Capítulo 34 - Quebrando as Regras (Pablo)

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Cavalo: Preparado.

Cordas: Preparadas.

Sacola de alimento: Preparada.

Pablo Montesblanco: Completamente despreparado!

Talvez "desesperado" fosse a palavra que melhor definisse como eu me sentia no momento. Na teoria, tudo estava lindo e maravilhoso. O plano em si, parecia não ter falha alguma, portanto tudo teria que estar tranquilo.

Eu disse PARECIA e TERIA. Porque na prática era tudo bem diferente. Por mais que tentasse não parava de pensar no que faria se as coisas dessem errado. Será que eles se voltariam contra mim? Ou quem sabe aceitariam meu gesto como algo "heróico" até poderia dizer "romântico"? E o principal: como Luna reagiria?

Sinceramente eu tinha medo da resposta a essa última questão. Me apavorava a ideia de magoá-la. Aliás, eu não sei porque me sentia assim. Só sendo muito idiota mesmo pra preferir perder a vida do que magoar uma das pessoas que mais havia me feito mal na vida. Era impossível entender! Ainda assim eu sabia que não havia mais volta. Seguiria com aquele plano maluco ainda que essa fosse a última coisa que fizesse na vida.

"Acalme-se Pablo. Lembre-se que você repassou esse plano a noite toda. Não há porque dar errado."

Sim eu precisava me convencer disso. O objetivo não era impedir aquele casamento? Então, tudo estava bem planejado para isso, não havia porque me preocupar. Aliás, eu não devia e não queria ter com o que me preocupar, afinal, não poderia correr o risco de desistir no último instante, pois se fizesse isso, depois o arrependimento seria muito maior.

Com esse pensamento em mente, desci do cavalo e observei o acampamento de longe. Era estranho que, para um dia de festa, aquele lugar estivesse tão vazio, mas de acordo com os livros que eu havia consultado, isso era absolutamente normal já que todos se envolviam de alguma forma nos preparativos da cerimônia.

Pensando bem... aquele silêncio até que não era mal. Ao contrário, seria muito mais fácil colocar meu plano em prática sem chamar a atenção de toda a aldeia. Além do mais, o destino devia estar ao meu favor. A barraca da noiva estava afastada do resto do acampamento e segundo meu guia cigano, de lá ela só sairia quando o noivo estivesse chegando, para então, realizar uma encenação antes que o casamento se oficializasse e era nessa parte que eu iria entrar...

Meia hora depois, com os equipamentos novamente checados, eu poderia afirmar que estava pronto. Pronto, porém não preparado. Isso eu não estaria nunca.

De repente o barulho de cavalos se aproximando me fez olhar em direção a estrada. No mesmo momento a tenda abriu-se e Luna, Moadel e mais uma outra moça sentada numa cadeira de rodas, saíram da tenda. Meu coração acelerou, o ritual ia começar dentro de poucos instantes e era hora de eu entrar em cena.

Abaixei a máscara preta e subi no cavalo. Nunca gostei muito de cavalgar, mas havia suas vantagens num momento como aquele. Olhei para a estrada e três homens se aproximavam, o quilômetro parado à frente é claro. Ainda assim eu estava muito mais próximo a barraca, porém se vacilasse Rafe logo nos alcançaria e então adeus chance.

Sem hesitar, coloquei o chapéu na cabeça e sai em disparada. A princípio, Luna e suas acompanhantes não haviam me notado, mas não demorou muito para que as três se dessem conta que um "cavaleiro mascarado" entrara em cena. O noivo se aproximava, já estávamos quase na mesma direção, mas ainda assim eu tinha uma chance a frente dele. Era hora de arriscar no jogo do "tudo ou nada" e honestamente eu estava rezando para conseguir o "tudo".

Uma chance. Cinco segundos. Era tudo o que eu tinha e sem vacilar, entrei na reta final. Aproximando-me da barraca, calculei mentalmente aquela que seria a minha única tentativa e sem deixar de conduzir o cavalo, estendi os braços e agarrei uma Luna que me olhava boquiaberta.

"Consegui! Eu consegui!"

Eu me sentia como uma criança que consegue algo muito difícil depois de tanta expectativa. Por Deus eu tinha conseguido! Sim senhor o "certinho" Pablo Montesblanco cometeu um crime e sabe de uma coisa? Me sentia ótimo por isso! No fim das contas... uau eu estava quebrando as regras! Banquei o cowboy do velho oeste e agora Luna estava ali comigo e o que é melhor: fora do casamento!

Voltei a cabeça para trás e pude ver Moadel a frente do cavalo de Rafe. Ele havia parado e a distância entre nós era maior ainda. Me dei conta, porém não podia acreditar no que estava acontecendo. Teria Moadel me descoberto? Se não, que outra explicação existiria pra ela impedir que um estranho raptasse Luna?De repente comecei a senti uma dor aguda no braço. Olhei pra baixo e o que vi deixou atônito. Ela estava me mordendo e o que é pior, estava mordendo mesmo, pra valer!

- PARE! – Rugi numa voz autoritária um pouco mais grossa do que a minha. Não era o momento ideal pra que ela descobrisse quem era o seu raptor.

Para minha surpresa, Luna não se assustou, ao contrário, me mordeu ainda mais forte. Contendo um palavrão, a puxei para trás virando-a de barriga para baixo, assim como se fosse um saco de farinha. Não era o que eu queria, mas o que mais eu podia fazer? Se ela continuasse me mordendo, acabaria por perder o controle do cavalo.

- Seu brutamontes! Me solte! – Disse e ficou esperando uma resposta. Continuei em silêncio conduzindo o cavalo e a mantendo de barriga para baixo. – Ah não vai soltar? - E então começou a espernear.

O cavalo se revoltou e tratei de controlar as rédeas com dificuldade. Luna não parava de se movimentar e a situação já estava ficando impossível. Olhei para trás e graças a Deus, parece que o noivo tinha desistido mesmo. Um pouco mais aliviado, porém sem alternativas devido a agitação, parei o cavalo e desci puxando-a comigo. Não tinha jeito eu teria que amarrá-la ou não chegaria nem a sair da zona de perigo!

Segurando-a com uma mão, comecei a vasculhar a bolsa que estava pendurada no lombo do cavalo. Era estranho, mas eu tinha certeza de que havia colocado duas cordas dentro daquela bolsa! Comecei então a revirar a sacola e foi nesse momento que Luna aproveitou a minha distração e pisou com força no meu pé.

É claro que não pude evitar soltá-la. Novamente contive a vontade de soltar um palavrão, enquanto a via se afastar. Antes que fosse tarde comecei a correr atrás dela. Eu tinha uma vantagem e tanta em relação a ela e em poucas passadas a alcancei a puxando pela cintura. Sem dizer nenhuma palavra, joguei minha "refém" nos ombros e comecei a caminhar de volta.

Luna, porém não se deu por vencida e se agitando muito, fez com que eu me desequilibrasse e caíssemos os dois no chão, eu por baixo e ela por cima. Nossos olhos se encontraram e fiquei hipnotizado. Ela tinha os olhos mais bonitos que eu já vi. Não sei como havia conseguido passar tanto tempo sem tê-la, mas no momento, não me sentia disposto a me afastar nem um centímetro que fosse. Ela parecia uma bonequinha de porcelana, tão frágil que eu até tinha medo de quebrá-la.

Mas de frágil, Luna não tinha nada. Perdido nos meus pensamentos, não vi a mão dela levantar-se até o meu rosto e então já era tarde demais. Levando o chapéu junto, ela puxou a máscara que cobria o meu rosto e então arregalou os olhos parecendo nunca ter me visto antes. No entanto a palavra que veio a seguir, mostrou que ela tinha me reconhecido e muito bem.

- Você?!

"E agora Pablo? O que dizer? Hummm surpresa?!"

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Sempre dá pra ficar pior não? hahaha

A Outra Face do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora