Capítulo 117 - O Tesouro Mais Precioso (Santiago)

16 2 1
                                    


O nervosismo era uma arma poderosa contra aqueles que tem medo. E no momento, tenho que admitir: eu estava morrendo de medo.

Mas como não temer o desconhecido? E ao mesmo tempo: como não enfrentar o desconhecido? A resposta é que ambas as coisas eram contraditórias. Ou eu me sentia em segurança e não enfrentava a situação ou mandava a maldita segurança para o espaço e encarava o que tivesse que ser sejam lá quais fossem as consequências!

Na verdade, me dei conta de que não se tratava de uma escolha. Não porque simplesmente eu não tinha uma. Toby era meu filho e eu era responsável por ele independente de como Allie se sentisse quanto a isso.

Eu sei, era uma coisa horrível de se pensar, mas sinceramente não havia nada que eu pudesse fazer. Toby seria sempre meu filho e eu trataria de defendê-lo sempre, até de Alicia se fosse preciso, embora sinceramente eu esperasse que não fosse assim.

- Nós já chegamos? – Toby perguntou agarrando com força o ursinho que eu havia dado no nosso segundo encontro. Era incrível que mesmo só o conhecendo há mais ou menos um mês, ele já fosse tão especial. Meu filho era encantador e de repente a ideia de ser pai se tornou algo maravilhoso.

- Não, é logo ali a frente. Está vendo aquela casa branca ao fundo? – Apontei e pude sentir sua mão pequenina se apoiando no meu ombro pra ficar de pé no banco de trás da caminhonete. Normalmente eu ralharia com qualquer criança que ousasse fazer isso, mas era impossível com ele. Aqueles olhos tão doces em que eu podia ver o meu reflexo, não permitiam discussões.

- Aquela grandona? – Ele indagou e pelo espelho retrovisor pude ver sua boca aberta impressionado.

- Sim, aquela mesma. – Não pude deixar de rir pela sua expressão tão inocente e ao mesmo tempo tão honesta.

- Ela é bonita. – Elogiou e então parecendo satisfeito, voltou a sentar-se no banco de trás.

- Errr desculpe perguntar novamente, mas senhor Montesblanco, tem certeza de que deseja acomodar um casal de velhos em sua casa? – Marie Helter indagou ao meu lado. Olhei rapidamente para o seu rosto e pude ver a expressão de insegurança estampada.

- Eu sei que já conversamos sobre isso senhor Montesblanco, mas... minha mulher tem razão. Não queremos que pense que estamos nos aproveitando ou qualquer coisa do tipo. – Frank falou e eu podia entender porque estavam tão apreensivos, realmente não devia ser nada fácil largar a casa humilde que tinham e se mudar pra um casarão imponente.

- Escutem... – Dei uma olhada rápida e Toby parecia distraído encantado com a paisagem que via pela janela. – Se Toby está aqui hoje com certeza é por causa de vocês e estou agradecido por isso. Foram muito mais presentes na vida dele do que... Patrícia. O fato de eu pedir para vocês virem não tem nada a ver com incomodo ou qualquer coisa parecida. Ele precisa de vocês assim como eu preciso também. Por favor, quero que se sintam na casa de vocês, sei que isso é difícil, mas eu prometo que funcionará. Aliás, como já prometi antes, comecei a reformar a casa do Riacho e se assim desejarem, ela estará a disposição de vocês. Porém se preferirem ficar no casarão, podem ter certeza de que serão sempre muito bem recebidos.

O silêncio foi instantâneo. Marie e Frank trocavam olhares e por alguns instantes invejei aquela cumplicidade. Ah como eu gostaria de ter certeza de que o mesmo aconteceria comigo e com Allie quando estivéssemos velhinhos!... O problema é que não havia maneiras de garantir isso quando eu nem ao menos sabia se ela ficaria em Fireland quando sentisse o impacto da chegada de Toby.

- Olha vovô! O cavalinho! – Toby gritou excitado apontando pela janela e aquele gesto simples terminou a discussão. Eu podia sentir que por Toby, aquele casal faria qualquer coisa. – O auau gostou! – Ele disse enquanto Bill latia na traseira da caminhonete e todos riram tornando o clima mais suave.

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora