Oito

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Desde minha última bebedeira, parece que minha vida está em suspenso. O Cris remarcou ou cancelou todos os shows que a banda tinha este mês e já está preparando a notinha sobre a minha reabilitação. Porém, eu não quero mais voltar para a clínica.

Todos os meus amigos estão me apoiando neste momento, o que demonstra o quanto eu tenho sido egoísta esse tempo todo, pois só pensei em meu sofrimento e prejudiquei a todos. Pus em risco a reputação e popularidade da banda, nosso sonho de criança, e mesmo assim eles aceitaram dar um tempo para não seguir sem mim.

Agora, aqui, sentado na sala do meu apartamento, assisto a Luti e Pepê limparem todo o meu estoque de bebidas enquanto tentam me convencer a voltar a me internar.

— Não vou ficar longe de Amanda, Luti, não mais — explico, sentindo-me derrotado pela minha própria burrice. — Daquela vez eu fiquei três meses afastado, não quero isso.

— Cadu, o Cris falou sério sobre ser sua última chance — Deco é quem responde. — Nós todos concordamos em estar ao seu lado neste momento, apoiar você no que precisar, dar um tempo com os shows, mas você precisa fazer sua parte.

Entendo a preocupação deles, afinal, estamos falando sobre suas carreiras e o ganha-pão de cada um. Eu sei que não sou insubstituível, mas qualquer banda faz muito marketing em cima de seu vocalista, e isso aconteceu comigo no começo da carreira.

E, meu, eu adorei cada momento em que fazia fotos e campanhas. Até que Mônica morreu e tudo perdeu o sentido. Faltava tão pouco para nosso sonho estar completo! Em alguns dias ela sairia de casa para morar comigo, e depois nós dois nos casaríamos e teríamos nossa família, como sempre sonhamos. Então tudo aconteceu e...

— Cadu, eu estava aqui pensando. — Luti anda em minha direção e se senta em uma poltrona à minha frente. — Eu conheço um cara que frequenta o A.A., o grupo Alcóolicos Anônimos. — Eu assinto, pois já ouvi falar sobre isso. — Eu acho que, se você de verdade está disposto a largar tudo e recomeçar, poderia tentar buscar ajuda nesse grupo.

Sim! Dessa forma eu não precisarei ficar longe de Amanda para me tratar.

— É uma ótima ideia, Luti — Deco concorda. — Eu tenho um tio que frequentou o A.A. e hoje ele não bebe uma só gota de álcool.

— Mas é importante que você tenha convicção, mano — Luti continua. — Nós não estamos te obrigando a se tratar, a escolha é sua.

Eu sei. Antes eu não conseguia enxergar dessa forma, mas, depois de ter ficado dias sumido, bebendo, podendo ter morrido sufocado no meu próprio vômito sozinho dentro deste apartamento, eu entendo que preciso de ajuda.

— Acho que, junto com o A.A., você poderia também ter algumas sessões com um psiquiatra. — Concordo com Deco. — O A.A. é um grupo de apoio, de troca de experiências, ele não tem profissionais para tratamento. Se você juntar os dois, vai dar certo!

Dois Corações [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora