Capitulo 15

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Fico observando a senhora regando as flores em volta da casa, com ela está um senhor, ele corta o gramado com o carrinho, reúno a coragem que busco em toda a minha vida, desço do carro e coloco as mãos nos bolsos da minha calça jeans, dou passos lentos até que chego no pequeno portão.
- Bom dia.
Falo sorrindo.
- Bom dia, meu jovem.
Cal fala sorrindo.
É tão estranho saber tanto deles mesmo nunca tendo os visto antes.
- O senhor é Cal Johnson?
- Sim, sou eu, em que posso ajudar?
- Sou Jamie Stone, eu vim falar sobre Anne.
Vejo que os dois se entreolham.
- Por favor, entre.
Entramos na casa, é uma casa aconchegante com dois andares, eles me levam até a sala, me sento no sofá.
- Vou pegar um café.
Assentiu e vejo em cima da lareira algumas fotos de Anne com Chloe, uma grande foto da família reunida.
Katherine traz a bandeja com as xícaras de café e me entrega uma, eu a pego.
- Obrigado.
- De onde conhece Anne?
Cal, pergunta.
Tomo um gole do meu café.
- Do hospital.
- Que hospital?.
Katherine pergunta nervosa.
Coloco a xícara de café na mesa e os encaro, falo as palavras com cuidado.
- Vim aqui porque precisava conversar com vocês sobre Anne.
- O que tem minha neta?
Ele exclama em uníssono.
- Anne está em coma há um ano e meio.
- Impossível, minha Anne está na Suíça estudando. Se isso for uma brincadeira de mal gosto, pode parar por aqui!
Katherine fala.
- Sinto muito, mas mentiram para vocês. Anne sofreu um acidente de carro, teve traumatismo e desde então está em coma, sua vida depende de aparelhos.
Katherine fecha os olhos e chora. Cal me olha espantado.
- Eu sabia que Anne nunca iria sem se despir.
Cal se levanta e anda de um lado para o outro.
- Olha, garoto, se isso for uma brincadeira, saiba que não tem graça nenhuma.
- Pensei em vir diversas vezes, mas não tive coragem.
- Eu não entendo. Isso não é possível!
Call fala exaltado.
- Você trabalha no hospital?
Katherine pergunta.
- Não, eu sou um amigo de Anne que está lutando pela vida dela. - Katherine franze a testa. - Adam decidiu desligar os aparelhos.
Katherine soluça e coloca uma mão em seu coração e outra na boca.
- Santo Deus!
- Minha Anne. - Cal fala choroso. - Isso é impossível. Adam não mentiria assim.
- Não acho que Adam esteja consciente de suas decisões.
- Acha que pode ser Daphne? Ela odeia Anne.
Katherine fala.
- Não sei, mas as chances são grandes.
- Quero ver a minha neta, se isso for verdade.
Cal fala determinado.
- Eu os levo até lá.
- Só irei pegar meus documentos e iremos.
Cal sobe para o segundo andar, ficamos apenas Katherine e eu. Ela me encara curiosa.
- Você a ama, não é? - Aceno positivamente. - Claro que a ama, porque para alguém vir dar uma notícia dessa só para tentar manter alguém vivo, tem que ter muito amor ou ser muito louco.
- Anne é importante para mim.
- Jamie, você não acha que devemos deixá-la ir?
Ela está louca. Acabei de falar que a neta dela está em coma e ela me solta essa.
- E se não for isso que ela quer, e se só estivesse faltando força nela para ficar. Anne ficou sozinha sem ninguém por muito tempo até eu chegar, e se com vocês também chegando, ela cria força para ficar?
- Eu não sei, mas obrigada por vir até aqui.
- Não posso deixá-la ir sem lutar.
- Vamos!.
Cal desce as escadas, para um senhor de 70 anos, ele está informa.
- Vamos.
Vou à frente e eles vêm atrás no carro, vejo que eles sussurram, a esperança em mim fica mais forte.
Talvez seja isso que esteja faltando. Me encho de falsas esperanças.
Paro o carro em frente ao hospital e eles descem, vou com eles até a recepção. Nora continua lá.
- Nora.
- Jamie, você voltou.
- Sim, Nora, esses são Katherine e Cal Johnson, os avós maternos de Anne.
