Capítulo 115 - O Outro Lado do Inimigo (Derrick)

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-Trans... transplante?

A pergunta gaguejada de Luna vinha carregada com o mesmo sentimento comum a todos no momento: a surpresa.

O Montesblanco sempre me pareceu um cara saudável. Era o garoto que competia nos esportes pelo colégio e sempre ganhava, o rapaz que gostava de fazer escaladas ou uma corrida nos finais de semana e também, era o mesmo cara que anos depois havia me deixado completamente sem forças caído no chão depois de uma briga.

Onde estava o cara forte? Não fazia sentindo que ele tivesse um problema de saúde tão grave. Certas pessoas pareciam perfeitas demais para ter alguma debilidade e esse era o caso dele. Realmente não combinava com ele a imagem de doente. O jeito durão nunca deixou que alguém o visse por baixo e agora, quando isso acontecia, era algo totalmente estranho. E apesar de não gostar de Pablo, eu, como ser humano, não desejava uma coisa dessas pra ele.

- Eu não entendo... como assim transplante? – Luna indagou caindo sentada numa cadeira do corredor.

- Seu marido se submeteu a um processo cirúrgico há cinco anos no Hospital Central de Seatlle. Soubemos disso assim que tivemos o resultado do ultrassom e constatamos o procedimento. Imediatamente procuramos o nome dele no cadastro americano de pessoas transplantadas.

- Mas doutor eu não... – Luna interrompeu-se e subitamente encarou Emma. – Você sabia disso? – Indagou quase num tom acusatório. Pensei em interferir, mas dado ao estado da minha prima e também a minha curiosidade, permaneci quieto.

- Não, não fazia ideia. – Mia deu de ombros e a sinceridade estava explícita na sua voz. – Pablo e eu nunca moramos na mesma cidade, ele vinha me visitar pelo menos uma vez por mês depois que sai de Fireland, mas....- Ela interrompeu-se com os olhos arregalados.

- O que foi Mia? – Me abaixei até ficar na altura da sua cadeira de rodas.

- Houve uma vez.... uma única vez em que eu fiquei sem noticias dele durante um bom tempo... Ele me disse que tinha surgido um caso importante fora do país e então.... ele sumiu por uns três ou quatro meses.

- Quatro meses e você não desconfiou de nada? – Luna perguntou em tom acusatório.

- Creio que o importante não é isso no momento. Pablo deve ter feito o que achou melhor sendo essa a ocasião ou não. – Tratei de defender minha mulher. – Além do mais o importante não é isso. – Me levantei e encarei firmemente o médico. – Quais são as reais condições dele doutor?

- Não vou fazer rodeios. Os exames apontaram uma piora na função renal significativa. Enquanto a média dos pacientes transplantados tem um funcionamente de 80 a 90% do rim, o senhor Montesblanco está com apenas 40%.

Eu não era médico, muito menos estudado. Era realmente um caipira do interior, mas não era tão burro ao ponto de não entender o que aquilo queria dizer: Pablo estava em sérios apuros e tudo por...

- É sua culpa! – Luna levantou e avançou na minha direção. Senti suas pequenas mãos baterem em meu peito, porém não fiz nada para evitar os tapas que se seguiram, pois eu realmente estava me sentindo culpado. – Ele pode morrer Derrick e a culpa vai ser sua! Por que tinha que bater nele hein?

- Acalme-se senhora Montesblanco. – O médico interveio e como que hipnotizada, Ela voltou-se para olhá-lo. – A briga que seu marido teve com o senhor...

- Apenas Derrick doutor. – Emma completou aflita e eu assenti.

- Bem, como eu ia dizendo o conflito que seu marido e Derrick em nada teve haver com o problema atual do senhor Montesblanco. Isso pode acontecer com qualquer pessoa que tenha passado por um transplante e me estranha muito a senhora nunca ter reparado em algum sintoma ou até mesmo ter percebido uma cicatriz.

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