Capítulo 5

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Chantal

Quando acordo, saio da cama ainda com o sono de meses atrasado e sigo para tomar um banho, numa tentativa de ter uma aparência um pouco melhor para enfrentar a noite no hospital. Mas a voz da minha mãe ainda martela dentro da minha cabeça.

Depois de me trocar e secar meu cabelo, desço para a cozinha e preparo um lanche rápido para comer.

Se minha avó visse como ando me alimentando já teria me dado uma bronca daquelas, são raras as vezes que tenho força e disposição para preparar uma refeição saudável. Sempre apressada, mastigo um pão com patê de atum e tomo um copo de leite.

Hora de seguir para o hospital.

Abro meu portão e levanto a cabeça para avistar a casa do meu vizinho e dessa vez o vejo atrás das vidraças da sala, ele olha de volta para mim e rapidamente desvio meu olhar.

Pouco mais de quarenta e cinco minutos de caminhada chego ao hospital e morada temporária da senhora Virginie. Ao entrar em seu quarto, a vejo indefesa sobre aquela cama e suspiro, esperando por um milagre que a faça acordar.

— Oi, vovó. Como foi o seu dia? — pergunto, dando-lhe um beijo na testa e depois afagando seus cabelos.

A única resposta que recebo são os bipes dos aparelhos ligados a ela. Guardo minha bolsa e casaco sobre a poltrona que logo será minha cama e começo a lhe contar como foi meu dia. Faço isso todas as vezes que venho até aqui, não canso de conversar e imaginar que existe chance dela me ouvir, já me deixa muito feliz.

Conto a ela como foi o dia na cafeteria incluindo o cliente esquisito que atendi, depois conto a ela que o mesmo cliente é nosso vizinho, que está morando na velha casa abandonada da Dona Flor, que ele não tem móveis, digo também que suas janelas não têm cortinas e por isso consigo ver onde e o que ele está fazendo. Conto tudo deixando apenas a ligação da minha mãe de fora.

Se minha avó estiver ouvindo, ela não está em condições de receber tal notícia. Caso um dia aquela mulher venha até aqui para visitá-la, então, ela mesma que diga como se sente para sua mãe, eu não serei esse mensageiro.

Depois de narrar meu dia para ela, peço as enfermeiras que me tragam água morna e toalhas limpas, todas as noites eu lhe dou um banho de toalha, as enfermeiras lhe dão banho no leito todas as manhãs, mas não é mais acolhedor do que o meu contato, por isso, todas as noites eu cuido de cada pedacinho dela.

Após terminar toda a rotina a madrugada já está sobre nós, o ritmo no hospital diminui, mas não para, são inúmeras as vezes que as enfermeiras precisam entrar no quarto para aplicar alguma medicação ou monitorar seus sinais vitais. Então, mesmo que eu durma um pouco, é sempre picado e por pouco tempo, mas faço tudo o que for necessário por minha avó, ela é e sempre foi minha única família.

Pouco depois das seis o sol nasce e a luz do dia invade o quarto e, mais uma rotina se inicia.

— Tchau, vozinha! Até à noite — digo e beijo o topo de sua cabeça.

— Chantal, por que não fica ao menos uns dois ou três dias em casa para dormir melhor? — Filomena me pede.

— Prefiro ficar com ela.

— O doutor Rômulo quer falar com você, todos nós estamos vendo como você está cansada, seu corpo também precisa de cuidado e descanso, meu bem.

Filomena é uma das enfermeiras mais antigas do hospital e conhece minha avó há muitos anos, eu sei que ela quer me ajudar, mas não me sinto confortável em deixar minha avó. No entanto, todos eles estão realmente preocupados comigo, então concordo por hora.

SEM CAMINHO (Amazon e Físico no daniassis.com.br)Onde histórias criam vida. Descubra agora