Os olhos do coração são como janelas abertas para o mundo.
Pierre
Nem mesmo o fundador prepara tortas tão boas?
Ela ficaria surpresa em saber quão boas são as tortas que preparo, penso enquanto carrego o pacote que ela me trouxe até a cozinha e o coloco sobre a mesa ainda empoeirada. Puxo um banco para me sentar, e sobre mesa rasgo o papel da embalagem e o transformo num prato, levando com as mãos os pedaços até minha boca. Na primeira mastigada constato que elas têm o mesmo sabor das que eu preparava logo que abri o primeiro café. Um sabor que com o tempo acabou se perdendo.
Talvez ela tenha razão, essas estão até melhores que a primeira que comi assim que cheguei à cidade. Aprecio cada pedaço e, à medida que mastigo, devagar, desvio meus olhos para a porta principal, foi inusitado vê-la tentando entrar aqui, já havia ouvido falar que as pessoas em cidades menores têm uma interação maior entre si, mas não imaginei que chegasse a esse ponto.
Termino de comer e continuo sentado sobre o banco velho de madeira que encontrei pelos cantos da casa, discorrendo sobre meus próximos passos. Eu não trouxe móvel nenhum para essa casa e penso em não trazer. Minha ideia inicial era vir até Lores conhecer o lugar e partir em algumas semanas, não quero assumir esse café, não vejo sentido em começar tudo de novo, prefiro deixar essa última loja sob a administração de Olivier. Estou cansado de tentar, cansado de verdade, tenho certeza que continuar sem caminho pelo mundo seja o melhor para minha vida.
Meu telefone toca e o nome de Olivier aparece no visor, às vezes parece que ele tem um sensor que o avisa quando penso nele.
— Oi.
— E aí, cara! Como está? Já foi até o café? Ontem recebi um e-mail da gerente pedindo para contratar mais um funcionário, você está sabendo disso? — Olivier diz, com a rapidez de sempre, jogando um assunto em cima do outro.
— Estou bem. Sim, já fui até o café e sim, elas precisam de mais alguém — respondo, apoiando meus cotovelos sobre a mesa.
— Essa loja não tem muito lucro, Pierre. Se contratar mais alguém, seus rendimentos que já estão baixos, vão diminuir ainda mais. Mesmo com você na loja é necessário contratar? Será que esse pessoal está trabalhando direito ou estão fazendo corpo mole?
Ouço o que ele diz e acabo por recordar das vezes em que recebi pedidos parecidos de outras lojas e tive o mesmo pensamento, imaginando se aquelas pessoas estavam dando o máximo de si nas horas em que devem trabalhar. Mas vendo como aquelas três mulheres dão duro o dia inteiro trabalhando por muito mais tempo do que deveriam, arrependo-me das vezes que pensei como Olivier.
— Elas trabalham além do que deveriam.
— E você?
— O que tem eu?
Ele pigarreia e continua a falar.
— Você já não é esse um a mais na loja?
— Não estou trabalhando, elas não sabem quem eu sou. — Olivier ofega do outro lado da linha.
Levanto do banco e abro a porta dos fundos que dá acesso a um quintal com uma relva alta e descuidada tomada por ervas daninhas. Sento-me no primeiro degrau do deck que ainda não foi engulido pelo mato.
— Você ainda não se apresentou?
— Não.
— Pretende?
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SEM CAMINHO (Amazon e Físico no daniassis.com.br)
ChickLitCompleto na Amazon e Livro físico no site www.daniassis.com.br Pierre sofre um grave acidente de carro que resulta em marcas profundas que ultrapassam as visíveis em sua pele. Desde então, coberto por cicatrizes, Pierre esconde seu corpo e, sobretud...