Capítulo 73 - Os Três Desejos - Parte 1 (Aaron)

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– Preparado para morrer Aaron? – Elena indagou com um sorriso malicioso estampado no rosto.

Não nego. Eu estava completamente embasbacado pela garota sentada a minha frente. A Elena que estava ali não era tão diferente da que eu conheci há alguns meses, porém bastou descobrir a face simples e divertida que ela mantinha escondida, para que eu me visse perdido em seus encantos.

"Perdido em seus encantos..." Coisa antiga de se falar? Até pode ser ou melhor, certo que era, mas servia para expressar bem como eu me sentia por ela.

- E então? Preparado ou não? – Ela repetiu a pergunta.

Aquela era uma pergunta complexa e que ia muito além das cartas de baralho que estávamos jogando. Se fosse há alguns meses atrás eu diria que sim, que estava preparado para morrer, afinal eu não tinha família, animal de estimação, emprego ou amigos para que alguém sentisse a minha falta. Meus objetivos eram nulos e eu vivia dia após dia num marasmo interminável.

No entanto, duas semanas foram suficientes para mudar minha visão de vida. Nunca tive ninguém com quem me importar. Cuidar muito menos e devo confessar que bancar o enfermeiro de Elena estava se revelando uma grata surpresa.

Devo confessar que a princípio foi muito difícil, umas vez que não passávamos nem cinco minutos sem brigar ainda que fosse pelas coisas mais inúteis como a disputa pelo poder do controle remoto ou então pela comida. Eram brigas ridículas, eu sei...

Porém a medida que os dias foram passando, conseguíamos ter mais momentos de paz e as discussões logo deram lugar a conversas interessantes como a respeito de sonhos, ambições e planos para o futuro.

Por certo eu não tinha nada que contar a respeito da minha infância e sempre detestei o tema, mas foi através disso que eu descobri a menina fascinante que ela era e quantas coisas nós tínhamos em comum. Órfã de pais aos 4 anos, Elena passou a infância longe de um lar já. A única parente que tinha viva, a avó, não a suportava e a muito custo a manteve em um colégio interno. Mas nem por isso deixou de ser uma criança travessa. Em meio a risos e gargalhadas fiquei sabendo da pimentinha que ela havia sido. Apesar do ar de solidão, Elena era espontânea e esse lado sinceramente me encantou.

Também fiquei sabendo que ela fabricava e vendia bijuterias, afinal a avó não era

rica (o que por certo me aliviou) e me afirmou que mesmo que fosse, ela jamais iria usufruir desse dinheiro.

- Vamos, está com medo de morrer é? – Ela provocou jogando uma almofada em fim. Tinha acabado de tirar a tala do braço e a perna ainda continuava enfaixada, o que me deixou hum... pode parecer estranho, mas eu havia ficado feliz. Afinal isso era um motivo para pelo menos por enquanto continuar em Miami com ela.

- Não, mas se eu fosse você teria medo. – Sorri baixando as últimas cartas e encerrando assim o jogo.

- Desgraçado! – Ela murmurou e não pude evitar a gargalhada. Ela ficava adorável irritada.

"Adorável? Eu disse adorável?!" Ok, eu estava indo longe demais agora. Elena poderia até ser divertida, mas isso não mudava a essência arrogante dela... ou será que mudava.

- Vamos Elena foi só um jogo! – Me defendi colocando a almofada na frente do rosto enquanto ela fazia uma verdadeira guerra de travesseiros. Ela sempre ficava enraivecida quando perdia, por isso era tão engraçado. – Ok já chega! – Tirei a almofada do rosto em sinal de bandeira branca. – O que acha de comer uma lasanha no jantar em um gesto de paz?

- Você não vale nada mesmo! – Foi vez dela de rir atirando um travesseiro que eu

peguei no ar.

- Está bem! Lasanha a bolonhesa. – Ofereci me defendendo de mais um golpe. Ela devia valorizar o meu sacrifício ao trocar o molho branco por bolonhesa afinal eu era vegetariano!

- Você acha que vai me convencer com "agradinhos"? – Ela tentava segurar o riso e me esquivei de mais um golpe.

- Tudo bem... lasanha à bolonhesa no jantar, donuts no café da manhã e não se fala mais nisso! – Era a minha última oferta.

Me escondi novamente atrás de uma das almofadas esperando pelo impacto que não veio. O silêncio era total e sorri comigo mesmo pela vitória. Afinal é como dizem né: barriga cheia, coração contente.

- Eu concordo, mas quero donuts no café por uma semana! – Exigiu e a gargalhada sarcástica foi inevitável.

- Não acha que está pedindo demais? – Questionei parando de rir quando me lembrei de uma coisa importantíssima. – Aliás, o combinado é que o perdedor pagaria a aposta não o vencedor!

Eu pensava que era esperto, mas Elena era muito inteligente também! Em apenas alguns minutos tinha feito com que eu saísse o perdedor quando eu havia ganhado o jogo e se parasse pra pensar.... ela já tinha feito isso outras vezes. No entanto dessa vez ela não levaria a melhor, ah não mesmo!

- Errr.... tudo bem eu abro mão dos donuts. – Tentou amenizar a situação, porém não tinha jeito. Era tarde demais pra ela.

- É claro que sim, mas se me lembro bem combinamos que o perdedor teria que fazer o que o vencedor quisesse, não é isso mesmo? – Malicioso, as imagens do que poderia acontecer passavam pela minha cabeça. – Além do mais, pelas minhas contas, a senhorita já me deve... 3 apostas.

Elena bufou irritada. Era claro que ela sabia que este era um caso perdido. O problema é que era muito orgulhosa e dar o braço a torcer era considerado uma tragédia enorme para ela, a pior das derrotas. Porém ainda assim eu sabia que ela faria o que era certo, pois era honesta demais pra fazer o contrário.

- Esta bem o Aladin, pode fazer os seus três desejos!

Tive que me controlar pra não abrir o sorriso de vitória que ela tanto detestava.

Afinal eu havia conseguido e o primeiro desejo já estava na ponta da língua...

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O que será que o Aaron vai pedir? Quem arrisca?

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora