Voltando

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Ele ainda não acreditava que estava ali. Não acreditava que ela conseguiu convence-lo a voltar. A voltar pra aquela escola que lhe trazia tantas lembranças. Agora estava ali sentado a frente dos dois, enquanto eles a ouviam tagarelar o quanto estava feliz em voltar a estudar. Para ele esse não era realmente o problema. O problema era cada criança que passava por ali só para o ver e dar um aceno ao menino que sobreviveu duas vezes, que conseguiu derrotar o cabeça de cobra e tudo o mais. E parecia que o trem esse ano estava mais cheio e cada um que passava e acenava o olhando lhe dava uma pontada no estomago.

Soltou um suspiro e se ajeitou melhor no assento ou iria como Pirraça diria pirar, queria que a amiga pegasse aqueles livros gigantes e se escondesse atrás deles, mas ela continuava a falar, olhou de relance pro amigo e ele de volta e ele lhe deu uma de suas caretas compreensivas, conseguiu soltar um pequeno sorriso e voltou seu olhar pra janela e ficou de um jeito quase deitado no estofado, só queria apagar aquilo tudo, mas não conseguiu quando ouviu novamente uma pequena agitação do lado de fora, olhou e um pequeno aglomerado de crianças o olhava, apontava e acenava, ele engoliu a careta e acenou de volta pra elas irem embora, que fizeram e saíram correndo e gritando felizes e o amigo riu.

— Eles não são umas gracinhas? – disse uma sorridente Hermione. Ele só a olhou com tédio e ela sorriu amarelo. – Parei.

— acho bom... – soltou um resmungo, deitando a cabeça novamente no encosto.

— a Harry vai ser bom voltar sim, vai... – e voltou a tagarelar.

E ele soltou novamente um suspiro e nem se virou quando ouviu mais um aglomerado de crianças passar fazendo barulho e a pontada em seu estomago voltar. Fechou as mãos e os olhos com força, mal se agüentando, suspirou e esperou eles se distanciarem e olhou pra frente e o amigo a olhava meio esperançoso. Como querendo ela fizesse outra coisa alem de falar. Ele não se agüentou mais, tinha que sair dali e levantou num rompante indo pra porta.

— onde vai? – perguntou espantada.

— tomar um ar. – falou um tanto alto demais.

Fechou a porta, mais forte do que queria fazendo barulho e olhou pra dentro e fez um aceno pro amigo, que sorriu de volta, com uma careta, quase riu, mas precisava praticamente correr, pra se livrar daquele 'corredor polonês' cheios de crianças e adolescentes que queriam alguma atenção sua. Ele quase correu o quanto conseguia dando dois segundos de atenção enquanto passava, parecendo que tinha um cacto brincando dentro de si. Finalmente conseguiu chegar ao ultimo vagão onde não tinha ninguém e trancar a porta e se encostar nela e respirar, se olhou e ainda estava inteiro.

Se colocou melhor e foi até o outro lado e abriu a ultima porta do vagão e levou uma chicotada de vento, mas não ligou muito, saiu e fechou a porta e se segurou na gradezinha do lado de fora, se apoiando dela e seus cabelos se revoltando mais que o normal e respirou fundo e observou a paisagem que era quase uma floresta aberta, que o trilho invadia. Em seus seis anos que passou por ali, mal reparava na paisagem, agora a admirava seu verde e colorido das arvores, elevou um pouco a cabeça sentindo o calor do sol, o apreciava que meio enclausurou em casa depois de tudo.

Casa, nunca realmente a teve, única parente e o ignorava, balançou a cabeça pra tira-la, não realmente merecia sua atenção, se sentia assim mais na casa do amigo, do que na dela, e no castelo onde sempre sentia seu lar e agora estava voltando depois de um tempo, que agora o concertaram depois daquilo tudo, fechou os olhos sentindo novamente o cacto dançar dentro de si. Perdeu tanta gente depois daquilo, ainda doía pelo Remo e Tonks e agora era padrinho do filho deles, que não tinha como negar a mãe que tinha, com os cabelos coloridos e que quase não saia do azul.

Retornando a escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora