Mas que merda

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Ela estava correndo, sabia que era ela, podia ouvir a própria respiração a medida que sentia o peito arder. Também sentia os músculos queimarem, mas não pareciam seus músculos, eram mais longos, esguios e fortes.
Tinha certeza que era ela mesma, mas parecia outra pessoa. Não se lembrava de ser tão alta, nem tão forte.
Ela olhou a frente e viu de longe a pessoa que esperava encontrar, uma mulher, a distância não lhe permitia ver traços, apenas um vestido parecido ser de outra época. Um barulho de tiro soou no horizonte e ela viu a mulher cair. Seu peito se apertou demais, uma dor sufocante começou a consumi-la ao mesmo tempo que as lágrimas começaram a rolar em seu rosto. Mas ela não parou, continuou correndo e um segundo tiro foi ouvido.
A dor que lhe derrubou no chão não era nem de longe tão ruim quanto a que consumia seu coração, ela levantou a cabeça e viu um ponto em suas costelas, logo abaixo de seu peito sangrando, então apagou.
Dinah abriu os olhos, estava em sua cama, pôs a mão no ponto da costela onde o tiro a atingira no sonho. A pele estava intacta, não tinha sangue e ela levantou a cabeça pra olhar. Dormir apenas de cueca box e top tinha suas vantagens, olhou com atenção o lugar, só havia mesmo a marca de nascença ali.
Ela deixou sua cabeça cair no travesseiro e fechou os olhos. Mas que merda, que merda.
Sua mente viajou pra mulher do sonho, a que caíra, e pensou em Ally. Que merda!! Não tem porque pensar em Ally, aquela mulher não era Ally e o rapaz também não era Dinah, mesmo que ela tenha se visto sendo. Que merda.
Ela se levantou e desceu até a cozinha pra tomar um copo d'água. O sol já estava nascendo, não valia a pena voltar a dormir, então começou a fazer café.
Seus pensamentos viajavam para o sonho.
O que fora aquilo meu Deus? Quem eram aquelas pessoas?
Porque vira aquilo?
Tinham sido dois assassinatos!
-Cheechee... - A voz de Camila, seguida pelo empurrão a despertaram de seus devaneios. - Tá dormindo?
Camila pisava em um pano de prato para apagar o fogo, o cheiro de queimado e a fumaça estavam pela cozinha.
Camila abriu a janela, tomou a frente e passou o café, quando pronto se serviu de uma xícara e deu uma a Dinah.
-Vai me contar porque quase incendiou a casa agora? - Perguntou Camila.
-Desculpa Chancho, estava pensando no sonho que eu tive.
E Dinah contou a Camila o sonho, cada detalhe, e seus pensamentos após acordar, menos a parte que pensou em Ally.
-Isso é realmente estranho Dinah.
-Sabe o que é mais estranho Chancho? Foi bem no lugar da minha marca de nascença.
Camila ficou olhando Dinah e sentiu seus pelos se arrepiarem.
-Vamos mudar de assunto Cheechee, esse tá me dando arrepios.
-Tudo bem Chancho. Vou me arrumar pra ir pro trabalho.
-Espera Cheechee. Eu queria te fazer uma pergunta.
-Pode fazer.
-Você... Você não tem... Você não tem o telefone daquela deusa grega da Lauren?
Dinah encarou Camila e sorriu.
-Tenho. Mas porque quer o telefone dela?
-Ah Dinah... Eu... Meio que... Eu queria... Ai Dinah, quero ficar com ela.
Dinah caiu na gargalhada, Camila ficou olhando de cara séria até ela parar de rir.
-Acabou? - Diz Camila brava.
-Não fica brava Chancho.
-Você tá rindo de mim.
-Não Chancho. É que a branquela me pediu seu telefone ontem.
-Ela pediu?
-Pediu. Porque você não vai ao restaurante falar com ela? - Sugeriu Dinah. - O interesse parece mútuo.
-Vamos almoçar lá? - Pediu Camila. - Aí você também pode ver a Ally.
Dinah, que estava tomando um gole de café, se engasgou e Camila deu tapas em suas costas.
- Porque falou isso? Tá ficando louca Chancho?
-Como se eu não te conhecesse não é Dinah? - Diz Camila revirando os olhos. - Eu vi como você olha ela. E também hoje é quarta, podemos aproveitar e ver se ela já tem a resposta pra nossa oferta.
-Tá bom. Nós vamos. Mas eu não olho de jeito diferente pra Ally.
-Ai ai... - Diz Camila sorrindo. - Eu te conheço Cheechee... Eu te conheço.
Ela sai e vai tomar banho, enquanto Dinah fica na cozinha terminando seu café.

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