Nora sorriu para eles docemente.
- Minha neta, quero vê-la.
Katherine fala com lágrimas nos olhos.
- Claro.
Vamos todos para o elevador, as portas se abrem e entramos, as portas se fecham e Nora me encara.
- Eles não sabiam.
Nora olha para os avós de Anne, então me encara.
- Você fez bem.
Assentiu e o elevador finalmente para e saímos. Nora vai até a porta do quarto de Anne e abre a porta, os avós dela vão até a porta, vejo Katherine chorar e Cal respirar fundo, eles entram no quarto e vão até ela correndo.
- Minha querida, o que aconteceu? O que fizerem com você? Não se preocupe, estamos aqui agora.
Katherine abraça Anne e começa a chorar. Cal acaricia o cabelo da neta. Nora aponta para fora e saímos, vamos até a enorme janela e encostamo-nos a ela.
- O que é isso, Jamie?
- Descobri que disseram a eles que Anne estava na Suíça, estudando.
- Não, Jamie, não é possível.
- Acha que fiz o certo em trazê-los aqui?
- Fez, se fosse, eu gostaria de saber a verdade.
Olhamos para o quarto de Anne.
- Nora.
- Sou só a enfermeira Jamie, não posso falar nada.
- Mas você a ama.
- Sim, mas também sei da situação de Anne, e sei que a deixar ir é a melhor decisão.
- Eu não posso ficar sem ela.
- Eu sei, mas você consegue se ver esperando por ela daqui a dois anos e meio?
- Sim.
- Você diz isso agora, mas daqui há quase três anos não pensará assim.
- Que seja, não posso aceitar.
- Você terá, assim como eu, porque eles desligaram os aparelhos hoje às 14:14.
- Não!.
O desespero bate forte em mim. Porque estou mais perto de perdê-la.
- Sinto muito, Jamie.
Nora sai andando para longe de mim, me sento no chão e começo a chorar, chorar de verdade, aquele choro que você soluça que te consome de dentro para fora, não sei quanto tempo fico assim.
- Jamie?.
Ergo meus olhos e vejo Bethâny à minha frente, ela se ajoelha e me abraça.
- O que você está fazendo aqui?
- Vim pedir perdão à minha amiga e vim ficar ao lado dela. Nossa primeira e última conversa me magoou, me machucou e me destruiu, mas me fez ter coragem para enfrentar tudo isso, quero ver minha amiga.
- Bethâny.
Abraço com força, ela me abraça. Ver Bethâny é como ter um vislumbre da vida de Anne.
- O quê? Anne piorou?.
Ela está morrendo.
- Eles irão desligar os aparelhos.
Vão matá-la.
- Não!.
Ela começa a chorar junto comigo.
- Deixaram Anne morrer, ela vai morrer, Bethâny, a garota por quem estou apaixonado, morrerá e eu não consigo fazer nada para mudar isso.
- Sinto muito, Jamie. - Ela chora comigo, nosso abraço fica mais apertado. - Quando?

- Hoje, às 14:14.
Ela nega com a cabeça e limpa as lágrimas de seus olhos.
- Não, eu não posso perdê-la dessa maneira, eu não posso perder Anne. Não!. - Ela se levanta e vai até o quarto de Anne, seu choro é audível daqui. - Vocês não podem deixá-la morrer, não podem!
Ela grita, tapa os ouvidos.
- Ela já sofreu demais, precisamos deixá-la ir.
Cal fala como se tivesse engolido a sua dor.
- Estamos falando de Anne, da Anne, a garota que daria a própria vida por cada um de nós, Anne, que lutaria contra tudo e todos para nos manter vivos, estamos falando da minha melhor amiga.
- Ela está morta, Bethâny, são apenas máquinas que matam seu corpo vivo, ela não está mais aqui. A minha netinha está...
Ele cai na cadeira e seu choro é audível.
- Vocês não podem permitir isso, por favor!
- Mas eu posso.
Vejo quando Adam entra no quarto, me levanto e vou até eles, entro no quarto e todos me olham. O mais engraçado é que eu e Anne somos os motivos deles estarem aqui.
- Adam, por favor.
Eu imploro. Eu imploro. Por favor, por favor.
- Sinto muito, Jamie.
Adam fala, sua dor é visível.
- Eu não posso...
Não consigo terminar a frase, a dor em meu peito é grande, mas aumenta mais quando vejo a equipe de médicos entrar.
- Acho que é melhor vocês dizerem adeus a ela, um de cada vez.
Jack fala.

Katherine se curva e beija a testa da neta.
- Você pode ir, querida, pode ir com a sua mãe, sei que é isso que você quer. Quando chegar lá, diga a ela que eu a amo, que logo me juntarei a vocês.
Fecho os olhos e balanço a cabeça.
Cal pega a mão de Anne e a beija.
- Vou sentir muito a sua falta, meu anjo, mas tudo bem se você for, se aqui não é mais o lugar para você, eu te amo.
A raiva cresce dentro de mim. Eles acabaram de descobrir sobre a neta e simplesmente aceitam que ela se vá.
Ele beija sua mão.
Bethâny se aproxima da amiga e limpa suas lágrimas, então abraça Anne.
- Me desculpe por ficar longe, mas é que eu não podia te ver assim. Não a Anne, que pulava portões e subia em árvores. A Anne, que ficava até tarde escrevendo. A Anne, que sempre carregava um livro na mochila. Estar longe era mais fácil para manter essa sua imagem. Eu te amo, você sempre será minha melhor amiga, você sempre será o meu lar.
Então é a vez de Adam, ele chora, chora tanto que molha o lençol de Anne, ele coloca sua testa na da dela.
- Me perdoe, me perdoe por ter te abandonado, me perdoe por ter te deixado quando você mais precisava de mim, por não ser o pai que você merecia. Me perdoe, Anne, eu estava com esperança de você acordar e eu poder te pedir perdão olhando em seus olhos. Então poderíamos recomeçar, mas não acontecerá... Você é minha garotinha, meu anjo e sempre será minha filha amada. Obrigado por fazer parte da minha vida, você foi o melhor presente de todos. E se deixar você partir, é uma forma de fazer você viver. Então, aceito isso.
Ele beija a testa dela e se afasta.
Fico observando as pessoas que Anne ama mais que tudo. Todas estão aqui em volta dela, a vendo-a partir. Será que estou sendo tão egoísta? Por que, para mim, parece que a deixar ir será como arrancar meu coração com a mão? Eu entregaria meu coração a você, Anne. Eu o daria como o maior prazer, mesmo que você o pegasse e o esmagasse, assim meu coração seria seu.
Eu te daria, meu amor, mesmo que você não me amasse de volta. Eu celebraria seu amor, Anne.
Mordo tanto minhas bochechas que sinto o gosto do sangue.
Chego perto dela e seguro sua mão gelada. Eu seguraria sua mão pela eternidade.
- Todos os dias, irei me perguntar qual é a verdadeira temperatura das suas mão e qual é o som da sua risada. Todos os dias, eu andei à sua procura. Meu Deus, Anne, você não sabe quanto me apaixonei por você e quão loucou isso é, porque você não tem a mínima ideia de quem eu sou. Mas sei quem você é, e todos os dias, Anne, eu imaginarei como seria se eu não te deixasse ir. Eu me imagino te chamando para dançar no nosso primeiro encontro. Eu me imagino segurando sua mão em um dia chuvoso. Te levaria no meu lugar favorito para ver o quão lindo é a vista de lá. Iria preparar seu café da manhã. Iríamos ver o nascer do sol de um terraço porque estaríamos embriagados de amor e o amor não ia nos deixar dormir. Eu te amo, Anne Evans e esses são os amores mais puros da minha vida.
Me curvo e beijo sua bochecha. Me viro e saio andando porque é muita coisa para eu aguentar. Saio correndo, subo as escadas até chegar no telhado do hospital, vejo o mundo pequeno embaixo de mim e o enorme céu em cima da minha cabeça.
Então grito, grito até minha garganta arder, até meu coração explodir, até que meus olhos se encham de lágrimas, até que meus pulmões ardam, até que minha barriga doa. Grito seu nome, o único nome de que quero falar todos os dias. O nome que deixei ir.
- Anne!

Não Me Deixe IrOnde histórias criam vida. Descubra agora