2. Beco Diagonal

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𝓖ale ouviu sons alegres vindos do andar de baixo e se revirou na cama ainda com os olhos fechados, jogando um dos travesseiros sobre sua cabeça, para ver se os sons diminuíam. O que não adiantou, já que as vozes ainda pareciam estar dentro de sua cabeça de tão altas que chegavam aos seus ouvidos.

Ela se deu por vencida e enfiou a cabeça no travesseiro em que dormira, abrindo os olhos e grunhindo para si mesma.

— Por Merlin! Essas pessoas não conhecem o Abaffiato? — Seu relógio de pulso marcava dez horas da manhã, mas era cedo para ela que pretendia dormir até a hora do almoço, ou mais tarde.

O quarto ao seu redor era espaçoso; com paredes cobertas por um papel de parede marrom claro com detalhes em bege e prateleiras suspensas com alguns livros e objetos que ela deixara ainda em sua infância. Havia um grande guarda-roupa branco provençal e uma penteadeira que fazia conjunto com ele na parede oposta da cama. Esta tinha um dossel que caía até o chão, e dava um ar luxuoso e antigo ao quarto.

Gale deslizou até o chão e abriu as pesadas cortinas francesas, odiando não poder usar magia, afinal, estava matriculada em Hogwarts. Meio cambaleando, caminhou até o banheiro na porta ao lado da cama e se enfiou embaixo do chuveiro para despertar de verdade.

Sonhara que estava em sua casa em Nova Iorque com suas duas melhores amigas, Loretta e Lisa, se preparando para o início do novo ano letivo. Elas conversavam sobre seus colegas e lembrava-se de terem rido alto demais quando Lisa fizera uma piada sobre um dos garotos que normalmente tentava conseguir sua atenção. O sonho parecia mais como uma lembrança recorrente. Uma lembrança que demoraria para ser repetida, agora que Loretta e Lisa estavam sozinhas na América, sem Gale.

Quando a água começou a cair sobre ela, as vozes foram amenizadas pelo barulho. "Eu deveria dormir aqui essa noite, assim não acordaria com essa barulheira toda", Gale riu sarcasticamente para si mesma. Cada músculo seu doía e ela amaldiçoou a viagem extremamente cansativa que fizera, por fazer seu corpo acreditar que ela caíra de uma vassoura enquanto sobrevoava o parlamento britânico. Pois certamente era essa a impressão que seus ossos deveriam ter, já que não estavam acostumados a ficar tanto tempo sentados em um espaço tão pequeno.

Lembrou-se do avião. Estava cheio de no-majs e ela teve que se sentar entre sua mãe e uma mulher de uns setenta anos que não parava de lhe fazer perguntas sobre sua escola, seus amigos e namorados, as quais ela respondia monossilabicamente. Até que Gale aproveitou que a mulher fora ao banheiro e fingiu que estava dormindo. O que foi uma péssima ideia, já que a mulher então se curvou sobre ela para conversar com sua mãe. Perdeu a conta de quantas vezes durante a viagem desejou fortemente que a Lei Rappaport ainda existisse, pois assim elas nem poderiam estar ali, dividindo espaço com aquelas pessoas.

Quando as coisas pareciam impossíveis de piorar, uma mulher de saia lisa e blazer, que seguidamente estava ampliando sua voz em um objeto metálico, passou com um carrinho lhes oferecendo lanche. Gale então se animou pela primeira vez, pois acreditou que serviriam lanches como os dos trens bruxos, em que ela poderia comprar o que quisesse com seu dinheiro no-maj e se distrair por alguns minutos. Mas então quando chegou sua vez, o sorriso dela se transformou instantaneamente em uma expressão indignada quando a moça lhe ofereceu salgadinhos ou um... Merlin, qual era o nome? Hambúrguer?

Tudo o que Gale tinha para dizer sobre a viagem é que haviam sido doze horas de pura tortura, e ela jurou para a mãe que não voltaria para Nova Iorque daquela forma, dizendo que preferia enfrentar um dragão a entrar em um daqueles "pássaros monstruosos" em que os no-majs acreditavam realmente estar voando. Como se voar fosse parecido com aquilo! Nem na primeira vez em que montara em uma vassoura enfrentara tantas turbulências.

A Última Gaunt [EM HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora