Capítulo 12 - Notas do Taylor (Taylor)

10 2 2
                                    


Nota nº 1: "Nunca fazer mesas de jogo quando o seu tio e/ou chefe estiver fora de casa. Aliás, nem quando ele estiver."

É... daqui por diante eu devia me lembrar sempre daquela nota. Ao menos que desejasse acordar as cinco e meia da manhã no meu dia de folga e ter que limpar cada canto de um bar dilacerado outra vez, deveria me lembrar de que não era aconselhável montar mesas de jogo no El Laberinto. Não se o temperamento do chefe for péssimo, como era o caso de Jack.

Da próxima vez faríamos a reunião do Clube dos Desesperados no cemitério, como eu havia sugerido. Afinal os mortos não reclamariam do barulho... quer dizer, assim espero né?

Joguei outro balde de água no chão e esparramei um pouco de sabão. Tudo bem, eu merecia aquilo, pois a idéia tinha sido minha no fim das contas. Porém Jack precisava mesmo me ter feito levantar tão cedo? Ah é claro que sim! Jack nunca deixa nada barato. Aliás, essa era outra nota que eu precisava memorizar.

Nota nº2: "Nunca esquecer que Jack pode virar um touro enfurecido por qualquer motivo."

Digamos até que ter que levantar mais cedo todas as manhãs e fazer uma faxina no bar antes da escola era até que um castigo humm... suave. Sim, suave. Limpar o bar sozinho era o melhor que podia me acontecer e não, eu não estava louco. Três semanas atrás, quando participei de uma corrida de moto pelas ruas de Lake City, Jack já havia ameaçado me jogar pra fora, caso aprontasse mais alguma e somente aquele anjo loiro impediu que ele cumprisse a ameaça.

"E que anjo..."

Céu... é isso! Aquele anjo só podia ter pisado em falso numa nuvem e ter caído do céu. Afinal que outra explicação poderia haver se ela apareceu justo no momento que Jack ia quebrar o meu pescoço?! Ela realmente fizera um milagre e era por isso que eu estava ali, vivo.

- Bom dia. – Uma voz suave sussurrou atrás de mim. No mesmo instante pisei no sabão, me desequilibrei e cai molhando toda a calça. – Oh meu Deus, me desculpe.

- Não tem problema. – Tentei me levantar rapidamente pra não bancar o idiota, mas isso só piorou a minha situação. Voltei a cair esparramando mais água do balde.

- Deixa que eu te ajudo. – Ela se aproximou estendendo a mão.

Ainda no chão, meus dedos começaram a tremer. "Controle-se ou ela vai achar que você é um idiota, se é que já não tem certeza disso." Por Deus eu estava parecendo um adolescente na frente da garota que gosta e... espere um minutinho, eu era um adolescente! E sinceramente, ela não me desgostava nem um pouco, ao contrário.

- Obrigado. – Aceitei a mão que ela me estendia. A pele era tão suave e macia como seda quanto eu imaginava e distraído com isso não controlei a minha força e quando vimos, ela já estava no chão junto comigo.

Para minha surpresa, ela começou a rir e não a gritar histérica como eu esperava que fizesse como qualquer outra garota que tem a roupa arruinada por um desastrado. Ela tinha um riso doce, encantador, o que só me deixava mais seguro ainda de que ela era um anjo. Mais especificamente, meu anjo da guarda.

- Desculpe, eu sou um pouco bruto e... – Tentei dizer um pouco sem graça, mas não encontrava as palavras certas, ogro como era.

- Não se preocupe. – Ela assegurou com um sorriso de fazer qualquer um revirar a cabeça. - ... e também é apenas uma camisola velha.

Foi somente nesse momento que eu percebi que ela tinha no corpo uma camisola florida. Pra sorte dela e azar meu, as flores eram escuras impedindo que ficasse transparente. Ela parecia um pouco incomodada pelo traje, mas por mim ela podia usar até um saco de batatas no corpo que continuaria encantadora. Aliás, dizer que ela era bonita seria uma calúnia porque na realidade ela era linda.

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora