Capítulo 01

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Estaciono de qualquer jeito na entrada do hospital, saio do carro e corro até a recepção. Uma loira alta, com cara de desgosto pela vida, faz uma careta ao me ver chegando correndo.
— Boa noite. Estou procurando Brad Stone, acidente de carro há vinte minutos, sou filho dele, Jamie Stone.
— Irei verificar. — A mulher amarga fala friamente, digita no computador e me encara. — Ele deu entrada há vinte minutos, está na sala de operação.
— Oh, meu Deus.
— Calma, ele só quebrou o joelho, precisou ser operado. A cirurgia acabou de começar. Espere na sala de espera e depois um médico irá falar com você.
— Obrigado.
Caminho para a porta dupla branca, chamo o elevador e entro. Em seguida, saio na sala de espera pós-cirúrgica, vou para um banco, sento-me e fico alisando meu cabelo, o puxo para ter certeza de que estou aqui.

Não sei quanto tempo se passa, nem sei mais que horas são. Minhas pernas doem de ficar andando de um lado para o outro, mas finalmente um médico aparece.
— Parente de Brad Stone?
— Eu. — Dou três passos largos e paro em frente ao médico. — Sou filho dele, como está meu pai?
— Ele rompeu um ligamento no dedão do pé, quebrou o joelho esquerdo, por isso tivemos que operar. Colocamos pinos nele, alguns machucados, mas que se curaram rapidamente. Ele está bem, está no quarto.
— Posso vê-lo?
— Dentro de meia hora. Estão dando medicamentos para ele, uma enfermeira virá te buscar.
— Obrigado.

Meia hora se passam, ou menos, o tempo está voando aqui, uma mulher baixinha com cabelo tingido de vermelho, vem sorrindo até mim.
— Jamie Stone?
— Sim, sou eu.
— Sou a enfermeira Mery, vou te levar até seu pai.
— Obrigado.

Ela segue em frente e eu atrás. Mãos nos bolsos da minha jaqueta, pés em linha reta. Passamos por uma porta dupla e entramos em uma ala toda branca, com leitos vazios e alguns ocupados.
— Seu pai está ali.
Vejo meu pai, acelero os passos, meu coração se acalma quando nossos olhos se encontram. Respiro fundo e o abraço com delicadeza.
— Você quase me matou do coração.
Ele solta uma pequena risada, o solto e o encaro. Seu aspecto está bom, mas sei que ele está preocupado.
— Foi um susto e tanto.
Sento-me na cadeira ao lado da cama e o encaro.
— Não gosto desses tipos de susto pai, nem a mamãe. Sorte que ela está na casa da minha tia.
— Ela ficará brava quando voltar. Você não contou a ela, contou?
Ele tira o cabelo da testa, meu pai tem 50 anos, cabelo grisalho. Gosto do modo como sua aparência ficou.
— Não, não deu tempo.
— Bem, como ela só volta daqui a duas semanas para o Natal, acho que não há necessidade de contar.
— Ela irá brigar com nós dois!.
— Deixe sua mãe comigo.
— E como o senhor está?
— Um joelho ferrado não é o suficiente para fazer seu velho pai desistir da vida. Estou bem. Esse corte em minha testa fará sua mãe delirar, me deixa com uma cara sexy. Quando éramos jovens ela adorava homens com marcas de feridas. Bem, agora ela tem um homem assim.
Abro um sorriso para as suas palavras.
— Certo, e quando terá alta?
— Daqui a dois dias, então poderei ir para casa.
— Certo, trarei algumas roupas para você.
— Ligue para o meu trabalho e avise do acidente.
— Farei isso.
— Traga meus jornais, pode ser à tarde, já que você faz faculdade de manhã.
— Sim senhor.
Olhamos para seu joelho recém-operado.
— Ele não estava bêbado, muito menos eu. Foi devido à chuva de ontem, a estrada estava molhada.
— Manhattan fica um caos quando chove.
— Pagamos o maior imposto dos Estados Unidos para andar deslizando na rua.
— O importante é que você está bem.
— Sim. E você não deveria estar no trabalho?
— Finnick colocou Clayson em meu lugar, o boliche não irá falir sem mim.
— Ainda acho que você deveria sair daquele lugar.
— Meu aluguel não se pagará sozinho.
— Sabe que eu posso te arrumar um trabalho melhor.
— Gosto de caminhar com minhas próprias pernas.
— Só te darei os sapatos, o resto você faz.
— Pai, estou bem. No dia que eu precisar de um serviço melhor eu te falo e você me ajuda.
— Estarei ansioso por esse dia.

~∆~

Deixei meu pai no hospital, vim tomar um banho e trocar de roupa, já que passarei a noite com ele. Antes, passei na minha antiga casa e peguei suas coisas. Tomo um gole da cerveja que peguei na geladeira, vou para meu quarto, tiro minha roupa e entro no banho. A água quente me abraça. Depois de uma notícia como a que recebi pelo celular, tudo que preciso agora é de um bom banho.

Saio do banho, revigorado. A parte boa de morar sozinho é poder andar pelado pela casa, o que eu vivo fazendo. Abro a geladeira, pego um pedaço de pizza gelada, dou uma mordida e tomo um gole da cerveja. Volto para o quarto para vestir uma roupa.

— Tem certeza que quer passar a noite aqui? Eu estou bem.
Meu pai fala enfadado. Arqueio uma sobrancelha.
— Tenho, não será esforço algum. Ficar a noite acordado é costume, afinal, trabalho em um boliche noturno.
— Pelo menos lá você pode paquerar, aqui você fica vendo a cara fechada das enfermeiras e pessoas enfermas.
— Prefere que eu fique aqui ou ligue para mamãe?.
— Esta me chantageando moleque?.
Seu tom é de indignação.
— Estou.
— Só não encha meu saco, ande por aí, mas não fique me velando feito quem vela mortos.
— Qualquer coisa, é só apertar o botão ao lado da cama.
— Você ainda está aqui, Jamie?
Solto uma risada e saio do quarto, a procura do que fazer nesse hospital.

Chego no refeitório e ele está cheio, tanto pelos funcionários quanto pelos acompanhantes dos pacientes. Como minha noite será longa, vou atrás de um café. Caminho até o balcão e paro em frente a atendente.
— Boa noite, um café pingado, por favor, e sem açúcar.
— Saindo.
Pego meu celular enquanto preparam meu café e mando uma mensagem para minha mãe.

"Como estão as coisas por aí?"
Meu pai não quer que eu conte a ela sobre o acidente. Então, não irei contar, mas sei que quando ela chegar, ele ouvirá até o dia da sua morte.
"Esta tudo bem. Falou com seu pai hoje?"
Franzo a testa.
"Só bom dia."
— Aqui está, senhor. — Ela me entrega o café. — Pode pagar no caixa, são 2 dólares.
— Obrigado.
"Pelo horário, ele deve estar dormindo"
"Provavelmente, tenho que ir, te amo, qualquer coisa me liga."
"Também te amo, cuida do seu pai."
Ferrou.

Não Me Deixe IrOnde histórias criam vida. Descubra agora