O silêncio no carro era constrangedor, apenas o ruido leve do motor e o tiritar da avenida.
Meus olhos navegavam pelos prédios singulares, rabiscados por vagantes da noite, o comércio local no frenesi das vendas e o vai e vêm das pessoas nas calçadas, encurraladas por tendas e barracas de vendedores ambulantes. Meu cérebro tenta registrar o cenário que desenrola, mas tudo é em vão.
Nicolas em dados momentos, inclina seu pescoço para o lado me observando, fingindo não notar continuava a encarar o vidro escuro do carro, mesmo sabendo que nada lá fora importava.
O cheiro de Nicolas abafa, enebria. Não conseguia pensar em nada, apenas uma vontade insana de sumir, para bem longe de sua presença, que traz uma bagagem de ódio, angústias e incertezas. Minha fala estava sufocada na garganta, nem para brigar ela saia.
Sinto um leve solavanco e percebo que o carro subia na calçada, meus olhos que até então estavam desfocados, passaram a observar melhor o local.
Com arbustos na lateral da entrada, a fachada negra, com detalhes em vermelho, um nome se destaca, Motel Laramores.
Nunca estive em um local como aquele, por mais que causasse em mim uma curiosidade. O máximo que sabia sobre eles eram comentários de amigas. Nunca estive em uma banheira. Imaginava relaxada com meu amado, trocando carícias. Mas em outra ocasião e com outra pessoa.
_ Eu não vou entrar aí, com você.
_ Boa tarde! Bem vindo ao motel Laramores!_ disse a recepcionista sorridente.
_ Um quarto por favor.
_ Tem preferência senhor?
_ Eu não vou entrar aí, com você! _ repeti exaltada.
A recepcionista pousou seus olhos em mim, não entendendo minha reação.
_ O melhor quarto que estiver disponível. _ respondeu Nicolas calmo e me ignorando.
A garota sorriu para Nicolas, pedindo os documentos.
_ Pega seu RG, por favor._ pediu.
_ Eu já disse. Não vou entrar aí._ a recepcionista me olhou como pergunta -se, " Você está louca, ele é um gato. E está pagando o melhor quarto para você." Enquanto Nicolas procurava em sua carteira o RG.
Foda-se! Foda-se! Foda-se!
Pela minha cara ela entendeu o que quiz dizer.
_ Clara?_ cruzei os braços e olhei para fora do carro._ Clara? _ Nicolas me chamava_ Clara...
O ignorei completamente. Eu sei que aquela moça nunca me entenderia, pois não passou o que passei.
Ninguém pode entender.
Eu não peguei meu RG, ele terá que dar meia volta e voltar. Se ele pensa que vou facilitar sua vida está muito enganado. Minha jornada foi terrível, porque a dele tem que ser fácil.
Vou tentar de tudo para que me esqueça e suma da minha vida. Mas para isso, não vou facilitar nada.
Ele é tão safado! Olha a merda do lugar que está me levando! Me trata como uma prostituta, quer que me sinta como tal. Prostituta. Está aqui, gravado nas lembranças, parece que faz questão de provar o que sempre pensou de mim.
O carro começou a movimentar, mas não para fora do motel. Lentamento foi adentrando as laterais preta da entrada. Como ele conseguiu entrar sem meu RG?
_ Como conseguiu?_ quando percebi repeti meus pensamentos.
_ Simples! _ com o sorriso mais sacana do mundo me olhou _ Só dei uma caxinha bem gorda.
Uma raiva subiu por meu corpo. Quando vi, já estava gritando.
_ Você acha que pode comprar todo mundo! Que as pessoas só querem a merda do seu dinheiro!
_ Acho que ela te provou que estava bem interessada, porque aceitou. _ disse complacente.
_ Você é um idiota! _ explodi. O que ele pensa! Que pode comprar a todos! Que sempre será o maioral! O que compra prostitutas virgens para seu deleite!_ Você sabe o que há fez aceitar a merda do dinheiro?!
_ Clara para. Eu só quero conversar.
_Conversar!_ comecei a rir como uma louca, enquanto ele estacionou o carro na garagem_ Oh sim! Concerteza, eu só quero conversar._ falei com sarcasmo_ Gente? _ bati palmas. _ Nicolas Roriz só quer conversar. _ outra gargalhada e viro encarando seus olhos com muita raiva_ Então, há leva para uma porra de motel! Depois de me chamar de... Aaaah! Seu merda! Seu idiota! Seu...
_ Para Clara! _ me cortou, enquanto segurava meus ombros_ Para!
Nicolas me largou assustado com minha explosão e começou a passar as mãos no cabelo. Até eu estava assustada! Mas eu precisava extravasar e ainda estou com raiva.
Ficamos em silêncio dentro do carro.
Meu peito subia e descia, como se tivesse corrido uma maratona.
Quando começava me acalmar ele disse._ Vamos entrar?_ perguntou, olhando em meus olhos, passou a mão em meu rosto, me arrepiando inteira.
_ Qual parte você não entendeu._ respondi fria_ Não vou entrar aí com você.
Nicolas passou a respirar forte. Ele estava perdendo o controle e eu, não estava nem aí, para ele. Voltou a passar as mãos em seus cabelos aflito. Virou o rosto para a janela do carro e ficou quieto.
Mentalmente gritei! Hahaha ponto para mim, seu idiota. Coloca essa carroça para movimentar! Apesar que aquele carro nunca iria parecer uma carroça. E vamos embora! Estou com fome e com raiva!
Mas então, virou para mim e disse com a cara mais lavada do mundo.
_ Clara, se não entrar aí agora! Considere despedida!_ ele estava me ameaçando de novo.
_ Você não pode me mandar embora só por isso!
Agora foi ele que deu risada.
_ Ah! Posso sim!
_ Então, está bem! Pode mandar!
Nicolas, pegou o celular, apertou o botão na discagem direta e passou a falarMeu coração parecia que iria pular do peito. Só pensava em Bela! Por mais que tinha uma reserva e meus direitos de trabalhadora, a idéia de ficar desempregada me apavorava.
_ Oi Beth._ sorriu com ar diabólico_ Sim, sou eu Nicolas_ outro sorriso, enquanto ela respondia_ Faz um favor para mim, minha querida. Sabe uma funcionária das novas lojas que adquiri. O nome dela é Clara...
Pensa! Pensa! Vai continuar com isso até o fim? Irá aguentar a pressão depois? Clara pensa! Isso será melhor mesmo? Me perguntava. Mas resolvi está questão em segundos.
Que ele vai a merda! Irei até o fim.
Virei o rosto para ele com um sorriso, segura de minha decisão. Se ele quer jogar, terá que fazer bem feito, por que não estou para brincadeiras._ Tudo certo. Não é mais minha funcionaria. _ falou assim que confirmou meus dados.
_ Ótimo. Agora vamos embora, nossa relação acaba por aqui. _ finalizei triunfante.
_ Aí que você se engana, meu bem. Pagarei um teste de DNA e exigirei minha filha na justiça.
_ Você não pode fazer isso!_ o triunfo foi dele, com sorriso memorável Nicolas rebateu.
_ Vamos conversar? Me convensa a não fazer isso...
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Vivendo Um Pesadelo
RomanceEu sempre ouvi falar sobre amor à primeira vista, mas nunca acreditei. Esse amor que entorpece, alucina todos os seus sentidos deixando você anestesiado. Isso só tem em livros. Talvez uma paixão poderia até existir. Mas amor acho meio impossível. En...