-Trans... transplante?
A pergunta gaguejada de Luna vinha carregada com o mesmo sentimento comum a todos no momento: a surpresa.
O Montesblanco sempre me pareceu um cara saudável. Era o garoto que competia nos esportes pelo colégio e sempre ganhava, o rapaz que gostava de fazer escaladas ou uma corrida nos finais de semana e também, era o mesmo cara que anos depois havia me deixado completamente sem forças caído no chão depois de uma briga.
Onde estava o cara forte? Não fazia sentindo que ele tivesse um problema de saúde tão grave. Certas pessoas pareciam perfeitas demais para ter alguma debilidade e esse era o caso dele. Realmente não combinava com ele a imagem de doente. O jeito durão nunca deixou que alguém o visse por baixo e agora, quando isso acontecia, era algo totalmente estranho. E apesar de não gostar de Pablo, eu, como ser humano, não desejava uma coisa dessas pra ele.
- Eu não entendo... como assim transplante? – Luna indagou caindo sentada numa cadeira do corredor.
- Seu marido se submeteu a um processo cirúrgico há cinco anos no Hospital Central de Seatlle. Soubemos disso assim que tivemos o resultado do ultrassom e constatamos o procedimento. Imediatamente procuramos o nome dele no cadastro americano de pessoas transplantadas.
- Mas doutor eu não... – Luna interrompeu-se e subitamente encarou Emma. – Você sabia disso? – Indagou quase num tom acusatório. Pensei em interferir, mas dado ao estado da minha prima e também a minha curiosidade, permaneci quieto.
- Não, não fazia ideia. – Mia deu de ombros e a sinceridade estava explícita na sua voz. – Pablo e eu nunca moramos na mesma cidade, ele vinha me visitar pelo menos uma vez por mês depois que sai de Fireland, mas....- Ela interrompeu-se com os olhos arregalados.
- O que foi Mia? – Me abaixei até ficar na altura da sua cadeira de rodas.
- Houve uma vez.... uma única vez em que eu fiquei sem noticias dele durante um bom tempo... Ele me disse que tinha surgido um caso importante fora do país e então.... ele sumiu por uns três ou quatro meses.
- Quatro meses e você não desconfiou de nada? – Luna perguntou em tom acusatório.
- Creio que o importante não é isso no momento. Pablo deve ter feito o que achou melhor sendo essa a ocasião ou não. – Tratei de defender minha mulher. – Além do mais o importante não é isso. – Me levantei e encarei firmemente o médico. – Quais são as reais condições dele doutor?
- Não vou fazer rodeios. Os exames apontaram uma piora na função renal significativa. Enquanto a média dos pacientes transplantados tem um funcionamente de 80 a 90% do rim, o senhor Montesblanco está com apenas 40%.
Eu não era médico, muito menos estudado. Era realmente um caipira do interior, mas não era tão burro ao ponto de não entender o que aquilo queria dizer: Pablo estava em sérios apuros e tudo por...
- É sua culpa! – Luna levantou e avançou na minha direção. Senti suas pequenas mãos baterem em meu peito, porém não fiz nada para evitar os tapas que se seguiram, pois eu realmente estava me sentindo culpado. – Ele pode morrer Derrick e a culpa vai ser sua! Por que tinha que bater nele hein?
- Acalme-se senhora Montesblanco. – O médico interveio e como que hipnotizada, Ela voltou-se para olhá-lo. – A briga que seu marido teve com o senhor...
- Apenas Derrick doutor. – Emma completou aflita e eu assenti.
- Bem, como eu ia dizendo o conflito que seu marido e Derrick em nada teve haver com o problema atual do senhor Montesblanco. Isso pode acontecer com qualquer pessoa que tenha passado por um transplante e me estranha muito a senhora nunca ter reparado em algum sintoma ou até mesmo ter percebido uma cicatriz.
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A Outra Face do Espelho
RomanceAmor ou Ódio? Felicidade ou Tristeza? Passado ou Presente? Calma ou Desespero? Verdade ou Mentira? Não importa qual lado esteja certo ou errado, mas sim que toda história tem dois lados. Chegou a nossa vez! Labirinto de Contradições - A Outra Face...