— Não está falando sério! — Adriana protestou.
Estavam do lado de fora do casebre, do lado do carro estacionado, ainda com as portas abertas. Somente a luz da lua fornecia iluminação para que se vissem. Tinha acabado de contar sobre a ligação para Luiza e, diante do problema que se apresentava, Rebeca tomou uma decisão que surpreendeu a todos.
— Beca tem razão, Drica — Chico interveio, após um minuto em que o único som que ouviam, vinha dos grilos e cigarras na mata.
Adriana se empertigou, liberando o ar dos pulmões com impaciência, então escorou-se no carro. Na fraca luz do luar, parecia mais uma alma penada e Rebeca sentiu-se mal por vê-la assim.
Ainda era estonteantemente linda, mas, no último ano, perdeu peso e ganhou olheiras profundas pelas noites insones no hospital com a filha. Seu humor também mudou. Geralmente, era alegre e brincalhona; tinha um jeitinho cafajeste de conquistadora, o que ela era realmente. As mulheres tendiam a se jogar aos seus pés e, ela própria, não era imune aquela beleza e sorriso malandro.
No entanto, o sofrimento pela doença da filha e os problemas com o primo Lucas e Alex, a fizeram se isolar. Raramente sorria, estava sempre zangada e sombria. Sempre foi uma mulher de temperamento forte, às vezes, explosivo, o tipo de pessoa que não se calava ou ficava inerte diante de uma injustiça. Não recuava diante da maldade, nem de ameaças. Ela não conhecia o medo, até se tornar mãe.
Quando adotou Lis, filha bastarda de seu primo Lucas, Adriana mudou sua vida. Tornou-se mais tranquila, mais cuidadosa e procurou se afastar de problemas. Principalmente, aqueles que envolviam o traficante Alex.
Por causa dela, Rebeca largou as drogas. Quando sua própria família desistiu de tentar ajuda-la, Drica armou-se da coragem que lhe era característica, entrou numa comunidade dominada pelo tráfico, em que nem mesmo a polícia se atrevia a ir, e arrastou a amiga de infância de volta para casa.
Foi a primeira vez que seu caminho cruzou o de Alex.
— Não vou discutir, já está decidido. Chico precisa estar no hospital, em algumas horas, para iniciar seu turno sem levantar suspeitas, embora, pelo que sua irmã contou, ele não seja suspeito de nada. Quanto a mim, vou voltar para casa e procurar a polícia.
Na escuridão, ouviram Adriana socar a lataria do carro.
Rebeca amava a amiga como mulher há muito tempo e, embora tivessem dividido a cama algumas vezes, sabia que, para Drica, tratava-se apenas de sexo. Então, resignava-se ao papel de amiga. Drica era um furacão que, à sua passagem, despedaçava corações. Ela não fazia por mal, nem por ego, apenas desejava aventuras, enquanto as suas "conquistas" ansiavam por um romance, uma história de amor que jamais aconteceria.
Contudo, desde que Lis ficou doente, ela deixou as aventuras de lado, só tinha tempo para a filha e, quando não estava ao seu lado no hospital, estava extravasando sua raiva e medo de perde-la no ateliê. Nunca trabalhou tanto, nunca produziu peças tão lindas. Quanto mais desesperada ficava, mais bela se tornava sua arte.
— Veja o que está dizendo, você será presa!
— A polícia não tem provas concretas. Você, Rodrigo e eu, fomos entregar uma encomenda em outra cidade, o que é verdade e pode ser comprovado pelo cliente e por câmeras de segurança do posto de gasolina em que paramos...
— Um álibi irrefutável, já que para chegar até aquele banco levaríamos, pelo menos, três horas. Passamos no posto de gasolina às 10h da manhã e o assalto ocorreu um pouco depois do meio-dia — Rodrigo completou, entendendo o ponto de vista da amiga.
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Reféns do Desejo
ActionUm assalto à banco resulta em um sequestro. Em meio a uma perseguição implacável e uma luta desesperada contra o tempo, sequestradora e refém irão descobrir que a tênue linha que separa o amor do ódio chama-se "desejo".