Capítulo 14

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Não sabia se corria e arrancava Bela dos seus braços ou engolia mais essa.

Um carro estava emparedado há eles, com a porta aberta. Notei que o veículo era dele.

Nicolas depositou Bela no chão e moveu até o carro. Corri o mais rápido possível, eles nem viram me aproximar. Quando avancei para puxar Bela, Nicolas arrancou de seu veículo uma caixa amarela enorme com um laço lindo pink. Parei momentaneamente, retrocedendo meu ato. Nossos olhares se cruzaram, porém Bela estava de costas e nem me viu.

Bela pulou na caixa abraçando, dando gritos de alegria e falando repetidas vezes " obrigada paizinho ".

Na minha testa formou-se camadas de rugas de preocupação, aquilo estava indo longe de mais.

_ Posso abrir? _ um fio de voz saiu da garganta de Bela, seus olhos varriam a caixa esperançosa.

_ Sim é seu minha pequena._ respondeu Nicolas com um sorriso lindo.

Ele colocou a caixa no chão, parecia ser bem pesada. Bela abriu o pacote, rasgando a linda embalagem, sobrando apenas o conteúdo.

Gritos de alegria inundava meus ouvidos, conforme ela visualizava a caixa que ilustrava alguns desenhos. Bela é esperta, já sabia o que tinha. Eu fiquei olhando aquele objeto tentando entender o que tinha ali.

Nicolas pegou uma caneta do bolso da camisa e furou a fita adesiva que vedava a caixa ajudando. Bela abriu as abas da caixa e retirou uma casa de bonecas branca, com detalhes rosa e um telhadinho colonial. Parecia uma de verdade só que miniatura. A riqueza dos detalhes impressionava.

Bela se afastou quando Nicolas a ajudou a tirar toda a casa da caixa, só aí percebeu minha presença e sua alegria desvaneceu no ar.

A tensão era palpável. O medo corria em seus olhinhos, de perder o presente, de não ter a presença do pai, da possibilidade de eu brigar com Nicolas novamente, medo do que faria. Por mais que Bela seja uma criança, não posso desmerecer sua inteligência e perspicácia, ela me conhecia.

Respirei fundo, bombeando meus pulmões, meu coração e mente. Na tentativa de acalmar a alma e segurar a onda.

Com uma calma velada, sorri para minha filha, tentando passar uma paz que não existia.

_ Oi amor, tudo bem?_ um ponto de interrogação visualizava em sua face, ela estava desconfiada._ Nossa que linda casa!_ exclamei_ Você ganhou?_ visualizei um Nicolas sorrindo descarado de sua vitória_ Do seu... Pai?

Demorou mas consigo dizer pai entre dentes. Ele me irritava com suas abordagens ofensivas. Se pensa que vai sair impune, está muito enganado.

_ Sim mamãe... _ sua voz era um miado fino_ posso ficar?

Como poderia negar! Acenti com a cabeça e Bela me agradeceu.

_ Agradeça a Nicolas. _ exigi, apesar de Nicolas ser um idiota, vou mostrar que sei educar minha filha.

Mas me arrependi, no momento que proferi essas palavras. Bela jogou-se em seus braços, rodeando seu pescoço apertando forte com carinho.

Fui eu que deixei ficar com essa merda! Tudo bem que ele comprou e deve ter pago caro, mas precisava ser tão amorosa com aquele imbecil. Eu sou sua mãe! Eu que cuidei quando adoecia! Eu que levo e busco na escola! Eu que conheço todas suas necessidades!

_ Obrigada paizinho...

Doi ouvir e ficar calada. Não podendo magoar seus sentimentos e arrancar o sorriso de triunfo daquele ordinário.
Ele estava a comprando, como fez com a funcionária do motel. Agora sei por que me chamou de prostituta é um hábito comprar os outros. Está em seu DNA.

Vivendo Um PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora