Capítulo 9

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Quando a dor é grande, o sofrimento é silencioso.


Pierre

            Assim que ouço a porta se fechar e tenho certeza que ela não está mais aqui, caio ao chão e aperto meu braço contra o corpo, a dor é insuportável, é tão forte quanto no dia do acidente, a diferença é que no dia do acidente meu cérebro ...

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Assim que ouço a porta se fechar e tenho certeza que ela não está mais aqui, caio ao chão e aperto meu braço contra o corpo, a dor é insuportável, é tão forte quanto no dia do acidente, a diferença é que no dia do acidente meu cérebro desligou para suportar a agonia, mas agora não acontece assim, ele não desliga, ele acende ainda mais, fazendo-me queimar por inteiro.

É intolerável. É martirizante.

É como se nesse momento todas aquelas ferragens estivessem atravessando minha carne do mesmo modo e levando embora com elas toda a minha sanidade.

Como cicatrizes tão antigas podem ainda doer com tamanha intensidade?

Por tantos anos essa dor ficou adormecida, por tantos anos eu pude viver quase que normalmente, bastava eu me esconder debaixo dos tecidos que carrego no corpo e fingir que debaixo deles tudo era normal.

Ninguém além dos meus tios sabem das marcas que carrego sob essas roupas, sempre tive o cuidado de não deixar nenhuma parte de pele à mostra. Até mesmo Olivier sabe que tenho cicatrizes piores que a que carrego no rosto, mas ele não tem ideia de como elas são.

Como pude erguer as mangas da blusa? Como pude ser tão descuidado?

Fico no chão esperando que a dor cesse, suprimo qualquer som que queira sair da minha boca, mesmo querendo gritar loucamente e implorar para a dor sumir, não faço. Não quero que Chantal ouça e encha a casa de médicos outra vez.

Aguento cada sensação sufocante, cada sensação de rasgada e punhalada em meus músculos, porque não me resta nada além de suportar. Tem sido assim por anos, desde o acidente essas crises vêm e vão sem explicação, nenhum dos médicos chegaram a uma conclusão do porquê sinto tanta dor. Dizem que a explicação está em minha mente, que ela é a responsável por produzi-las, que é só nela que haverá a resposta para essa tortura acabar. Mas, penso, como é que elas podem sumir se todos os dias vejo o monstro que sou em frente ao espelho?

E antes de me entregar totalmente a essa aflição, enquanto me arrasto de um lado ao outro, imploro em meus pensamentos que dessa vez seja mais rápido, que seja minimamente tolerável.

A primeira coisa que sinto ao mexer meus dedos é a poeira espalhada no chão, movimento-os devagar arrastando as unhas e concentro minha atenção naquelas partículas.

Não sinto mais a dor. Mas, falta-me, a coragem necessária para me colocar de pé. Inspiro e expiro o ar devagar, sentindo-o entrar e invadir meus pulmões e, por fim, abro os olhos fitando o teto. Não há nada para olhar, não há nada para pensar, deixo que o vazio domine meu corpo e mente, deixo que pensamentos vagos entrem e saiam em velocidade, sem me prender a nenhum deles. Preciso ficar vazio, tão vazio quanto um jarro de água no meio do deserto, é só assim que posso evitar que a dor volte, foi assim que aprendi a controlá-la durante todo esse tempo.

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