Capítulo 04

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— Algumas semanas de recuperação e depois sessões de fisioterapia farão com que o senhor ande normalmente.
O médico do plantão da noite fala ao anotar algumas informações na sua prancheta.
— Que ótimo, já posso ter alta?
O médico me encara, depois volta a encarar meu pai.
— Hoje, às 10:00 da manhã, o próximo médico te dará alta, mas por agora preciso que você tome alguns remédios.
— Eu não sinto mais dor.
— Justamente por causa desses remédios. — O médico rebate em um tom divertido. — A enfermeira virar aplicar o soro no senhor.
— Ok.
Meu pai diz, visivelmente cansado, ele se encosta na cama, sigo para fora com o doutor.
— Então, ele está bem?
— Oh, sim, seu pai é muito saudável, tomando os remédios direito e na hora certa, logo ele estará novo em folha.
— Ótima notícia!.
O Doutor me encara por longo tempo.
— Jamie, noite passada, você foi ao quarto de Anne Evans?
Então, esse é o sobrenome dela.
Respiro fundo, passo a mão em meu cabelo, fazendo a franja que está se formando devido a seu tamanho, cair em minha testa.
— Encontrei o quarto dela e entrei. Eu não fiz nada de errado.
— Você ficou com ela a noite toda?
— Apenas algumas horas, teve algum problema? Se teve, não volto mais lá.
— Você estava planejando voltar?
Ele pergunta cético.
— Sim.
Então abre um sorriso e assenti.
— Visitas faram bem a ela.
Ele fala solene.
— Por quê?
— Anne sempre foi uma boa garota, conheci sua mãe, tenho um carinho grande pela menina, parte meu coração o abandono que ela sofreu, por isso fazemos de tudo para ela se sentir em casa.
— Me desculpe, mas não acho que alguém queria se sentir em casa em um hospital.
Ele ri, leio seu nome em seu crachá, Jack.
— Não, ninguém quer, mas isso é o máximo que podemos dar a ela, e bem com sua presença, talvez, alguém diferente, ela fique menos pior, ninguém sabe quando ela irá acordar, se acordará. Mas não abuse, ficarei de olho em você.
— Entendo.
— Bem, era só isso, mais tarde volto para ver seu pai.
— Obrigado, Jack.
Ele sorriu e saiu andando com seu jaleco branco.

                                                                                              ~∆~

Ela sorri abertamente, seu cabelo ruivo está solto caindo nos ombros, ela está abraçada a uma mulher loira que se parece muito com ela, as duas parecem felizes, acho que é a mãe de Anne. Nessa ela está fazendo biquinho para foto, tem uma garota negra com ela, os cabelos das duas estão trançados igualmente. Na outra, Anne parece nas costas de um homem alto de cabelo preto, eles estão felizes, deve ser seu pai, o cara que a abandonou. Toco a que ela está sentada na grama, seu cabelo está curto em cima dos ombros, ela está lendo um livro e alguém tirou essa foto.
— Você parecia tão feliz. — Me viro e a encaro, fico a observando. — A vida foi muito cruel com você, não é mesmo? — Vou até a cortina, a abro, deixo o céu visível para nós, ou melhor, para mim. — Há quase dois anos você não vê uma estrela, isso deve ser a coisa mais triste, mas você também não está perdendo muito, a poluição de Nova York não nos permite ver muito bem. — Caminho para perto dela e toco nas flores recém-colocadas aqui. — Será que você irá sentir muita diferença ao acordar? Quando perceber o que fizeram com você. — Me sento ao seu lado e pego sua mão. — Anne Evans, eu sinto muito por você, eu não sei por que estou aqui, mas por algum motivo ainda contínuo aqui.
Fico observando seu rosto. Eu poderia facilmente desenhá-lo. Anne é muito bonita. Eu poderia ficar horas olhando para ela que eu não me cansaria.
— Se fosse uma vida diferente, eu ficaria te admirando ao longe, observando os ventos baterem em seu cabelo.
Não consigo parar de olhar para ela. Um sentimento de empatia está crescendo em mim de uma forma como eu nunca senti.
— Ela tem esse poder, não é? Nos encantamos mesmo não dizendo nada, mesmo com esses olhos fechados.
Nora aparece sorrindo.
— Oi, Nora.
— Você voltou.
— Sim.
Ela anui e vem para perto de Anne, então toca o rosto dela com delicadeza.
— Olá, garota, você tem um amigo, então acho que está na hora de você acordar para cumprimentá-lo, você já ficou tempo demais em silêncio. — Desvio os meus olhos e encaro a parede. — Ela toca.
— O quê?
Encaro, Nora.
— Anne toca piano, um dia, quando sua amiga veio aqui, ela colocou um vídeo de Anne tocando. Ela toca tão bem, é lindo, parece que aprendeu com a mãe.
Olho para as pálidas mãos dela, seus dedos delicados e gelados.
— Você conhece a família dela?
— Apenas o pai e a desagradável madrasta dela, mas é visível que ambas não se davam bem. — Nora ajeita o aparelho no dedo de Anne. — Não é de se surpreender, Anne é um doce e a madrasta uma megera.
— Você parece a conhecer muito.
Ela riu feliz.
— Quando Anne ainda recebia visita, bem ela tinha uma amiga Bethâny e ela contava tudo sobre Anne, mostrava fotos, vídeos, poemas, tudo que pertencia a minha menina, ela conhece muito bem a Anne, elas são melhores amigas, ou eram, acabou que eu realmente conheci a Anne sem nem ao menos trocar se quer uma palavra com ela. — Nora, para o que está fazendo e me encara. — Sabe, Jamie, às vezes conhecemos melhor as pessoas através do silêncio, palavras mal ditas e imagens podem ser distorcidas, mas o silêncio, esse, diz tudo.
Engulo em seco com a intensidade de seu olhar, pigarrei-o.
— Nenhum outro parente veio a ver?
— Não, tentamos contatar outras pessoas, mas nenhum respondia ou entrava em contato.
— Estranho.
— Sim. Bem, tenho que ir, tenho mais pacientes, só vim dar uma olhadinha.
— Obrigado, Nora.
— Não há o que agradecer. Ah, seu pai já está no sétimo sono.
— Os remédios, eu vi.
— Ele está bem.
— Eu sei.
— Eu já vou vindo, mais tarde eu volto.
— Bom trabalho.
— Cuide da minha menina.
— Eu vou.
Observo Nora saindo. Volto a encarar Anne, meus olhos estão presos nela.

Decorei cada detalhe do quarto, cada canto dele, procuro o que fazer. Vou até a mesinha ao lado da cama, mexo na gaveta, encaro o caderninho de capa de coro marrom, o pego e analiso. Sento-me ao lado de Anne e o abro, e aqui está, um diário, o diário de Anne, passo os dedos na sua letra redonda e bonita, me pergunto se é muita invasão de privacidade ler. Bem, agora serei sua companhia e quero conhecê-la, ouço a porta sendo aberta, guardo o pequeno caderno dentro da minha calça e o cubro com minha camisa, fecho o criado e vou até a janela como se estivesse vendo a lua.
— Seu pai está te chamando.
Izzy aparece sorrindo, ela olha para Anne e faz uma expressão carinhosa.
— Estou indo.
Olho para a garota que o mundo esqueceu e seguro sua mão por alguns minutos. Saio do quarto, levando seus segredos mais íntimos.

Não Me Deixe IrOnde histórias criam vida. Descubra agora