Ele só conseguia se lembrar dos olhos de Clara. E, ainda assim, não podia afirmar que eram mesmo suas lembranças e nem se Clara de fato existia. Quem havia misturado informações em sua mente, a ponto de apagar o nome de seu melhor amigo e criar novo...
O que os homens de bem querem é me reenquadrar. Ou seja, querem me colocar de volta dentro do quadro que eles próprios criaram. Sei que não é muito fácil entender isso. Vou tentar ajudar. Pense em uma imagem de uma praça movimentada da sua cidade, com muitas pessoas circulando. Cada uma delas tem a sua vida e cumpre uma função na sociedade a que pertence. Imagine que essa imagem seja um quadro na parede. As pessoas que estão nesse quadro estão enquadradas, certo? Agora imagine que uma delas salte pra fora desse quadro e caia na parede. Essa pessoa sou eu.
Eu descobri que existe uma parede enorme ao redor do quadro. E você já pode imaginar que onde existe uma parede, existem muito mais coisas, não é? Bem, isso é só uma metáfora. Mas é mais ou menos assim que são as coisas. Eu descobri toda a verdade. Só que isso é muito perigoso. Finja que você não está lendo isso ou que realmente não está acreditando em nenhuma palavra que eu estou escrevendo. Será melhor pra você.
Os homens de branco são os encarregados de me fazer desacreditar na verdade. Na verdade que eu descobri e não na que foi inventada para nos enquadrar. Sim, você também está enquadrado. Mas, por enquanto, é melhor assim. Pode rir se quiser. Voltando ao que eu estava dizendo, os homens de branco tentam a minha reinserção social. Querem que eu pense que apenas enlouqueci ou que estava acometido por uma doença mental qualquer. Essa é a estratégia para camuflar a verdade. O sistema pode ruir se muitos descobrirem-na. Depois eu explico o porquê. Agora preciso ir. Ouço passos no corredor...
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Este é o oitavo intermezzo de Memórias de Quem. Se você ainda não leu os outros, volte e leia para entender esta trama "paralela" do livro. Não se esqueça de votar, comentar e compartilhar este intermezzo. Muito obrigado!
