Capítulo 2: Ratos de Laboratório

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Leonard não conseguia pregar os olhos, nem por um instante, o quarto era extremamente desconfortável parecia literalmente um leito de hospital, a cama era dura, as paredes brancas, assim como o chão e os móveis se resumiam a uma estante pequena, um armário para roupas e uma escrivaninha vazia. Ele sentia a boca seca como em quase todas as madrugadas, sua pressão estava alta e ele sentia frio. Leonard fixou o olhar na escrivaninha e uma memória lhe veio como um tiro.

"A neve cobria quase toda a janela enquanto Leonard estava deitado, sem camisa em cima de uma maca, devia ter uns oito anos, estava tremendo e com medo, sua mãe entrou na sala, seu rosto estava sombrio, ele não se lembrava muito bem o porquê, mas ver sua mãe não o confortava nem um pouco.

- Mamãe, o que aconteceu com o Jeff? Ainda posso brincar com ele? - O pequeno Leonard dizia com a voz trêmula. Sua mãe se aproximou e fixou as amarras da mesa nas mãos do garoto. Leonard já nem protestava mais, sabia que gritar não adiantava e ele permaneceria amarrado.

- Não, você não pode. - A mãe disse com a voz ríspida. Ela abriu a pequena gaveta em baixo da maca. A neve caía com mais proeminência agora, o quarto estava escuro e o único barulho além da voz deles era a de um dos candelabros pendurados. - Você estragou tudo Leonard. Agora eles sabem que você é meu menininho especial.

- Mas mamãe, foi sem querer! - Leonard disse tentando inutilmente se levantar. - Ele pegou minha luva e eu queria de volta! - Leonard começou a chorar, ele se lembrou de sua mãe, sem cerimônia alguma, inserindo o líquido doloroso presente na agulha em seu braço. - O que... O que aconteceu com o Jeff?

A mãe ficou em silêncio em alguns minutos, ela vestiu as luvas e pegou a mão do garoto.

- Você matou o Jeff."

Leonard balançou a cabeça e viu o suor pingar no chão. Ele tentou respirar fundo, mas a falta de ar o impedia, ele levantou num pulo e fechou o punho, socando a escrivaninha. Ele não conseguia controlar seus impulsos quando o atingiam com tudo. A escrivaninha se partiu, deixando a mão dele dormente por alguns segundos e incrivelmente dolorida, na verdade a dor aumentava, agora quase dilacerava seu braço todo, então ele gritou. Sentiu sua garganta lançar sua raiva

Jodie apareceu na porta, deslizando, como se tivesse corrido até ali e derrapado. Seus cabelos negros estavam soltos e balançaram quando ela parou, segurando o batente, ela estava vestindo uma camisola com um robe mal amarrado por cima.

- Mas que diabos? O que a mesa fez pra você? - Jodie perguntou entrando no quarto. Leonard estava ajoelhado e tirou a luva para ver o estrago, havia um pedaço da madeira atravessando sua mão. Jodie se aproximou e fez menção de que ia segurar a mão dele. Leonard sentiu toda a adrenalina voltar ao seu corpo naquele momento, como se por instinto ele quisesse se afastar das pessoas.

- Não! - Leonard gritou e caiu sentado para trás. Ele não podia matar outra pessoa assim. O medo, toda vez que alguém se aproximava demais, o devastava e quase o deixava irracional. Mas ele respirou, ou pelo menos tentou e encarou Jodie, os olhos dela eram de uma coloração estranha, antes eram vermelho brilhantes, e agora estavam em um tom quase neon de verde. A Moça Verde ficaria bem com esses olhos.

- Não vou me transformar. Não acha que me preveni contra possíveis acidentes? - Jodie disse ainda com a mão estendida a ele. - Precisamos tirar a madeira e... Caralho, você sangra ouro.

As gotas de ouro líquido começaram e sujar o chão.

- Não encosta em mim. - Ele disse com a voz trêmula, sentia a mão latejar assim como sua cabeça. Ninguém jamais o vira naquele estado, exceto por sua mãe e isso o aterrorizava. - Não pode encostar em mim... Ninguém pode. Vai se machucar.

Gold (O Projeto Zodíaco)Onde histórias criam vida. Descubra agora