5 - Posso te levar para casa?

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Sábado, 29/06/17, 8:11h. AM

Várias vezes depois de formada Abigail fez piada sobre o privilégio de poder ficar em uma cela especial caso fosse presa, ela só não contava que aquilo de fato fosse acontecer algum dia, Sua vida (ou o que restara dela),estava de cabeça para baixo, e ela não dispunha de muito tempo e isso a estava matando, (claro talvez não mais do que a sua doença rara), enquanto era conduzida para a sala do delegado não pode deixar de espiar o relógio na parede e contar quanto tempo ainda tinha de vida, já que agora esta estava reduzida a praticamente dois dias.

Já eram oito horas da manhã do dia seguinte quando ela finalmente fora interrogada, por um agente sisudo que se apresentou como Souza, o homem era alto, magro e tinha uma mecha de cabelos grisalhos, Abigail considerou que o sujeito deveria ter uns quarenta anos aproximadamente.

Souza a pôs a par da situação, o nome do desconhecido com o qual havia sido presa era Tomás, e ele era "puxador" de carros, e para o desespero de Abigail o sujeito tinha uma ficha, criminal extensa de roubos de veículos e para sua sorte Tomas estava sendo investigado pela polícia a vários meses e a polícia só estava esperando para pegá-lo no flagrante.

O agente Souza jogou um chumaço de papel com mais de cinquenta folhas que bateram pesadamente sobre a mesa ecoando na saleta, Souza sentou-se no canto da mesa, alisando seus suspensórios com uma mão e paginando o documento com a outra por alguns segundos que pareceram a Abigail uma eternidade, ela já estava prestes a protestar quando a voz do agente quebrou o silêncio do recinto.

– New Beatle, camaro, picapes, caminhonetes, e outros carros de luxo que Abigail nunca tinha ouvido falar.

– Seu namorado tem uma ficha extensa...

– Ele não é meu namorado!

– Hum. Souza tinha um ar debochado no rosto.

– Entendo, e qual seria o seu envolvimento com o Meliante?

– Eu, bom eu estava só...

– Abigail procurava as palavras certas, mas nada que ela pudesse pensar poderia amenizar a sua situação.

– Eu nem conheço ele, esse Tomás!

– De acordo com o relato do Sargento vocês pareciam bem íntimos ontem!

Abigail corou, procurou sua voz, ela parecia lhe faltar, respirou fundo, precisava falar a verdade pra se livrar daquela merda, já tinha perdido a noite toda e se ela ficasse presa certamente morreria sem realizar sua ambição.

– Me conte a verdade! – Pressionou o agente Souza.

– É verdade senhor, eu não o conheço, esse Tomas, eu não tenho nada a ver com ele, fui uma idiota, queria uma aventura daí dei em cima dele no bar, e ele...

– Ele o que?

– Aquele filho da uma puta podia ao menos ter me levado para um motel, mas não, ao invés disso o tarado queria me pegar num caro! – Desabafou abigail irritada.

O agente a encarou e sorriu com o canto de boca, fitando o decote da sua blusa, é deu uma piscada é falou baixinho como se conversasse  consigo mesmo.

– Vai ver ele não conseguiu esperar!

Abigail corou ao ouvir o comentário, o agente fechou a cara e o encarou com cara de poucos amigos, o policial por sua vez fez de conta que nada havia acontecido, prosseguiu falando.

– Ok, Senhorita Abigail, a versão bate com o depoimento do elemento, você será liberada.

o policial continuou falando mais algumas coisas mas Abigail não o escutava, ela sentia-se muito aliviada em saber que não morreria naquele lugar, (sem gozar). Na parede o relógio marcava oito e quarenta, ela tinha perdido a noite mas ainda tinha praticamente dois dias pela frente, tempo suficiente para ela realizar a sua ambição ao menos uma vez (quem sabe até mais de uma!) antes de morrer.

– Você está me ouvindo? – Perguntou irritado o agente.

– Claro – Mentiu Abigail.

– Como eu estava dizendo, não saia da cidade nos próximos dias você poderá ser chamada como testemunha no julgamento.

– Você entende isso?

– Sim – Abigail não se deu ao trabalho de explicar ao agente que como essas coisas de justiça demoram ela já estaria morta e enterrada quando a data do julgamento fosse marcada.

– Entendo – disse por fim!

– Ok, seus pertences estão com o escrivão, é melhor você correr porque ele está na troca de turno, e aqui na sala ao lado.

– Obrigado – Saiu trôpega, da saleta do agente Souza e adentrou a sala ao lado ela era maior, nela haviam três mesas duas estavam vazias e um sujeito de costas arrumava uma mochila provavelmente o escrivão – Oi bom dia! – Arriscou Abigail.

– Bom dia! – respondeu o homem ainda de costas.

– Fui liberada e preciso dos meus pertences.

– Acho que você terá de esperar pelo meu colega senhora ele deve chegar em vinte minutos no máximo...

O homem se virou e olhou Abigail, ela era uma morena de estatura média, e apesar de estar em uma roupa sem graça tinha um belo corpo, sem falar em um rosto muito bonito.

Ele olhou ao redor meio que analisando se não vinha ninguém e disparou.

– Bom para uma gracinha assim que nem você eu posso até abrir uma exceção!

Satisfeita, Abigail retribuiu o sorriso e após receber seus pertences e assinar alguns documentos o escrivão perguntou maliciosamente se ela já tinha carona pra voltar pra casa?

Ela analisou o sujeito, ele era um coroa, tinha uma cara malandra e olhos azuis muito vivos, ela imaginou que ele certamente deveria ser um sujeito bem experiente, quem sabe até ele fosse experiente do jeito que ela estava necessitando.

Abigail olhou as horas no relógio apenas para se escorar no gesto, porque nem viu os ponteiros, de tão nervosa que estava, respirou fundo e pensou (é agora ou nunca!)

– Não, na verdade não!

– Posso leva-la em casa? – ofereceu-se o escrivão.

– Não me entenda mal gato, o que eu tenho em mente não precisa ser necessariamente na minha casa, pode ser até na sua, se você quiser...

Os últimos dias de AbigailOnde histórias criam vida. Descubra agora