Finalmente salvo

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Yuri

Salvo, estou salvo.
Meu pai estava ali,  ele realmente era real, eu não estava sonhado como todas as vezes.
A palavra choro foi um pouco fraca para a coisa que eu estava fazendo ali. 

 Desesperado por atenção, desesperado por carinho lá estava abraçando ele com todas as forças que eu tinha. Dois pontos do meu corte havia aberto pois a pressão do choro foi grande, eu não queria solta-lo para arrumarem, porém eu vi que iria desmaiar por causa do sangue que estava novamente perdendo.

Algumas horas depois eu já estava bem novamente, eu olhava para meu pai curioso.
Ele chega perto de mim arrastando uma cadeira, se senta e coloca a mão sob a minha.

-Yuri.. Tem coisas que eu quero deixar esclarecido, pois não sei o que sua mãe falou de mim.

Afirmo com a cabeça, ela apenas havia me falado que ele era um péssimo pai, que ficou com medo de assumir o filho e foi comprar cigarros.

-Pois bem... - ele continuou depois de limpar a garganta. - Eu não sabia da sua existência, se eu soubesse.. Eu teria arrancado você dela no primeiro momento. Você foi fruto de um relacionamento abusivo Yuri. No começo eu amava a sua mãe, ela era uma pessoa dócil quando a conheci e me apaixonei fielmente..quando comecei a namorar com ela.. Nos primeiros dias e semanas foi tudo mil maravilhas.. Até que ela começou a criar uma certa obsessão por mim, ela tinha ciúmes demais, ela chegava a espantar meus amigos, por causa dela, eu perdi amizades, perdi pessoas importantes. Ela pegava o meu celular e apagava quase todos os contatos, ela chegou a apagar o da minha mãe, acredita? Ela ficou louca.. Quando eu tentei ir embora... Ela não me deixou ir, me seguiu. Ela ficou me observando por dias.. Eu cheguei a chamar a polícia para ela. - Ele explicava com lágrimas nos olhos. -Até que eu decidi mudar para o Japão, lá eu fiz novos amigos. Refiz minha vida. Ela chegou a me contar sobre a gravidez, porém minha mãe me disse que isso era só pra me manter preso a ela.. Que ela nunca teria um filho meu. 

-E eu acreditei em minha mãe. Entende Yuri? Eu nunca pude saber sobre você por que não confiava nela.. Se eu soubesse.. Eu nunca teria deixado você passar por isso tudo.. -Agora suas lágrimas caiam com frequência, molhando sua calça, ele baixa a cabeça e espreme os olhos.- S...Se eu soube...sse yuri.. O..olha só o que.. Ela fez.. Com você.. Ela estragou a sua pele.. Por minha culpa... E..eu devia ter f..ficado.

Me ergo um pouco e me inclino para abraça-lo com força, as lágrimas pesadas enchiam os meus olhos meus olhos também.

-V-viktor.. N-não é s-sua culpa.. Você não sabia de nada.. Por.. Por.. Favor não chore... - Faço carinho em sua nuca para tentar acalma-lo e isso dá certo, aos poucos ele vai se acalmando, alguns minutos depois ele dá um sorriso meigo e beija a minha testa.
-Filho, eu tenho algo para contar a você.. Bom.. Eu não moro mais na Rússia como você sabe.. Então você vai pro Japão comigo..

-C-Como.. Como.. É? V-viktor.. A Wanda... Ela.. Ela.. Mora aqui.. Ela não vai ir pro Japão com a gente..eu.. Não quero me afastar dela..

-Yuri.. Sei como é difícil mas.. Eu não tenho condições para morar aqui novamente, minha casa e minhas coisas estão no Japão.

Não, não queria deixar a Wanda. Ela me ajudou em tudo, ela que me livrou daquilo tudo, ela que me fez conhecer meu pai se não fosse por ela.. Nada disso teria acontecido.. Por que eu tenho que abandona-la..? Eu não quero... Não quero... Não quero... 
Entro em pânico. 

Coloco as mãos na orelha e me curvo, esperemos os olhos e tremo.
Viktor tenta me ajudar, mas é em vão. Ouço a porta abrir e passos rápidos vem até a minha direção, sinto algo quente e confortante me rodear.
-Yuri.. Yuri.. Está tudo bem.. Vai ficar tudo bem.. Yuri.. - Sua voz dócil me conforta.
A abraço com força e começo a chorar.
-W-wanda.. Por.. Por.. Favor.. N-não deixe ele m-me levar para longe de v-você.. Por favor.. Fica c-comigo...
-Você tem que ir Yuri.. Ele é o seu pai.. Eu não iria conseguir vencê-lo para tomar você pra mim... Eu sei que é doído, mas você tem que ir... Mas não chore, eu sempre estarei com você.. Vamos manter contato enquanto você estiver lá.. Eu prometo.. Que nas férias, eu irei ir te visitar...sempre.

Meu coração doía, mas eu sei que ela não podia fazer nada, sei que ela não teria quaisquer tipo de chance contra ele, apenas concordava com a cabeça enquanto meus olhos se enchiam de mais lágrimas.
-Eu Irie te visitar todos os dias enquanto estiver no hospital, vou cuidar de você até você ir... Eu prometo isso também.

O que foi dito foi feito, ela me visitou todos os dias até eu poder viajar, ela me deu alguns livros preferidos dela para levar enquanto eu estivesse no longe dela para sempre que eu pudesse ler lembrar dela. Na hora do embarque foram mais e mais lágrimas, ela me deu um abraço apertado e um beijo na testa, subi com o meu pai até a poltrona do avião e coloquei o cinto como ele havia pedido, peguei um livro e comecei a ler, o livro fora escrito por Hitler,  se chamava "Minha Guerra" lia e desfrutava de tudo daquilo. Olho para fora da janela e vejo o aeroporto se afastando enquanto subiamos para o céu, meu único pedaço de carinho e amor havia ficado para trás com Wanda. Continuo a ler o livro até pegar no sono.

Japão 04:45Am.

-Acorde Yuri, chegamos. -Ouço Viktor falar.

Acordo e olho pros lados,  coço os olhos e bocejo, levanto e saio do avião com Viktor, descemos e fomos pegar nossas bagagens, o clima era frio mas nada comparado o -17 grau da Rússia, depois de pegar nossas malas, pedimos um táxi, e algum tempo depois descemos e pegamos as bagagens, a casa de Viktor era simples, nem muito grande nem pequena, a frente dela era repleta de flores, e havia uma árvore grande e rosa ao lado. Entro com ele e deixo minhas coisas no chão, observo tudo.

-Yuri,  amanhã você vai pra escola e vai ter aulas particulares para aprender a falar e escrever japonês, seu quarto fica no sótão, vai gostar dele e vai poder decorar como quiser. -Ele fala levando as bagagens para um lugar que eu não conseguia ver.

Vou para o meu novo quarto e abro a porta, olho ao redor e sorrio, havia uma grande e redonda janela que dava para ver a rua e a árvore rosa, chego perto dela e vejo que dá para abrir, vejo sair um garoto meio moreno da casa da frente, o olho curioso, ele parecia ter a mesma idade que eu, olho pra ele e ele me olha. Sua cara não expressava nada mas ele acena pra mim, aceno e fecho a cortina da janela. 

Ele me lembrava alguém, deito em minha cama e fico pensando sobre tudo o que aconteceu até pegar no sono novamente.

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