Essa merda de família

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Dinah tinha desligado o telefone e respirava fundo. Ally estava preocupada com essa súbita mudança.
-Amor o que foi? - Perguntou Ally preocupada.
-Nada. Eu preciso voltar pra Nova York.
-Mas se não foi nada porque precisa voltar?
-Porque preciso Allyson. - Dinah começava a jogar tudo na mala.
-Eu vou com você.
-Não. Você fica, tem o Harry. Nos vemos quando você voltar. - Dinah continuava andando pelo quarto e jogando as coisas na mala.
-Porque tá me tratando assim Dinah?
Ally encarou a namorada que parou e olhou pra ela.
-Eu... Só não quero que se envolva nisso. Por favor Ally.
-Nisso o que?
-Na parte bagunçada da minha vida.
-Acontece Dinah que a gente namora. E num namoro nos envolvemos em todas as partes da vida da outra. Principalmente a bagunçada.
-Não nesse caso. - Responde Dinah.
Ela pega a mala, dá um selinho em Ally e sai.

**

Dinah entrou naquele corredor fétido de hospital procurando por rostos conhecidos. Viu dois e logo se encaminhou pra eles.
Seth estava com oito anos agora, nascera no ano em que ela foi expulsa, estava lindo, apesar de parecer triste. Kamila por sua vez já era uma mulher, agora com dezenove anos era muitíssimo parecida com Dinah, mas também carregava um ar triste. Quando ergueu o rosto e viu Dinah andando até ela se levantou.
-O que tá fazendo aqui?
-Cadê a Gina? - Pergunta Dinah.
-Dinah, não devia tá aqui!!
-Cadê a Gina Kamila? - Dinah torna a perguntar.
-Papai e mamãe não vão gostar.
-Fodam-se seus pais Kamila. Cadê ela?
-Dinah!!
-Ká, essa é Dinah? - Pergunta Seth.
Dinah olha o garoto, ele nem se lembra dela.
-Sim Seth, eu sou a Dinah.
-Você me abraça? - Pediu o garoto.
Dinah se abaixou e abraçou o menino, que sussurrou no seu ouvido.
-Gina sempre me falou de você. Disse que você é legal. Sinto muito não ter te conhecido antes.
-Eu que sinto Seth.
-Gina tá no quarto vinte e sete.
Dinah se levanta e começa a andar pelo corredor, mas sente uma mão segurando seu braço.
Kamila tem um olhar de medo.
-Por favor. A gente não precisa de uma briga aqui Dinah.
-É minha irmãzinha que tá lá Kamila. Me solta agora.
Kamila solta e Dinah segue até a porta do quarto vinte e sete, para com a mão na maçaneta, olha os irmãos que estão mais distantes e abre a porta.
Gina está na cama, cheia de tubos, parece dormindo. Ao seu lado uma mulher bonita, mais baixa que Dinah, do outro um homem, mais alto, forte apesar da idade.
-Sabia que você ia aparecer. - Diz a mulher sem olhar pra filha. - Ela está dormindo. Volte depois.
-Quero saber como ela está.
-Tá mal. Precisa de cirurgia, mas é muito cara.
-Quanto?
-Não interessa. - Diz o homem cheio de raiva. - Vai embora.
-Essa merda de família. - Dinah diz com raiva também. - Ninguém vai fazer nada?
-São vinte e duas bocas pra alimentar garota. - Responde o homem. - Você se esqueceu?
-Não. Pelo contrário, eu...
Dinah se cala.
-Você deu dinheiro durante todos esses anos. Eu sei. - Diz o homem. - Kamila nunca me enganou.
-Quanto é a cirurgia? - Pergunta Dinah. - Eu pago.
-Vai esfregar na nossa cara que tem dinheiro né? - Diz a mulher. - A gente não precisa de você se gabando.
-Não estou me gabando. - Responde Dinah. - Só quero ajudar a Gina.
O silêncio se abate pelo quarto.
-Se ela não estivesse morrendo você nem estaria aqui. - Gordon reúne toda a força que tem. - Mas eu não posso perder outra filha.
Ele segura a mão de Gina e se esforça pra segurar as lágrimas.
-Você não me perdeu pai. - Diz Dinah.
-Não me chame de pai. - Gordon nem olha Dinah. - Eu vou aceitar sua ajuda, mas isso não muda nada. Nada, entendeu?
Ele sai sem olhar pra Dinah, que fica parada respirando fundo.
-Eu... - A mulher começa. - Eu concordo com meu marido. Mas se... Mas não sou tão ingrata. Pode ver meus filhos, se eles quiserem. Só avise quando e Micaela leva todos a algum lugar longe da casa. Pode conversar com o médico a respeito da cirurgia. Ob - obrigada por fazer isso pela Gina.
Ela também sai deixando Dinah sozinha com Gina no quarto. Se aproxima da cama da irmã e acaricia seu rosto, enquanto chora.
-Vai ficar tudo bem Gin...
Depois de conversar com o médico e pagar um alto valor pra irmã ser operada, sai pelo corredor procurando alguém da família, mas não vê ninguém. Pega um táxi e vai pra casa. Essa merda de família.

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