"Às vezes os dias são nublados, às vezes os dias são ensolarados, e às vezes o dia é como hoje, tempestuoso. Sabe, o ruim de Nova York é que quando chove ela entra em caos, quando neva também, é uma cidade que está pronta para tudo, mas nunca sabe lidar com o clima quando vem. Se você entra em Nova York, as pessoas dizem que o clima lá fora é diferente, aqui o clima é úmido e que em outros lugares não, eu não me importo, gosto de Nova York, porque se você mora aqui, você começa a conhecer muito bem a cidade e descobre lugares que poucos conhecem. Nova York é a cidade que nunca dorme e eu amo isso nela, porque quando Betty e eu resolvemos sair sorrateiramente de casa no meio da noite, a cidade que nunca dorme nos abraçou.
— Sua mãe ira nos matar, meu pai ira nos matar.
Falo rindo enquanto andamos pela Times Square.
— Pelo menos passaremos uma noite incrível.
Betty e eu passamos por vitrines de lojas.
— Sabe, pela ausência da minha mãe e dele, meu pai me deu um cartão ilimitado para eu usar.
Falo e Betty sorrir.
— O que estamos esperando?.
Sorrimos e entramos na primeira loja, e em seguida na segunda, e na terceira e assim foi, tirando o tanto de cafeteria que entramos, confeitarias, literalmente passamos a noite incrível de nossas vidas, mas como minha mãe dizia o sol sempre volta, e com ele tivemos que voltar para casa.
— Sacolas é?.
Grito de susto quando Daphne acende a luz do meu quarto.
— Que susto.
— Onde você estava?.
— Fazendo compras.
Mostro as sacolas para ela.
— A essa hora da noite?.
— E por acaso tem hora certa para fazer compras?.
A mesma me encara com uma carranca.
— Seu pai não vai gostar nada disso.
— Serio? Que ótimo, será a primeira reação que terei dele em dois anos!
Falo ácida, guardo as sacolas no meu guarda-roupa.
— Me dê seu cartão.
— Não.
— Me dê seu cartão, Anne.
— Não, papai me deu, você não tem direito de pegá-lo.
— Me dê a merda desse cartão Anne.
Ela vem para cima de mim e arranca minha bolsa do meu braço, a abre e pega meu cartão.
— Me devolva!.
— Você quer de volta?.
Ela segura o cartão e o dobra ao meio, então ele se parte em dois, ela sorrir e deixa o cartão cair no chão.
— Você é uma vaca sabia?.
— Como é?.
— Você é uma vaca, nunca tomará o lugar de minha mãe na vida de meu pai, nunca será ela. Então, repetirei para você entender. Você é uma vaca.
Falo ácida, abro um sorriso de escárnio.
— Escuta aqui, garota... — Eu a empurro para fora do meu quarto. — Esta maluca?
A empurro com força e ela cai de bunda no chão da porta.
— Saia do meu quarto, sua vaca burra!
Fecho a porta em sua cara e fico encarando o sol pela janela, a ouço saindo do corredor do meu quarto, apoio minha cabeça na porta e respiro fundo, minhas lágrimas de raiva caiem.
Vou até minha cama e me deito, deixo que as lágrimas silenciosas caiam, uma batida na porta me faz encolher.
— Vá embora.
— Anne.
— Vá embora!.
Ele entra, seus olhos encontram o meu.
— Você empurrou a Daphne e a chamou de vaca.
— Só fiz o que ela merecia, e se ela não aguenta a verdade o problema é dela.
— Anne, você não pode tratá-la assim!.
Me levanto e o encaro.
— Eu a odeio.
— Por quê?.
— Porque eu a odeio papai, a odeio. Ela quebrou o cartão que você me deu!.
— Ela estava nervosa.
— Ela é louca, isso sim.
— Anne.
Eu o encarei e nesse momento a raiva me tomou.
— Por quê?
— O quê?
— Por que papai? Por que me trata assim esses anos todo desde que mamãe morreu?.
— Assim como?.
Sua voz sai dura.
— Esse é o diálogo mais longo que tivemos após sua morte, você me trata mal, você não fala mais comigo, não me olha. O que eu fiz? Onde foi que nos perdemos? O que fiz de errado?
— Não te trato mal, Anne, eu falo com você sempre.
— Bom dia, boa tarde e boa noite não é falar com uma pessoa papai!. Por que você me odeia?.
— Está maluca, eu não te odeio Anne!.
— Você nunca mais me chamou de filha, nunca mais me chamou de meu anjo, você nunca mais agiu como um pai. Você não acha que já foi o suficiente, para mim, ter perdido minha mãe, mas eu tinha que te perder também? Você também, não, papai, ela morreu, ela não teve escolha, mamãe nunca escolheria nos deixar, mas você, você, escolheu me deixar, papai!
Em seus olhos há lágrimas, e elas escorrem.
— Você...
Sua frase se perde no ar, fico o encarando por minutos e minutos, até que fechos os olhos e começo a chorar.
