𝒕𝒘𝒆𝒏𝒕𝒚 𝒕𝒉𝒓𝒆𝒆

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𝘯𝘦𝘱𝘵𝘶𝘯𝘦 𝘤𝘭𝘢𝘧𝘪𝘯

SAIO de fininho da casa do Shawn e vou para minha casa, onde não estamos mais por medo. 

O último lugar que eu pensaria que Alberto estaria seria em lá. Ele esteve por baixo de nossos narizes o tempo todo e nunca notamos. Fomos tão burras! Ainda me pergunto como não ouvimos nenhum barulho sequer, afinal, Alberto, com certeza, deve gritar com os meus pais por algum motivo. Todos os sequestradores fazem isso, eu vejo em filmes. 

Há mais de onze anos que eu penso que meus pais haviam me abandonado por seja-lá-qual-foi a razão. Há mais de onze anos que eu tenho essa mágoa e essa raiva dentro de mim. Depois que eu descobri que meus pais, supostamente, me abandonaram, eu criei essa parede em volta do meu coração não permitindo que ninguém entrasse com medo de me abandonarem. 

Desde muito nova eu fui criada pela minha vó e um belo dia, quando Mary estava conversando com meu falecido avô, Robert, sobre meus pais. Eu me lembro desse dia como se fosse ontem. Eles conversaram sobre o suposto sequestro mas preferiram falar para mim que foi abandono. Afinal, quem diria para uma criança de seis anos que seus pais foram sequestrados por um ex-namorado maluco da sua mãe? Pois é, ninguém em sã consciência faria isso. Mas, mesmo com seis anos, eu preferia saber a verdade. A verdade iria doer, mas o fato de falarem que foi abandono, doeu mais. Eu me tornei essa pessoa fechada por conta disso. 

Por toda sorte do mundo, eu trouxe minhas chaves. Não me importo em fazer barulho. Quero deixar bem claro que estou aqui. Gostaria de ter o poder de ouvir batimentos cardíacos e respirações [aLô SCOTT MCCALL] e segui-los, mas infelizmente eu sou humana.

Escolho vasculhar a casa inteira e o último lugar em que eu paro é em meu quarto. Não achei nada na casa toda, muito menos no meu porão, onde só tinha quadros antigos e caixas empoeiradas. Sento em minha cama olhando para minha tão amada janela quando sinto meu celular vibrar. 

— Mais uma mensagem não. – murmuro um choramingo e olho meu celular. 

*messages

psycho: olhando para janela, huh

psycho: parece que está prestes a me achar

psycho: achei que iria demorar mais...

psycho: estava esperando para fazer uma surpresa para você 

psycho: está chegando seu aniversário de dezoito anos 

psycho: por isso eu voltei, ficou feliz?

Como ele sabe que estou olhando para janela?... MEU JARDIM! Céus, como eu sou estúpida! Desde que eu me entendo por gente, sou apaixonada por flores e quando completei cinco anos, pedi um jardim de presente. Desde então, eu e meus avós cuidamos do nosso jardim onde meu avô fez um pequeno sótão para mim, debaixo dele. É ISSO! Alberto estava lá o tempo todo e eu nunca me dei conta! Malditas paredes acústicas do meu quarto. 

Desde a morte do meu avô, eu e Mary nunca mais fomos ao jardim. Cuidar dele era algo que fazíamos em três e quando Robert se foi, não continuamos com a tradição por não termos nosso terceiro pedaço. 

Corro para o jardim tateando a grama para achar a portinha de madeira que nos levava até o sótão. Abro a porta e assim que a fecho, ouço uma risada masculina. 

— Achei que nunca iria me encontrar. Devo agradecer seu pai pela parede acústica? – ele ri novamente. Olho ao redor e tento achar meus pais mas falho. Eles não estão aqui. Será que eles ainda estão vivos? 

— Como você sabe de tanta coisa? – vocifero.

— Ah, cara, Tune. – a cada risada que esse homem dava, mais vontade de arrancar todos os seus dentes, eu tinha. — As viagens que você e seus avós faziam em todo final de ano serviam para muita coisa. Eu aproveitava isso para pegar suplementos e que seus pais pudessem tomar banho e, bom, fazer suas necessidades. Eles eram bem obedientes pois sabiam o que acontecia quando não eram. – Eram? Passado? Esse verme não matou meus pais. Ele não teria coragem. 

— Onde eles estão? – me afasto e sinto que encostei na parede. Se ele quisesse se aproximar, eu não teria para onde correr. 

— Isso não é importante no momento. Quando for a hora certa, eu os trago até aqui. – Alberto se senta em um sofá que eu nem lembrava mais que tinha. Ele conseguiu transformar esse sótão em uma casa em períodos de viagens. Eu posso odiá-lo mas a ideia foi brilhante. — Só para você ficar ciente, eu não os maltratei. Bom, só quando foi preciso. Eu dei comida, roupas e os deixava usar o banheiro quando quisessem. Eu sou bom, não sou?

Ranjo meus dentes e cerro meus punhos contando até dez para não socar essa boca cheia de dentes amarelos. Ele pode ter dado isso tudo aos meus pais mas escovar os dentes é algo que não entrou na lista de necessidades pessoais dele. 

— Por que você fez isso tudo? Em nenhum momento pensou em mim? Em como eu iria me sentir? Ou vai dizer que não sabia que Samantha tinha uma filha? – sinto meus olhos arderem, falar o nome de minha mãe ainda é difícil.

— Claro que eu sabia, meu amor. – ele se levanta e se aproxima. — Como eu não iria saber da existência da minha filha? 

recadinho1: A NEPTUNE PEGOU O ALBERTO NO PULO AKSKKSIS SOCORRO QUE ORGULHO DESSA MENINA

recadinho2: tem uma música maravilhosa que é sobre neptune e eu queria muito que vocês escutassem ( neptune; sleeping at last )

𝑵𝑬𝑷𝑻𝑼𝑵𝑬 +𝒔𝒎Onde histórias criam vida. Descubra agora