Capitulo 14

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"Se alguém que você ama morre, você se arrepende infinitamente das horas que você poderia dar a essa pessoa, mas que nunca deu, porque preferia fazer outra coisa na hora. Nossas vidas são contadas no relógio, você nunca sabe quanto tempo realmente se tem. Lembro-me do dia em que mamãe descobriu sobre seu câncer, foi o pior dia da vida dela, ela e papai choraram a noite toda, e eu também, desde esse dia eu passava todos os minutos com a minha mãe.
Acompanhei seu tratamento, a quimioterapia a deixava tão mal ao ponto de ela passar o dia inteiro dormindo, eu não me importava dela dormir. Uma vez, eu estava na sala tocando piano e ela estava no sofá. Mamãe tinha um lenço na cabeça ao perder os cabelos devido ao tratamento, mas ela ainda continuava linda. Ela dormia enquanto eu tocava, então parei de tocar e fiquei a absorver.
— Eu sempre sei quando você está me observando.
Solto uma risada e vou para o sofá, ela vai mais para o canto e eu me deito ao seu lado. Mamãe abre os olhos e me encara.
Está com dor?
Ela nega com a cabeça e sorri, não acreditei nela, porque mesmo com dor ela sempre sorria.
Você toca tão bem.
Sua voz sai em sussurros.
Gosto de tocar.
Eu sei e eu gosto de te ver tocar.
Mamãe, você não ira morrer, né?
Nunca, por isso estou fazendo tratamento, nunca vou te deixar.
Que bom, porque quero que você vá ao meu casamento.
Ela sorri e ergue uma sobrancelha.
Já está pensando em casar é?
Não, mas a tia Tate disse que todo sonho de uma mãe é ver a filha casar, então estou falando isso para você saber que vou realizar seu sonho e assim você permanecerá aqui comigo.
Seus olhos se encheram de lágrimas nesse dia, ela começou a chorar e me abraçou.
Eu não irei a lugar algum, Anne.
Promete?
Prometo. Sabe o que prometo também?
O quê?
Que no dia do seu casamento estarei no altar ao seu lado.
Vou casar na praia, mamãe.
Melhor ainda.
Você não cumprirá essa promessa, mamãe, mas tudo bem, eu sei que se você pudesse, você a cumpriria."

Após Nora me dar essa notícia, ela saiu para atender outro paciente. Ainda permaneço aqui com Anne, com suas mãos geladas. Toco seu rosto, lágrimas silenciosas escorrem, não me importo de chorar na sua frente desde que ela não vá embora.
— Não importa para onde você for, se é comigo ou não, não importa se você não faz a mínima ideia de quem sou, mas eu não posso te deixar ir. — Digo perto do seu ouvido. — Não me importo se não vai se lembrar de mim, não me importo, desde que você fique, eu farei de tudo para você ficar aqui, Anne. Lutarei para te deixar viva. Só viva Anne, mesmo que eu não faça parte da sua vida, mas viva. — Beijo sua testa e aperto sua mão. — Eu já volto, fique aqui.
Saio andando rumo ao destino certo, um destino a que eu já deveria ter ido.

