Capítulo 93 - Um Novo Montesblanco - Parte 2 (Santiago)

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"New York, quarta-feira, 14 de setembro.

Marie e Frank,

São duas da manhã e nem ao menos tenho ideia do porque estou escrevendo isso. O fato é que não consigo dormir e as palavras não param se surgir na minha mente. É quase como uma necessidade, algo que eu não experimentava durante alguns longos anos...

Eu sei. No fundo eu sei que não foi certo o que eu fiz. Toby tinha direito a uma mãe e um pai, porém aos 19 anos eu não tinha noção disso. Era uma jovem egoísta, egocêntrica cuja única a quem importava agradar era a mim mesma. Creio que talvez ainda continuo sendo essa mesma jovem, agora, apenas um pouco mais consciente de que existem outras coisas na vida.

Não sabem como eu agradeço por terem aceitado cuidar de Toby. Desde pequena eu sabia que podia contar com vocês e dessa vez sei que não é diferente. Sei também que Toby está em mãos muitos melhores que as minhas, pois, afinal dinheiro não significa amor.

E não, não é que não ame Toby, apenas não me sinto mãe dele e creio que nunca serei capaz de sentir isso. Por que? Simplesmente porque não se pode ser uma coisa que você nem ao menos sabe o que significa. Nunca tive boas referências sobre maternidade e ao contrário da maioria das mulheres que dizem que uma gravidez muda as pessoas, para mim ao menos não mudou nada.

Não posso culpar ninguém, hoje eu sei disso. Antes, costumava por a culpa em Santiago que tentou inibir meus sonhos rumo a uma carreira famosa. Sentia muita raiva por ele colocar o bebê em primeiro lugar, não se importando nem um pouco com o que eu queria. Sei que não é desculpa, mas aquilo me enlouqueceu de tal maneira que cheguei ao ponto de cogitar seriamente em fazer um aborto.

Porém no último instante não consegui. Apenas afirmei a Santiago o que tinha feito e é claro, ele me pôs a correr de Fireland. Não digo que eu me arrependo, ao contrário se não fosse isso nunca teria conseguido alcançar o sucesso. Ele era dominador demais para me permitir seguir adiante com o que ele chamava de "bandinha de garagem".

Mas Robert era diferente... Sim muito diferente! Ele acreditou em mim e no que eu queria e não hesitou em ir embora comigo. Juntos, conseguimos o que desejávamos e muito mais do que um simples pareceiro, Robert me completa. Acho que é um daqueles casos de paixão desenfreada ou algo assim e se me perguntarem se sou feliz, então eu respondo: sim sou feliz com o que tenho.

Embora me considere uma pessoa afortunada, a felicidade cobrou um preço. Robert não aceitou, não aceita e nunca aceitará Toby. Mas eu não posso reclamar, afinal o menino não é filho dele. E é por isso que ele está ai com vocês e sou grata por cuidarem dele.

Talvez algum dia Santiago descubra a verdade. Na verdade eu preferia esfregar Toby na cara dele quando fosse já crescido apenas para poder dizer: "eu não precisei de você para tocar a minha vida". No entanto acabei me dando conta que isso seria um ato de pura infantilidade maior do que já foi até agora. Portanto o dia em que ele aparecer, não neguem a ele o que é seu por direito. Santiago pode não ter tido consideração por mim, mas certamente ficará grato aos avós postiços por cuidarem do... meu filho.

Não sei quando voltarei a encontrá-los, dentro de uma semana começa a turnê e depois voltaremos ao estúdio. Mas não se preocupem, continuarei a mandar o dinheiro como sempre.

Beijos,

Sua neta postiça,

Paty"

A carta caiu das minhas mãos no instante em que terminei de lê-la. Se eu tivesse tido qualquer espécie de dúvida a respeito da paternidade de Toby, agora não havia nenhuma.

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora