Bianca olhou entediada para a pintura na parede atrás de um dos caixas e sentou em uma das cadeiras dispostas no centro do salão da agência, enquanto aguardava Artur trocar algumas palavras com uma atendente. Ele jogava seu charme para a moça que sorria, cada vez mais inclinada sobre a mesa, deixando o decote mais visível. Não era uma cena incomum, o noivo era um homem muito atraente e carismático e exercia grande fascínio nas pessoas, principalmente, nas mulheres.
Conseguia abrir muitas portas com aquele sorriso e, com ele, conseguiu conquistar a atenção de Bianca quando se conheceram dois anos antes.
A moça curvou-se mais alguns centímetros e Artur lhe dirigiu uma piscadela, mas não desviou seus olhos dos dela. Era um homem correto demais para se deixar envolver tão facilmente por um par de seios, ainda mais sabendo que a noiva o observava. Ele se juntou a Bianca um minuto depois, trazia um sorriso de desculpas capaz de derreter uma geleira, mas que não diminuiria, de modo algum, a irritação da noiva.
O olhar que ela lhe dirigiu não foi nada amigável.
— Pensei que fôssemos almoçar e não tomar um chá de cadeira no banco — ela soltou, estalando a língua, seus grandes e negros olhos semicerrados.
— Sinto muito, amor. O gerente está encerrando um atendimento e logo me receberá — passou o braço sobre seus ombros, mas a moça se afastou. — Sabe que se não fosse urgente, não teria vindo até aqui — continuou.
— Também tenho assuntos urgentes a tratar no trabalho — queixou-se ela, uma sobrancelha arqueada acentuando sua contrariedade.
— Você trabalha demais. Nunca tem muito tempo para si, para nós. Hoje, tive que, praticamente, sequestra-la para que almoçasse comigo.
Os lábios dela se comprimiram demonstrando sua irritação. Não queria outra discussão como aquela, nem sabia se queria continuar usando aquele anel de noivado no dedo. Imaginar-se no altar com ele estava se tornando cada vez mais custoso e perguntava-se, com uma frequência cada vez maior, a razão de ainda não ter posto fim ao seu relacionamento.
— Não venha com essa história de novo. Trabalho o necessário, assim como você que não me vê reclamando a respeito.
Ele estapeou a perna, nervoso. Era o gesto mais violento de que era capaz, então deu de ombros e sorriu fracamente, concordando que não era mesmo o local e momento adequados e a viu cruzar as pernas com impaciência e dedicar sua atenção a ler os e-mails no celular. Desanimado, resolveu fazer o mesmo, decidido a voltar a tocar no assunto mais tarde no conforto e isolamento do seu apartamento e concentrou-se na tela do aparelho que retirou do bolso.
Foi assim por apenas um minuto.
Primeiro, ouviram o estilhaçar do vidro que separava a área do autoatendimento do interior do banco. Em seguida, um homem vestido de preto e mascarado, invadiu o local segurando uma pistola e rendeu o segurança facilmente. Segundos depois, mais três assaltantes surgiram; todos vestidos e armados de maneira semelhante.
Adriana era um deles. Ela se adiantou para o meio do salão; cacos de vidro rangendo e se esfarelando sob a sola de suas botas a cada passo dado.
— Todo mundo pro chão! — gritou, apontando a arma aleatoriamente até que o pânico e a correria que se instaurou, cessou e ela foi obedecida.
Baixou a arma, mas não retirou o dedo do gatilho; fazia uso de uma frieza da qual nunca foi dona. Naquele momento, tinha deixado de lado todos os seus princípios. Era uma estranha de si mesma. Mesmo assim, não se arrependia do que estava fazendo. Não sentia medo tampouco, apesar de saber que ele estava enraizado em seu coração e imaginou ser um efeito da adrenalina.
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Reféns do Desejo
ActionUm assalto à banco resulta em um sequestro. Em meio a uma perseguição implacável e uma luta desesperada contra o tempo, sequestradora e refém irão descobrir que a tênue linha que separa o amor do ódio chama-se "desejo".