                            ~∆~

Paro o carro em frente a enorme mansão, desço do carro e passo pelo pesado portão, atravesso o longo jardim e toco a companhia.
Uma moça abre para mim.
— Pois não?.
— Adam Evans, esta?
— Quem quer falar comigo? — Passo pela moça e vou até ele, o próprio está descendo a escada. — Ah, você.
Ouço desdém em seu tom.
— Sim, sou eu.
— O que você quer?.
— Olha, o que eu realmente quero, não posso fazer. Então, estou aqui para te pedir para não desligar o aparelho que mantém Anne viva.
Ele engole em seco.
— Tarde demais, já tomei minha decisão. Não posso mais deixá-la sofrer.
— Você vai matá-la?
— Anne já está morta.
Ele fala e engole o que acho que são lágrimas.
— Ela não está morta! O seu coração bate ainda!
— Anne não reage há mais de um ano!.
— Você prometeu cuidar dela! E agora vai matá-la.
— Cala a boca, garoto, você não sabe o quão difícil está sendo para mim. Deixar minha filha ir.
— Vá se foder!. Você já abandonou Anne duas vezes, vai abandoná-la pela terceira vez?!?.
Ele engole em seco e se senta no degrau da escada.
— Não estou abandonando minha filha, estou dando redenção a ela.
— Mas que merda é essa?. Você não está dando nada, esta escolhendo o caminho mais fácil!.
— Ver minha filha naquele estado é a pior coisa em minha vida. Deixar minha filha morrer, perde outra pessoa que amo... Eu não sei mais o que fazer.
— Anne ainda tem uma chance de viver, você já perdeu a Chloe, vai aceitar perde Anne também?. — Adam me olha surpreso, então ele desaba e chora de soluçar. — Sua filha é a garota mais incrível que vi em toda a minha vida, você não pode tirar a chance de viver dela.
— Não estou tirando a chance dela, Jamie.
— E o que você está prestes a fazer é o quê?
— Eu só não posso vê-la mais naquele estado. Você não acha que é crueldade mantê-la assim? Manter alguém vivo só porque somos egoístas demais para deixá-la partir?
Dessa vez, é a minha vez de engolir em seco, lembro quando Izzy falou em Anne, e eu achei que seria bom que eles desligassem os aparelhos, seria bom para Anne, mas agora que a conheci, eu não consigo aceitar, é egoísmo meu, eu sei, mas só imaginar perdê-la me destrói. Me sento ao seu lado na escada, Adam limpa suas lágrimas.
— Talvez.
— Por que quer mantê-la viva?.
— Porque ela merece viver. Anne sempre viveu, mas depois da morte de Chloe, ela só sobreviveu... Porque preciso um dia esbarrar nela e chamá-la para sair. Porque quero sentir o calor da sua mão, quero ver seus olhos piscando, quero a ver respirando. Quero me apaixonar vendo ela fazer coisas estúpidas. Quero que ela me conheça e se apaixone por mim. Quero que ela saiba que eu me apaixonei por ela.
Acho que confessar isso para outra pessoa só mostra o peso dessas palavras e o quão louco eu sou.
— Eu a amo também, sabe.
— Por que a abandonou após a morte da mãe dela?.
Minha pergunta é suave, Adam respira fundo.
— Eu não achei que tinha a abandonado, até o dia do acidente. Eu estava tentando me curar, mas não conseguia. Anne me lembra muito a Chloe, o jeito de falar, de andar, até de respirar e vê-la todos os dias e não ter Chloe aqui era um inferno. Mas também não conseguir ver minha filha sorrindo ou vivendo... Era mais fácil eu fechar os olhos e isso fez com que eu afastasse Anne de mim.
— Isso machucou muito a Anne.
— Eu sei, mas mantê-la afastada era mais fácil.
— É a sua filha.
— E eu a amo, mas os médicos acham que manter Anne viva por algum tipo de arrependimento, em partes foi, mas minha esperança era que ela acordasse e eu pudesse pedir perdão a ela, então poderíamos recomeçar tudo novamente.
— Mas ela não acordou.
— Não, e a cada dia passa perco mais esperança.
— Eu não.
— Porque você chegou agora, estou nessa faz tempo.
— O que Chloe faria?.
— Ela me mataria por tratar a Anne como eu a tratei, e por estar pensando em desistir da minha filha.
— Sim.
— Mas Chloe não está aqui, então essa decisão só cabe a mim.
— Eu sei, mas não quero perde a garota que amo.
— Sei como é essa sensação.
— Você não tem medo de tomar essa decisão e um dia abrir os olhos e saber que foi a decisão errada, e que há diferença de alguns dias poderia ter feito Anne acorda?.
Adam fecha os olhos e suspira.
— Quero meu anjo de volta, quero vê-la tocando piano, ou andando por aí com um livro embaixo do braço, ou ouvir Bethâny falando de alguma idiotice. Há um ano e meio quero isso, mas há um ano e meio não passa de um querer.
Olho em seus olhos. Anne se parece tanto com ele que isso me mata. Sua dor é visível. Ele está decadente, chega a me dá pena.
— Vim aqui para te xingar, até te bater se precisar, mas você está no fundo do poço.
Falo com desdém.
— Você perdeu a viagem certo?.
E fala derrotado.
— Não se você mantiver Anne viva.
Me levanto e saio andando em direção à porta.
— E se ela nunca acorda por vontade própria, Jamie?.
Essa é uma possibilidade, mas eu a ignoro porque acredita que Anne acordará, é o que me mantém forte.
— Ela vai, eu tenho esperança.
Abro a porta e saio, então a fecho e parto para meu carro, o dia está para nascer, e eu só tenho mais um lugar para ir.

Não Me Deixe IrOnde histórias criam vida. Descubra agora