— Vá embora, por favor.
— Anne.
— Vá embora! Eu queria estar morta com a mamãe.
Ele anda e se ajoelha na minha frente, então segura meus braços!
— Olhe para mim. — Forço meus olhos a ficarem fechados. — Olhe para mim, Anne! — Eu o encaro e ele está chorando. — Nunca mais repita isso, nunca mais diga que quer estar morta! Nunca mais, Anne!
— Você me abandonou.
— Não.
— Você me abandonou. Vá embora!
— Anne.
— Vá embora!.
O empurro e ele se levanta, fica me encarando. Então se vira e sai do meu quarto fechando a porta, volto a me deitar, abraço o travesseiro e choro.
Você nunca entendeu o nível de abandono que você me deixou, papai, nunca via o quanto ele me destruía. Havia dias em que estávamos sentados na mesa comendo e você não olhava uma vez se quer para mim, e nesses dias, papai, nesses dias eu desejava morrer, porque eu precisava de você, assim como o mar precisa da lua ou como os vaga-lumes precisam da noite para brilhar, eu só precisava do meu pai."Entro no hospital e vou para recepção, por sorte encontro Nora, sorrio quando a vejo, mas ela não sorrir quando me vê e nesse momento meu coração dispara.
Ela vem até mim e suspira.
— Vamos la ver a minha menina?.
Assentiu e a sigo para o elevador, alguma coisa em mim se agita, algo como um mau presságio, mas confio em Nora, não acho que ela deixe algo ruim acontecer com Anne.
A porta do elevador se abre na ala de Anne, saímos dele e entramos no quarto.
Chego perto dela e seguro sua mão, gelada como sempre, me pergunto qual é a temperatura normal da sua mão.
Nora abre as persianas e deixa o sol entrar, a luz faz bem a Anne.
— E como ela esta Nora?.
— Bem, foi apenas um susto.
— Que bom.
Ficamos ali por algum tempo. Nora arruma as coisas no quarto e eu fico ao lado de Anne, sua pele está avermelhada porque o sol está bem em seu rosto, mas ela fica bonita assim, Anne fica bonita de qualquer jeito.
Ouço Nora fungar algumas vezes, mas não falo nada, franzo a testa e fico ali com elas em silêncio, até que ouço Nora chorando.
Me viro e a encaro.
— O que foi Nora?. — Ela me olha com muita tristeza e isso aperta meu coração. — Nora o que está acontecendo?.
— Eles vão desligar os aparelhos, Jamie, minha menina vai embora para sempre.
Absorvo as palavras que Nora acabou de dizer. Meu coração está desesperado. Estou desesperado.
Meus olhos estão fixados nela.
Anne irá embora. Anne irá morrer.
Penso em tudo que li em seu diário.
Ele precisa viver.
Solto Nora e chego perto da menina que não sai da minha cabeça.
Me ajoelho perto da beira da sua cama.
— Não vai acontecer nada de ruim com você. Não deixarei. Nem que eu tenha que mover céus e terras. — Minha voz sai embargada. — Mas preciso que você lute.
Seguro sua mão gelada.
Uma raiva toma conta de mim. Uma dor invade meu coração. É como se eu estivesse levando socos no estômago.
Tento controlar as lágrimas que estão surgindo descontroladamente.
Quero gritar para os céus e pedir para fazerem algo. Queria pegá-la e abraçá-la até ela acordar.
Sinto a mão de Nora em meu ombro.
— Não há nada de possamos fazer por ela, Jamie.
— Você não entende!.
Falo entre os dentes.
— Eu entendo, meu querido. Anne não é só um paciente para mim. — Nora está chorando ao ponto de quase não consegui falar. — Ela se tornou uma filha para mim. As pessoas me acham maluca por me apegar a uma garota que não sabe da minha existência. Falam que se algum dia ela acorda, ela nunca mais terá contado comigo. Mas Jamie, esse seria um preço justo a pagar se isso significasse que Anne viveria uma vida de verdade.
Aperto a mão de Anne.
— Não vá, fique aqui, por favor. Comece uma nova vida, mesmo que eu não faça parte dela. Renuncio a tudo, eu prometo não ir atrás de você desde que você viva. Acorde e vá para a faculdade, Anne. Faça novos amigos. Eu não me importo de ficar te observando de longe. Serei o seu fiel telespectador. E se você, após viver, chegar até mim, prometo segurar sua mão sempre que puder. Prometo te abraçar quando precisar. Prometo te chamar para um encontro como duas pessoas normais. Mas viva Anne. Fique aqui. Não posso deixar você ir.
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Não Me Deixe Ir
RomanceAnne sofreu um acidente de carro há um ano e meio atrás, entrou em coma e por algum motivo nunca acordou. Sua vida foi interrompida bruscamente após sofrer o terrível acidente. Abandonada em um leito hospitalar com apenas os médicos e pela equipe de...