons e bartenders.

Dois Corações [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora