Capítulo 10

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O silêncio no carro era constrangedor, apenas o ruido leve do motor e o tiritar da avenida.

Meus olhos navegavam pelos prédios singulares, rabiscados por vagantes da noite, o comércio local no frenesi das vendas e o vai e vêm das pessoas nas calçadas, encurraladas por tendas e barracas de vendedores ambulantes. Meu cérebro tenta registrar o cenário que desenrola, mas tudo é em vão.

Nicolas em dados momentos, inclina seu pescoço para o lado me observando, fingindo não notar continuava a encarar o vidro escuro do carro, mesmo sabendo que nada lá fora importava.

O cheiro de Nicolas abafa, enebria. Não conseguia pensar em nada, apenas uma vontade insana de sumir, para bem longe de sua presença, que traz uma bagagem de ódio, angústias e incertezas. Minha fala estava sufocada na garganta, nem para  brigar ela saia.

Sinto um leve solavanco e percebo que o carro subia na calçada, meus olhos que até então estavam desfocados, passaram a observar melhor o local.

Com arbustos na lateral da entrada, a fachada negra, com detalhes em vermelho, um nome se destaca, Motel Laramores.

Nunca estive em um local como aquele, por mais que causasse em mim uma curiosidade. O máximo que sabia sobre eles eram comentários de amigas. Nunca estive em uma banheira. Imaginava relaxada com meu amado, trocando carícias. Mas em outra ocasião e com outra pessoa.

_ Eu não vou entrar aí, com você.

_ Boa tarde! Bem vindo ao motel Laramores!_ disse a recepcionista sorridente.

_ Um quarto por favor.

_ Tem preferência senhor?

_ Eu não vou entrar aí, com você! _ repeti exaltada.

A recepcionista pousou seus olhos em mim, não entendendo minha reação.

_ O melhor quarto que estiver disponível. _ respondeu Nicolas calmo e me ignorando.

A garota sorriu para Nicolas, pedindo os documentos.

_ Pega seu RG, por favor._ pediu.

_ Eu já disse. Não vou entrar aí._ a recepcionista me olhou como pergunta -se, " Você está louca, ele é um gato. E está pagando o melhor quarto para você." Enquanto Nicolas procurava em sua carteira o RG.

Foda-se! Foda-se! Foda-se!

Pela minha cara ela entendeu o que quiz dizer.

_ Clara?_ cruzei os braços e olhei para fora do carro._ Clara? _ Nicolas me chamava_ Clara...

O ignorei completamente. Eu sei que aquela moça nunca me entenderia, pois não passou o que passei.

Ninguém pode entender.

Eu não peguei meu RG, ele terá que dar meia volta e voltar. Se ele pensa que vou facilitar sua vida está muito enganado. Minha jornada foi terrível, porque a dele tem que ser fácil.

Vou tentar de tudo para que me esqueça e suma da minha vida. Mas para isso, não vou facilitar nada.

Ele é tão safado! Olha a merda do lugar que está me levando! Me trata como uma prostituta, quer que me sinta como tal. Prostituta. Está aqui, gravado nas lembranças, parece que faz questão de provar o que sempre pensou de mim.

O carro começou a movimentar, mas não para fora do motel. Lentamento foi adentrando as laterais preta da entrada. Como ele conseguiu entrar sem meu RG?

_ Como conseguiu?_ quando percebi repeti meus pensamentos.

_ Simples! _ com o sorriso mais sacana do mundo me olhou _ Só dei uma caxinha bem gorda.

Uma raiva subiu por meu corpo. Quando vi, já estava gritando.

_ Você acha que pode comprar todo mundo! Que as pessoas só querem a merda do seu dinheiro!

_ Acho que ela te provou que estava bem interessada, porque aceitou. _ disse complacente.

_ Você é um idiota! _ explodi. O que ele pensa! Que pode comprar a todos! Que sempre será o maioral! O que compra prostitutas virgens para seu deleite!_ Você sabe o que há fez aceitar a merda do dinheiro?!

_ Clara para. Eu só quero conversar.

_Conversar!_ comecei a rir como uma louca, enquanto ele estacionou o carro na garagem_ Oh sim! Concerteza, eu só quero conversar._ falei com sarcasmo_ Gente? _ bati palmas. _ Nicolas Roriz só quer conversar. _ outra gargalhada e viro encarando seus olhos com muita raiva_ Então, há leva para uma porra de motel! Depois de me chamar de... Aaaah! Seu merda! Seu idiota! Seu...

_ Para Clara! _ me cortou, enquanto  segurava meus ombros_ Para!

Nicolas me largou assustado com minha explosão e começou a passar as mãos no cabelo. Até eu estava assustada! Mas eu precisava extravasar e ainda estou com raiva.

Ficamos em silêncio dentro do carro.
Meu peito subia e descia, como se tivesse corrido uma maratona.
Quando começava me acalmar ele disse.

_ Vamos entrar?_ perguntou, olhando em meus olhos, passou a mão em meu rosto, me arrepiando inteira.

_ Qual parte você não entendeu._ respondi fria_ Não vou entrar aí com você.

Nicolas passou a respirar forte. Ele estava perdendo o controle e eu, não estava nem aí, para ele. Voltou a passar as mãos em seus cabelos aflito. Virou o rosto para a janela do carro e ficou quieto.

Mentalmente gritei! Hahaha ponto para mim, seu idiota. Coloca essa carroça para movimentar! Apesar que aquele carro nunca iria parecer uma carroça. E vamos embora! Estou com fome e com raiva!

Mas então, virou para mim e disse com a cara mais lavada do mundo.

_ Clara, se não entrar aí agora! Considere despedida!_ ele estava me ameaçando de novo.

_ Você não pode me mandar embora só por isso!

Agora foi ele que deu risada.

_ Ah! Posso sim!

_ Então, está bem! Pode mandar!
Nicolas, pegou o celular, apertou o botão na discagem direta e passou a falar

Meu coração parecia que iria pular do peito. Só pensava em Bela! Por mais que tinha uma reserva e meus direitos de trabalhadora, a idéia de ficar desempregada me apavorava.

_ Oi Beth._ sorriu com ar diabólico_ Sim, sou eu Nicolas_ outro sorriso, enquanto ela respondia_ Faz um favor para mim, minha querida. Sabe uma funcionária das novas lojas que adquiri. O nome dela é Clara...

Pensa! Pensa! Vai continuar com isso até o fim? Irá aguentar a pressão depois? Clara pensa! Isso será melhor mesmo? Me perguntava. Mas resolvi está questão em segundos.

Que ele vai a merda! Irei até o fim.
Virei o rosto para ele com um sorriso, segura de minha decisão. Se ele quer jogar, terá que fazer bem feito, por que não estou para brincadeiras.

_ Tudo certo. Não é mais minha funcionaria. _ falou assim que confirmou meus dados.

_ Ótimo. Agora vamos embora, nossa relação acaba por aqui. _ finalizei triunfante.

_ Aí que você se engana, meu bem. Pagarei um teste de DNA e exigirei minha filha na justiça.

_ Você não pode fazer isso!_ o triunfo foi dele, com sorriso memorável Nicolas rebateu.

_ Vamos conversar? Me convensa a não fazer isso...

Vivendo Um PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora