Capítulo 36 - A Lista de Crimes (Pablo)

15 1 1
                                    


– Humm...

"Pensa rápido, pensa rápido, pensa rápido!"

Ok como responder algo que não tem resposta? Bom... essa é uma pergunta sem sentindo também né?

Desde que conheci Luna não me lembro de ter sido tão incoerente como quanto agora. Era tão incoerente que me sentia confuso comigo mesmo. Aliás, incoerente, confuso, impulsivo, contraditório, raivoso, chateado e transtornado! Sim tudo e muito mais.

Luna era como uma doença que eu descobri ser incurável. Ainda não estava decidido se isso era bom ou não, mas o que eu sabia é que estava afundando cada vez mais nesse poço sem fim e não encontrava maneira de me desvencilhar daquela confusão.

"Por que eu não fiquei na minha?"

Pois é. Essa era uma pergunta muito interessante que merecia até ser defendida em tese, porém eu não tinha tempo pra isso agora. Luna estava em cima de mim (no melhor sentido), me olhava furiosa e eu ainda não tinha idéia do que dizer.

- Seu idiota! O que pensa que está fazendo? – Ela começou a me estapear. – Hein?! Imbecil! Quero que me leve de volta pro casamento!

Casamento?! Cerimônia. Kilomêtro parado. Epa! Sem querer ela havia tocado no meu ponto frágil e invocado a minha raiva. No mesmo instante joguei-a para o lado e me levantei.

- De jeito nenhum!- Falei já de pé. – Não vamos voltar Luna!

- Não vamos uma ova! – Retrucou de imediato. – Você não vai! Eu vou! – Disse e deu meia volta.

- Eu já disse que não! – A puxei antes que ela começasse a correr.

"Má-idéia."

Agora estávamos frente a frente e meus olhos fixaram-se naquela boca macia que tanto parecia pedir por um beijo. Respirações entrecortadas, olhos se fechando e então...

- Você só pode estar louco! – Interrompeu dando dois passos para trás.

Com raiva, virei de costas e tampei os olhos com as mãos. O que eu estava fazendo? Tudo estava certo até a parte do rapto. Afinal Luna era muito nova pra casar.

Mas e agora? De repente me dei conta de que havia pensado apenas no sequestro e não no depois.

O que faria então? Devolvê-la a tribo além de arriscado seria imbecil, pois ela logo voltaria aos planos de casamento. Porém, envolver-nos de novo não era uma opção e sim suicídio!

- Escute... me leve de volta e esquecemos tudo isso está bem? – Ela colocou a mão sobre o meu ombro.

- Quantas vezes eu vou ter que dizer que não? – Me virei de frente e ela afastou a mão. – Qual a parte do "não vamos voltar" você não entendeu?

- E você é surdo ou o que? Quantas vezes eu vou ter que dizer que vou voltar pro acampamento?! - Teimou novamente o que me deixou ainda mais irritado.

- Entenda uma coisa Luna Carrillo: não é não. – Segurei firme o seu braço e ela me fuzilou com os olhos. Não dei importância nenhuma e comecei a puxá-la pelo caminho de volta.

- Senhor Montesblanco vamos parar com isso ok? Eu tenho a minha vida e quero voltar pro acampamento. Como advogado deveria saber que o que está fazendo é ilegal. Aliás, poderia me dizer porque cargas d'água está fazendo isso?

- Em primeiro lugar, não trabalha mais pra mim Luna, portanto sou só Pablo. Em segundo não voltará, já disse e repeti. E em terceiro, dane-se se é ilegal e não lhe devo explicações!

- NÃO ME DEVE EXPLICAÇÕES? – Ela freou com os pés. – Senhor Montesblanco deixe-me lembrá-lo de uma coisa: ESTAMOS FALANDO DA MINHA VIDA!

- Não grite! – Tampei a sua boca. – Agora vamos antes que anoiteça.

Sem permitir maiores discussões voltei a arrastá-la pelo caminho. Deu um pouco de trabalho amarrá-la e colocá-la em cima do cavalo, mas depois de três tentativas deu certo.

Agora a caminho do chalé que Juan tem nas montanhas nas montanhas com uma Luna adormecida nos braços, aliás, depois eu devo acrescentar invasão de propriedade e dopping à minha lista de crimes, finalmente tive um tempo pra analisar minhas emoções.

Sem dúvidas eu me sentia confuso. Porém não era só isso. Era algo mais forte como uma... perturbação! Mesmo adormecida e com cara de anjo, Luna era uma fonte de problemas. Na verdade é como se ela fosse um ímã para problemas.

Eu podia culpá-la de muitas coisas, no entanto, não desse sequestro maluco. Afinal, tinha que admitir que a culpa era toda minha. Ela nem podia imaginar que isso ia acontecer e ainda que a minha intenção fosse das melhores, que direito tinha eu de me intrometer assim na vida dela assim? Se parasse pra pensar bem, veria que ela tinha toda razão de estar furiosa.

Porém eu sabia não conseguiria fazer diferente ainda que o tempo regressasse. Mesmo tendo a culpa, nem arrependimento eu conseguia sentir. Luna ainda estaria noiva e eu teria arranjado um jeito de impedir antes que fosse tarde demais. Agora só me restava arcar com as consequências...

E que consequências! Por enquanto Luna dormia, mas a hora que acordasse eu não queria nem ver... Aliás, ela tinha todos os motivos para odiar-me assim como eu também tinha os meus para odiá-la, mas imaginar que a zanga pudesse se converter em ódio me deixava terrivelmente preocupado. Por quê? Por uma razão simples e idiota: eu não suportaria isso.

Imbecilidade não? Pois bem sem dúvida alguma era, mas pior que isso era tê-la sequestrado depois de tanto trabalho para arrancá-la fora da minha vida. Que grande ironia! Eu estava quase me convencendo de que era masoquista porque não era possível alguém procurar tanto se machucar!

Ao longe já podia avistar o chalé de madeira. Juan ficaria furioso quando descobrisse pra onde eu tinha ido, mas enfim não tinha mais volta.

"Aqui estamos e aqui vamos ficar até...só Deus sabe!"

------//------

Afinal? Quem sequestrou quem?

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora