Capítulo 20 - Terapia de Choque (Pablo)

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O relógio não parecia estar ao meu favor. As horas haviam demorado demais a passar enquanto os minutos praticamente se arrastaram numa longa e agonizante espera. Cada vez que olhava para os ponteiros, tinha a impressão de que eles retrocediam ao invés de avançarem e isso já estava me deixando louco.

Porém antes que eu tivesse um ataque histérico, o dia deu lugar a noite e a hora havia chegado. Finalmente, depois de tantos meses, eu me teria meu reencontro com Luna. O problema é que eu ainda não tinha idéia do que fazer. A única coisa da qual tinha certeza, era que precisava atender o "pedido" de Juan.

Mas como faria isso? Como diria, assim que a visse, que meu trabalho era fazê-la ir embora da fazenda? Certamente não seria fácil, mas de fato, tudo dependeria da reação de Luna ao me ver por ali. Tudo bem, ela não tinha as melhores referências de mim, entretanto eu também não a via com bons olhos, não depois de presenciar como ela caia nos braços de Taylor.

Juan havia me dito para contar uma "pequena mentirinha". Mas nem de longe eu considerava o fato de me passar por "dono" de La Hermosa como uma simples "mentirinha". Ao contrário, aquilo só serviria para me atrapalhar uma vez que ela pensaria que aquelas terras eram minhas. Entretanto o que eu poderia fazer? Contar a verdade para Will e dizer que minha ex-namorada era uma das ciganas instaladas no acampamento? É claro que não. Juan podia ser um excelente amigo, mas não era bom em guardar segredos e então sabe-se lá o que faria "tentando" me ajudar. O melhor era deixar as coisas como estavam e ir a luta.

- Então? Está na hora? – Juan apareceu na porta do quarto onde eu estava hospedado. – Não acha que seria melhor ter ido pela manhã?

Durante a manhã eu não estava preparado. Aliás, ainda não me sentia suficientemente seguro para levar isso adiante. Entretanto, mais do que dever, eu queria fazer isso e então, com sorte, tentar encontrar as respostas para minhas dúvidas naquele par de olhos enigmáticos.

Sim, eu tinha muitas dúvidas. O ódio havia me feito arder em chances e a vontade de fazê-la pagar naqueles tempos, foi enorme. Porém tantos meses depois, com tempo de sobra pra analisar, comecei a me perguntar se não haveria algo mais por trás de Luna. Ao menos para essa pergunta, eu já tinha obtido uma resposta satisfatória ao vê-la dançando num acampamento cigano. E foi nesse momento que passei a me perguntar: o que ela esconde? Quais são os segredos que ela guarda?

Eu não sabia mais se a odiava ou não. Talvez sim, talvez não, mas isso não me parecia importante. O que realmente contava no momento era desvendar todos os seus mistérios, porque como dizia tia Marianna: "Não importa o que sente por alguém, mas sim que sente algo." E ela estava certa. Ódio, amor, decepção ou carinho tanto faz. Nada mudaria o fato de eu me importar com aquela ruivinha safada.

- Não. A noite as pessoas estão mais suscetíveis a uma conversa amigável. – Respondi abotoando a camisa preta de manga curta. – Além do mais, se houver algum problema, de dia seria muito visível e bem mais fácil para os fotógrafos. – Terminei e Juan engoliu em seco convencendo-se.

- Bem, e já sabe o que vai dizer? Vai se passar por dono da fazenda? – Indagou.

- Sim, me passar por dono é uma ótima idéia para convencê-los. E não se preocupe sei o que fazer. – Ainda que não fosse a melhor para mim, tinha de admitir que aquela "mentirinha" tinha um alto poder de convencimento. – Bem, acho chegou a hora.

Juan me encarou por alguns instantes parecendo um pouco inseguro e senti um certo temor de que ele desistisse e então reencontrar Luna não seria tão fácil.

- Tem certeza? Olha se você não quiser ir tudo bem, eu posso...

- Não se preocupe. Eu irei. – Garanti interrompendo-o. – Eu prometi lembra-se?

- Sim, claro que sim. Mas não o obrigaria a fazer isso. Pode ser perigoso. – Franzi a testa. Ele estava mesmo tentando me convencer a não ir?! – Sabe que se dane esses fotógrafos! Talvez o melhor seja mesmo chamar a polícia e...

- NÃO! – Gritei assustado pensando na imagem de um policial levando Luna algemada.

Juan me olhou de maneira estranha e eu nem precisava me perguntar o porque. Era óbvio que o meu "não" havia soado um tanto desesperado. Embora houvesse sido inevitável, eu precisava me controlar melhor ou meu amigo começaria a desconfiar...

- Não se preocupe, eles não me farão nada. – Afirmei querendo parecer seguro. E então antes que ele vacilasse mais uma vez, acenei e sai do quarto em direção a garagem. "Sem voltar atrás" essas eram as palavras mágicas.

Quinze minutos depois, estacionei de baixo de uma árvore. Dessa maneira o carro ficaria protegido enquanto eu observava o acampamento ao longe. A fogueira estava ao centro onde três barracas e um trailer a rodeavam.

Não demorou muito para localizar Luna e muito menos foi preciso contar com a ajuda de um binóculo. O corpo, o jeito de andar, de dançar... Ela sempre se destacava onde quer que fosse e ao que parece hipnotizava todos os homens ao seu redor, constatei furioso.

A música terminou e ela se ajoelhou em frente de uma senhora idosa. Trocou algumas palavras com ela e pareceu não gostar muito do que ouviu porque separou-se dela rapidamente e assim que levantou viu-se cercada por dois homens. Moscas... quero dizer, é claro. Malditas moscas em volta de um doce! Será que isso nunca ia parar? Apertei os punhos tentando me controlar, mas era impossível. Por mais que minha mente estivesse ciente do fim do relacionamento, meu coração burro ainda insistia em que ela me pertencia.

Decidi então que aquele era o momento. Sem mais perder tempo, desci do carro e comecei a marchar em direção ao acampamento. Tinha que ser rápido, afinal o elemento surpresa era sempre melhor. Além do mais, tinha que aproveitar a chance antes que outra música começasse.

Parei em frente a ela, porém alguns passos atrás. Arregalei os olhos rapidamente surpreso com a imagem que via. Minha Luna ruiva... não era mais ruiva. A imagem que via na fogueira era apenas um reflexo de um roxo intenso que no claro ficava avermelhado. Ela estava mais bonita, se isso for possível. Na verdade qualificá-la como bonita era até injusto porque ela estava... linda! Realmente sensacional.

Ao mesmo tempo isso me lembrava também que ela não era mais minha e me dava medo de que aquela mudança não houvesse se restringido apenas ao físico, se não também ao emocional.

Foi nesse mesmo instante que um dos homens a cutucou apontando com a cabeça em minha direção. Ela virou o rosto para o lado e deu um gritinho chocado. "É eu sei, no seu lugar faria o mesmo." Pensei, aliás, eu tinha estado um tanto chocado quando a descobri ali.

Luna abriu a boca e fechou. Abriu de novo e voltou a fechar. Nenhum som saia e eu tinha a impressão de que se também tentasse, não conseguiria dizer nada.

O homem mais alto e com cara de poucos amigos, começou a caminhar ameaçador e nesse momento ela despertou para a realidade e o segurou pelo braço. Apertei os dentes firmemente tentando conter a onda de ciúmes que ameaçava me tomar só para ouvi-la dizer...

- Deixa Rafe. – Postou-se na frente dele e então me encarou com aquele par de olhos enigmáticos. Respirou fundo e então voltou a falar: - Pablo? O que faz aqui?

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Muitos reencontros não?

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora