Eu vou te equilibrar se você não conseguir olhar para o alto.
Dois
Chantal
Abro meus olhos devagar, acostumando-me com as luzes do ambiente e vejo minha avó deitada, hoje completa quatro meses que ela está nesse hospital. Levanto devagar da cadeira leito ao lado de sua cama e estico meu corpo cansado, alongando meu pescoço e braços. São mais de cem noites dormindo aqui, e meus músculos reclamam com cada vez mais frequência.
Desde que minha avó sofreu um derrame e foi internada, tenho esperança que ela vá acordar e voltar a ser a mesma pessoa de antes; alegre, disposta, sempre pronta para ajudar todos à sua volta. Desde que minha mãe foi embora e se casou novamente somos só eu e ela.
Nossa vizinhança a tem como um membro de suas famílias, adorada por todos. Essa é a vantagem de se viver numa cidade tão pequena, todos se conhecem e se ajudam. Passo todas as noites com ela, mas durante o dia sempre tem alguém para lhe fazer companhia, conversar — mesmo que ela não responda — e trazer-lhe flores.
Eu consigo ficar muito mais tranquila para trabalhar e cuidar da casa, sabendo que vovó nunca está só.
— Bom dia, vó! — Dou-lhe um beijo no rosto e afago seus finos e macios cabelos brancos.
As enfermeiras entram no quarto poucos segundos depois e eu as ajudo a dar banho e trocar a vovó antes de sair para o trabalho.
Trabalho esse que não posso perder, pois a pensão da minha avó e o meu salário são baixos e é necessário os dois para conseguir manter a casa e os cuidados extras com ela, nem tudo temos aqui no hospital. Mas com muita sorte e ajuda de Mirelle e Louise, consegui emprego no café da cidade. O salário mais as gorjetas ajudam a manter as contas em dia.
— Eu vou indo, cuidem bem da minha avó até eu voltar — digo para as enfermeiras, vestindo meu casaco e bolsa.
— Claro que sim, Chantal! Pode ficar tranquila.
Sorrio para elas e dou mais um beijo em minha avó, dessa vez partindo em seguida.
O dia está bem frio, aliás a maioria dos dias por aqui são frios, é difícil sair de casa sem estar com um bom casaco. Caminhar pelas ruas é desconfortável, mas necessário, o vento que sopra contra a minha pele é uma das coisas que mais detesto nesse lugar. Às vezes, penso quando vou conseguir sair dessa cidade e poder viver num lugar quente e ensolarado, poder progredir, estudar... não sei porque estou me enganando, minha avó ama essa cidade e eu nunca a deixaria aqui sozinha.
— Olá, Louise! — digo, cumprimentando-a, ao entrar no café.
O calor do lugar me aquece me dando um bom dia caloroso, tiro meu casaco e bolsa e os guardo, vestindo em seguida meu avental.
— Oi, Chantal. E sua avó?
— Na mesma — murmuro.
— Tenho certeza que ela vai acordar logo e voltará a fazer aqueles quitutes deliciosos nas reuniões do bairro.
Assinto, sorrindo. Porque eu acredito mesmo que minha vozinha sairá dessa o mais breve possível.
— Bom, antes de abrir o café, eu quero conversar com vocês sobre algumas mudanças que ocorrerão aqui. — Louise diz e Mirelle e eu nos aproximamos dela para ouvir.
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