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Três meses depois.

Bianca pronunciou uma frase de um de seus pensadores favoritos. Sorriu para a audiência e declarou:

— Vejo vocês na semana que vem.

Uma mistura de sons dominou o ambiente, causado pelo arrastar de cadeiras, murmúrios, risadas e passos. Alguns minutos se passaram enquanto organizava suas coisas, atirando papéis, notebook e um livro de qualquer jeito na pasta.

Caminhou pelos corredores quase desertos àquela hora e os poucos alunos que encontrou pelo caminho não lhe dirigiram o olhar.

Tanto melhor.

Depois do seu sequestro, havia se tornado uma espécie de celebridade no campus e sobravam olhares piedosos, curiosos e perguntas sobre o seu bem-estar. Ninguém parecia notar o quão desagradável esses gestos lhe pareciam. E isso só piorou quando a notícia do fim do seu noivado se espalhou.

O rosto atônito de Artur ainda lhe vinha à mente sempre que olhava para a mão e não encontrava o anel de noivado. Achava isso engraçado, mas sentia falta dele, afinal conviveram por alguns anos e, apesar de não lhe dedicar amor, lhe queria bem.

Quando retornou para casa, àquela noite, após o tiroteio, já era madrugada. O rapaz a aguardava em seu apartamento, assim como seu pai. Silvia fez menção de sair quando os viu, mas Bianca a impediu. Precisava dela naquele momento. Tinha passado às últimas 48h horas sendo forte, mas suas forças se esgotaram quando se despediu de Adriana. Precisava, mais uma vez, do seu apoio. Saber que estava por perto, a acalmava para fazer o que era necessário.

Ainda nervoso com tudo que se passou, Arthur não aceitou bem o desejo da noiva de não querer sua presença. Julgou que Silvia era a responsável pela decisão e tentou agredir a moça, o que foi uma surpresa geral, dada sua natureza pacifista. Silvia, como era de se esperar, adorou colocá-lo em seu lugar, ou seja, no olho da rua.

Alguns dias depois, ele e Bianca voltaram a se reencontrar e tiveram uma conversa amena sobre os motivos que a levaram a dispensá-lo na ocasião, assim como, seu desejo de pôr fim ao noivado.

O rapaz tentou demovê-la da ideia, mas desistiu ao perceber que a noiva voltara diferente daquele sequestro. Mesmo assim, por algumas semanas, ainda insistiu em reatar o compromisso, até que compreendeu que se tratava mesmo de uma decisão definitiva.

Com o pai foi diferente.

Não houve discussão ou agressão. Ela se permitiu abraçar e devolver o gesto. Conversaram com sinceridade e expôs todas as suas mágoas e ressentimentos em relação as atividades dele, embora estivesse agradecida pela decisão de enviar seus homens, outra vez, com o intuito de ajudá-la, mesmo quando enfatizou que não os queria. Não fosse isso, todos os planos de Adriana teriam terminado em morte. Mais especificamente, na morte dela e amigos.

Garantiu ao pai que o tal dossiê que usou para ameaçá-lo não existia, mas que qualquer pessoa com bom senso e um pouco de curiosidade, seria perfeitamente capaz de rastrear todas as atividades as quais ela se referiu e, como filha, lhe fez um último pedido em nome da saúde de seu relacionamento com ele. Pediu que abandonasse tais atividades.

O juiz prometeu considerar, mas ela sabia que o que ansiava talvez nunca viesse a acontecer. Ele sempre acreditou que fazia a verdadeira justiça daquela forma e as pessoas que o seguiam também. Mesmo que parasse, logo outro assumiria seu lugar, mas aí, já não seria mais do seu interesse.

Quando ele indagou sobre a criminosa que Cobra afirmou vê-la beijar, respondeu simplesmente que não era de sua conta. Ele jamais aceitaria que pudesse se envolver com uma mulher, assim como aconteceu com Sílvia. Assistiu à transformação em seu rosto, mas ignorou a raiva e decepção que exibia.

Reféns do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora