Bianca fitava Silvia, que caminhava de um lado para outro com passos arrastados. Nem por um minuto, ela guardou a arma. A segurava firme, como se fosse uma extensão do próprio corpo.
Ao seu lado, Adriana acompanhava seu olhar com as sobrancelhas arqueadas. Ainda não conseguia acreditar na sorte que estava tendo. Afinal, por duas vezes quase levou um tiro e, nas duas, Bianca a salvou. Se ela não tivesse convencido a amiga, seu cadáver estaria esfriando no meio da lama em que pisavam.
Soltou o ar pelo nariz e cruzou os braços, reunindo forças para falar. Caiu em um silêncio inquietante, após a partida de Cobra e sentia o peso sobre os ombros cada vez maior. Estava fazendo o que era necessário para salvar a filha e encontrou uma aliada poderosa em Bianca. Mas a que custo?
— Seu pai...
A moça ergueu a mão, pedindo para que não continuasse e os ombros de Adriana arriaram um pouco mais.
— Você não tem culpa, se é isso que pensa — esclareceu. — Meus problemas com ele vêm de muito antes disso.
Abanou a cabeça, ainda sem fitá-la.
— O que fiz, há pouco, não foi um ato impensado. Penso nisso há anos. Mas como poderia me levantar contra alguém que amo? Contra o homem que me deu a vida?
Adriana a fitava, consciente de que Bianca já não falava com ela. A moça apenas expunha seus pensamentos, externando seus sentimentos com um semblante impassível e sem nenhuma emoção na voz. Estava muito claro que ela passou muito tempo se fazendo àquelas perguntas.
Mesmo assim, sentia-se culpada por tê-la levado a agir contra o pai, embora isso tivesse salvo sua vida.
Bianca ergueu o olhar para o firmamento, então voltou a fitá-la com um sorriso sem dentes a erguer os cantos de sua boca. No fim, cada uma tinha seus próprios demônios a enfrentar.
— Vejo pena em seu olhar? — A ex-refém indagou, arqueando uma sobrancelha.
A criminosa limpou a garganta e sorriu.
— Você se acha digna de pena? — Escapuliu de lhe dar uma resposta direta.
Estava muito longe de lhe dedicar alguma pena. O brilho diferente que Bianca capturou em seus olhos, era admiração.
— Com certeza, não. — Respondeu, voltando sua atenção para Silvia que continuava sua caminhada arrastada, lançando olhares furtivos em todas as direções.
— Obrigada por ter salvo minha vida, outra vez.
A advogada deu de ombros com um sorriso malvado a rasgar os lábios que tinha beijado tão ardentemente, mais cedo. Drica ainda sentia o gosto e o calor deles.
A voz de Bianca soou estranhamente rouca quando falou:
— Não precisa agradecer. Só não faça com que me arrependa disso, pois não será Silvia, nem meu pai ou seu bando de assassinos que irá concertar esse erro. — Passou a mão sobre pistola que repousava em sua cintura, a mesma que pertenceu a Cobra.
A ruiva inclinou a cabeça em assentimento. Não sorria, embora desejasse fazê-lo, afinal o modo como pronunciou aquela ameaça, foi muito atraente. Por fim, aspirou fundo e empertigou-se, abraçando-se e mudando de assunto para afastar o desejo de arrastá-la de volta para o banco de trás do carro.
— Qual o seu lance com ela?
— O quê? — Bianca perguntou confusa com a mudança repentina.
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Reféns do Desejo
ActionUm assalto à banco resulta em um sequestro. Em meio a uma perseguição implacável e uma luta desesperada contra o tempo, sequestradora e refém irão descobrir que a tênue linha que separa o amor do ódio chama-se "desejo".