x Prólogo

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"Uns acreditam em estrelas e romance à luz de velas. Eu acreditei em você, só em você."

Novembro de 2014.


Disseram a ela para seguir em frente, deixando para trás os olhos nublados de lágrimas nunca caídas. Para que, à noite, não enfrentasse os monstros que se escondiam em ruas cimentadas, lutando contra eles. Não deveria permitir a entrada sorrateira no pesadelo, que se abria em direções adversas. Mas ela não quis escutá-los, estampando o diploma de Medicina na moldura de um belo quadro, ao lado esquerdo da janela, com flores frescas que não traziam acalanto. Era o ato de rebeldia, o levante contra quem quer que fosse. Uma tábua de salvação, a qual se agarrar. Nela, havia um par de olhos sóbrios e amendoados, observando a manhã lá fora como um ponto de partida.

Se não fosse a batalha incessante de entendimento, de porquês, nunca teria levantado da cama. Há anos teria sucumbido à tentação e ficado enrolada nos lençóis, com o hálito parco de uísque na boca e linhas arroxeadas abaixo das pálpebras. Ainda sentia o cheiro das rosas enquanto passeava pelo corredor; das paredes pinceladas com um branco de leite azedo; da vela, queimando aos poucos, quando a última chama respingava na bandeja do altar pouco elaborado, onde havia uma fileira de bancos de madeira enferrujada, preenchida pelo silêncio de quem implorava pela vida de alguém querido e amado. Não era bom de sentir, nem de ouvir, o último suspiro escondido atrás da porta.

Hospitais sempre seriam horripilantes. Ainda pensava assim, todavia, ali era o seu atual local de trabalho. Tornou-se médica da unidade Clair Del'Lune, onde as estrelas não ousavam se apagar sem levar um sorriso. Onde pessoas morriam e outras precisavam sobreviver a outro dia de luta. Onde todos eram iguais — ninguém queria estar lá. Aqueles rostos desconhecidos tornaram-se os tons de cinza de sua rotina, o que refletia na carne o antagonismo entre a ânsia da valentia e o esgotamento das forças. Um tubo de oxigênio trouxe alguém de volta da quase passagem apenas de ida ao inferno, ou ao céu, quem poderia deduzir?

No final, a dor sangrava em quem ficava; em quem não sabia se iria amanhã ou, caso tivesse sorte, nos próximos cem anos. Rosalie indignava-se com a fraqueza humana. Vulneráveis e imobilizados pelo terror de uma bala de fogo, severamente apontada no peito. Como um objeto de três centímetros tinha a arrogância de derrotar um homem de noventa quilos? Logo ela, que duvidava que as águas do mar pudessem afogar um sonho. E, com os nervos à flor da pele, pulsava nas veias a ambição de mantê-los vivos.

Todos eles.

Todos aqueles que possuíam braços de ferro, quebrados como meros cacos de vidro pelo câncer ou outra bobagem irrelevante. Todos os sobreviventes daquele milênio, contando a única coisa que lhes pertencia, de fato: uma história.

Essa era a dela.

E por falar em velas...

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